Cinema a céu aberto marca abertura do Conexões MSF no Recife

Cerca de 300 pessoas assistiram ao filme “Affliction – O Ebola na África Ocidental”, seguido de um debate sobre o trabalho de Médicos Sem Fronteiras e as atividades que a organização promove na capital pernambucana

Cinema a céu aberto marca abertura do Conexões MSF no Recife

Cinema a céu aberto, maracatu, cordel: a abertura oficial do Conexões Médicos Sem Fronteiras no Recife juntou danças, sons e poesia que são a cara da cidade para falar do tema da ajuda humanitária. Na noite de domingo, 28 de agosto, cerca de 300 pessoas assistiram ao ar livre, no Parque Dona Lindu, em frente à praia da Boa Viagem, ao filme “Affliction – O Ebola na África Ocidental”, que mostra as ações de MSF para salvar vidas e aliviar o sofrimento das vítimas da epidemia mais letal das últimas décadas.

Antes da projeção do filme, o grupo Cores Sonoras, da ONG recifense Cores do Amanhã, ofereceu ao público um espetáculo com músicas e danças regionais. Para a coordenadora do grupo, Jouse Barata, a realização do Conexões MSF é de extrema importância para a população do Recife conhecer o trabalho de Médicos Sem Fronteiras. “É uma honra fazer parte da abertura do evento e das demais atividades que acontecerão por aqui. Nos encontraremos agora no Diário de Arte, que também será uma ótima experiência”, disse Jouse.

Depois da apresentação do Cores Sonoras, os cordelistas Davi Teixeira e Meca Moreno subiram ao palco do Teatro Luiz Mendonça, aberto para a esplanada do parque, para declamar sua poesia dedicada à trajetória de MSF na prestação de cuidados de saúde a pessoas sem acesso a assistência médica, em regiões de conflito e áreas afetadas por epidemias e desastres. “MSF atende na Síria em mais uma guerra. Ano seguinte no Congo, a violência desterra. Mas a assistência é igual nos quatro cantos da terra”, diz uma das estrofes.

A sessão ao ar livre do filme “Affliction – O Ebola na África Ocidental”, projetado num telão que ocupava toda a extensão do palco do teatro, começou pouco depois das 19h. Sentado em cadeiras dispostas na esplanada do Parque Dona Lindu, o público acompanhou atento ao documentário do diretor belga Peter Casaer. Filmado em Serra Leoa, Guiné e Libéria, os três países mais afetados pelo Ebola, o documentário mostra a epidemia que deixou mais de 11 mil mortos por meio do testemunho das comunidades afetadas e de trabalhadores de saúde. Também relata como MSF foi a primeira organização a mobilizar profissionais e recursos para apoiar a luta dos três países contra a doença.

“Acabamos de assistir a uma realidade chocante, mas que seria muito pior se não fossem os esforços de MSF”, disse o veterano jornalista Francisco José – que todos no Recife conhecem como Chico José –, mediador do debate que se seguiu à exibição do filme. Participaram do debate a diretora de Comunicação de MSF-Brasil, Alessandra Vilas Boas, e a psicóloga de MSF Ionara Rabelo, que prestou assistência psicossocial às vítimas do Ebola na Libéria. “Vocês sentiram um pouco das emoções que nós sentimos lá. Nunca mais seremos os mesmos depois de vivenciar uma experiência dessas”, contou Ionara.

A psicóloga de MSF explicou como era seu trabalho, voltado para a sensibilização das comunidades sobre os riscos da doença e o apoio aos pacientes e aos sobreviventes – que muitas vezes tinham perdido pessoas queridas e, ao voltar para suas comunidades, sofriam o estigma de ainda ser vistos como fonte de contaminação pelo vírus. “O filme mostra uma médica comemorando a alta de cinco pacientes; parece pouco, mas havia dias em que perdíamos 40 pacientes”, disse Ionara. “Precisávamos trabalhar em equipe para resistir à pressão muito intensa de ver tanta gente morrendo ao nosso redor, e ao mesmo tempo atentar para os rígidos protocolos de segurança. Quando os pacientes eram liberados, nós os acompanhávamos até suas casas para mostrar à família que estavam, de fato, curados – era algo extremamente necessário devido ao estigma.”

Alessandra Vilas Boas explicou que o Ebola foi um enorme desafio para MSF, em termos de recursos financeiros e humanos: “Cerca de 1.300 profissionais trabalharam ao longo da epidemia. Foi a primeira vez na história de MSF que tivemos de mobilizar equipes de outros projetos para responder a essa crise. Soamos o alarme sobre a gravidade da epidemia seis meses antes de a comunidade internacional finalmente intervir.”

A diretora de Comunicação de MSF-Brasil lembrou que a epidemia que atingiu o Oeste da África entre 2014 e 2015 chegou ao fim, mas suas consequências, inclusive nos já deficientes sistemas de saúde locais, ainda perdurarão por muitos anos. “É importante ressaltar que o vírus ainda existe e que temos de atentar para as sequelas deixadas nos sobreviventes, do ponto de vista físico e psicológico. Por isso, MSF ainda mantém cinco clínicas que oferecem cuidados voltados à sua recuperação”, complementou a psicológica Ionara Rabelo. As duas representantes de MSF agradeceram a presença das centenas de recifenses: “Convidamos todos a se juntarem ao Conexões MSF nas próximas atividades que estarão espalhadas pela cidade”.

Entusiasta do trabalho de MSF há anos, o estudante de Biomedicina Thiago Fernandes era um dos espectadores do evento de abertura. “Foi incrível! O filme foi comovente, nós pudemos ver o cotidiano de todas as pessoas envolvidas na crise, e o debate foi enriquecedor, com profissionais que apresentaram diferentes pontos de vista”, disse.

O evento Conexões MSF continua no Recife até 11 de setembro, com uma série de atividades em 12 locais da cidade. Confira no site msf.org.br/conexoes a programação completa.

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