Colômbia: o impacto de conflitos armados e da COVID-19 na saúde mental da população

Episódios de violência fazem famílias abandonar suas casas e viver em condições precárias em abrigos temporários

Colômbia: o impacto de conflitos armados e da COVID-19 na saúde mental da população

Grupos armados assassinaram pelo menos oito pessoas em um assentamento rural no Norte de Santander, na Colômbia, em 18 de julho. O massacre, que se soma a outros ataques violentos ocorridos nos arredores de Cúcuta e Tibú, na fronteira com a Venezuela, causou deslocamentos de centenas de famílias e múltiplos efeitos psicológicos nas pessoas da região.
MSF deu apoio psicossocial às famílias afetadas, em instalações provisórias onde as pessoas buscaram refúgio. Elas fugiram de suas casas na área rural, onde os combates entre grupos armados e a violência indiscriminada contra a população civil continuam, mesmo em um contexto de uma pandemia crescente de COVID-19. A violência dos grupos armados tem causado medo, ansiedade e um profundo impacto psicológico nesta comunidade, que espera maior apoio do Estado neste momento de necessidade.

 “Já tinha ouvido falar dos confrontos. Mas eu nunca tinha visto nada parecido, tinha muita gente armada. Depois do massacre, decidimos fugir”, conta A* (nome preservado por medidas de segurança) sobre a noite de 18 de julho, quando teve que fugir de sua fazenda com seus familiares. Na escola Ambato, na zona rural de Tibú, um dos pontos de refúgio, ele conheceu muitos de seus vizinhos que também sentiam medo e buscaram proteção no local.

Essa escola não foi a única da região que naquela noite se tornou um abrigo temporário por causa dos conflitos nas zonas rurais de Tibú, Cúcuta e Puerto Santander. Dezenas de famílias deslocadas também chegaram a La Florida e Banco de Arena. Cerca de 800 pessoas ficaram concentradas nesses locais por 18 dias antes de começarem a retornar lentamente a seus locais de origem. Embora recebessem atendimento de instituições públicas e de cooperação internacional, para muitos deles era impossível comer, ou mesmo dormir, em meio a essa situação de ansiedade permanente.

A* relata que sua filha menor ficava muito assustada com ruídos e que em nenhum momento ela quis se separar dele, muito menos sair da escola. N*, outro dos deslocados em Ambato, afirma que o estresse causou uma forte dor de cabeça, que se tornou permanente depois que um homem de 23 anos foi morto muito perto de onde eles estavam refugiados. “Dormi e comi muito pouco, só pensei que queria ir para casa. Ficava muito difícil não saber quando poderíamos voltar”, explica.

Esses tipos de reações são comuns quando as pessoas são expostas a situações extremas em que suas vidas estão em risco. “Isso os fazia sentir que não havia um lugar seguro para eles e isso os impedia de descansar. Essa obrigação de vigilância permanente deixa uma série de marcas na saúde mental que, se não atendidas a tempo, podem gerar efeitos moderados e graves ao longo do tempo”, afirma o coordenador da equipe de psicólogos de MSF que participaram do atendimento às comunidades deslocadas.

Durante a intervenção, que consistiu em atividades em grupo, familiares e individuais, foi identificado que cerca de 30% dos deslocados foram vítimas diretas ou testemunharam ações violentas no passado. “Essas pessoas reviveram temores profundos que não haviam sido enfrentados na época e que de certa forma exacerbaram seus sintomas diante desses novos acontecimentos”, explica o especialista em saúde mental de MSF.

R*, um camponês de 57 anos de idade, resume a situação que vivem muitos moradores da região por causa da violência, que parece nunca diminuir: “Já me tiraram de outra área uma vez por causa da mesma situação de violência. E agora isso me acontece de novo aqui. Sabemos que a qualquer momento teremos que fugir novamente. É como se outra pandemia de violência tivesse se somado à pandemia do novo coronavírus e não tivéssemos cura para nenhuma das duas”.

Médicos Sem Fronteiras está na Colômbia desde 1985. Atualmente, está trabalhando em estreita colaboração com as autoridades de saúde do Norte de Santander, Arauca e Tumaco, a fim de apoiar o planejamento de respostas locais à pandemia de COVID-19. Para isso, as equipes de campo foram ampliadas e parte dos serviços reorientados. Da mesma forma, continuamos monitorando pacientes com doenças crônicas e mantendo atividades de saúde mental e saúde sexual e reprodutiva com a população venezuelana e colombiana sem acesso ao sistema de saúde.

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