Conheça os cinco locais onde MSF está atuando no Afeganistão

Em meio a um cenário de conflitos e violência, equipes de MSF continuam a fornecer cuidados médicos urgentemente necessários no país

Conheça os cinco locais onde MSF está atuando no Afeganistão

A violência no Afeganistão tem se intensificado desde maio, com conflitos dentro e em torno das capitais de província entre as forças afegãs e o Emirado Islâmico do Afeganistão (EIA, também conhecido como Talibã). Os confrontos estão impedindo o acesso a cuidados médicos, aumentando o número de pessoas mortas e feridas por balas e explosões, além de causar deslocamentos em massa. Nas áreas onde a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) atua – Lashkar Gah, Kandahar, Kunduz, Khost e ao redor de Herat – as consequências do conflito têm sido sentidas de forma aguda. O sistema de saúde afegão já estava subfinanciado e com poucos recursos, mas agora está à beira do colapso.

“A situação no país se deteriorou a ponto de, em algumas cidades como Lashkar Gah e Kunduz, as instalações médicas estarem na linha de frente”, explica Laura Bourjolly, coordenadora de assuntos humanitários de MSF no Afeganistão. “As equipes de MSF continuam a tratar os pacientes em todos os nossos projetos, sob circunstâncias terríveis, e nós adaptamos as nossas atividades para responder às necessidades médicas urgentes”.

Confira as atividades médicas que MSF continua realizando no Afeganistão:


 

1- Lashkar Gah

No dia 9 de agosto, um foguete explodiu no complexo do hospital Boost onde atuamos, muito próximo à sala de emergência. Felizmente, não houve vítimas. Em diversos momentos, a principal instalação de trauma foi sobrecarregada pelo número de feridos de guerra, mas recentemente muitas pessoas fugiram da cidade. A equipe médica chegou a precisar atuar no porão do hospital parar continuar tratando os pacientes em meio aos sons de bombardeios, tiros, aviões de guerra e helicópteros.

Os pacientes feridos pela guerra e os pacientes regulares de MSF têm enfrentado mais dificuldades para ter acesso à saúde, embora suas necessidades médicas permaneçam. As pessoas são forçadas a esperar que os conflitos terminem antes de tentar chegar ao hospital, o que resulta em influxos de pacientes com condições severas.

Em Lashkar Gah, vimos um grande número de pacientes chegando ao hospital de Boost apoiado por MSF com uma ampla gama de questões de saúde, como problemas respiratórios, problemas gastrointestinais, lesões relacionadas aos combates e também acidentes de trânsito. Por lá, Entre os dias 12 e 16 de agosto, a equipe MSF realizou 105 intervenções cirúrgicas e tratou 65 pessoas feridas pela guerra. Já no dia 17 de agosto, realizamos 815 consultas em nossa sala de emergência e estamos cuidando de 300 pacientes internados.

Foto: Tom Casey/MSF – Maio, 2021
 

2- Kunduz

Os conflitos ocorreram nos arredores da cidade de Kunduz até o dia 7 de agosto, quando o EIA obteve grandes ganhos territoriais e os confrontos se deslocaram para a própria cidade, com tiros, granadas, morteiros e ataques aéreos em áreas densamente povoadas. No dia 8 de agosto, a cidade caiu no controle do EIA, com exceção do aeroporto que, até o momento, permanece sob controle governamental. MSF continua a fornecer atendimento para traumas às pessoas feridas pelo conflito recente ou em outros acidentes.

Para atender às necessidades mais imediatas, no dia 6 de julho, MSF abriu uma clínica temporária para pessoas deslocadas, oferecendo consultas ambulatoriais para mulheres, crianças e feridos na área de Sar Dawra. A clínica atendia cerca de 300 pacientes por dia. Aqueles que precisavam de cuidados adicionais eram encaminhados ao hospital regional, apoiado por MSF com suprimentos para esterilização, cirurgia e tratamento de ferimentos. As equipes também forneceram água potável. Estas atividades foram repassadas a outra organização no início de agosto, para que a equipe pudesse se concentrar nas atividades de trauma.

No dia 26 de julho, o espaço de escritório de MSF foi transformado na Unidade de Trauma de Emergência de Kunduz, fornecendo atendimento cirúrgico de emergência a pessoas feridas pelos conflitos. Na segunda-feira,16 de agosto, transferimos todos os nossos pacientes para o novo centro de trauma na cidade, começando pelas mulheres e crianças. O centro conta com uma sala de emergência, um departamento de internação e um ambulatório, salas de cirurgia e uma unidade de terapia intensiva. O apoio ao Posto Avançado Distrital localizado em um distrito fora da cidade de Kunduz também continua, com um aumento de feridos nas últimas semanas. Entre 1 e 9 de agosto, tratamos 127 pacientes, incluindo 27 crianças com menos de 16 anos. Entre 9 e 16 de agosto, tratamos 75 pacientes em nossa sala de cirurgia, a maioria para tratamento de feridas extensas.

Foto: Stig Walravens/MSF – Julho 2021
 
3- Kandahar

Quando Kandahar viu um aumento nos combates, há algumas semanas, MSF adaptou suas atividades para responder ao contexto. O projeto de tuberculose resistente a medicamentos (DR-TB) feito em parceria com o Ministério de Saúde Pública foi mantido pelas equipes, com pacientes recebendo consultas remotas e estoques de medicamentos para evitar que cruzassem a linha de frente para ter acesso ao atendimento. A organização administra um centro de TB, que inclui um laboratório, uma clínica ambulatorial e 10 leitos para pacientes internados que sofrem de DR-TB. Agora que a situação está mais calma, os cuidados médicos para TB continuam. Entre 10 e 16 de agosto, o centro admitiu três novos pacientes e realizou 28 consultas ambulatoriais. MSF também oferece suporte ao Hospital Regional de Mirwais, ao Centro Provincial de TB e à Prisão de Sarpoza para diagnosticar tuberculose que pode ser tratada com medicamentos de primeira linha.

Quando os conflitos se intensificaram, a insegurança também deslocou grande parte da população e muitos buscaram abrigo dentro da cidade. MSF montou uma clínica temporária no acampamento de Haji, na cidade de Kandahar, onde viviam cinco mil pessoas. No local, a equipe ofereceu cuidados básicos de saúde primária para crianças menores de cinco anos. Os profissionais também realizaram a reabilitação de pontos de água e garantiram o acesso a chuveiros e banheiros. O acampamento agora está praticamente vazio, então MSF está planejando mudar sua clínica temporária para um local mais próximo do centro de tuberculose para continuar oferecendo cuidados de saúde à população infantil antes atendida. Até a conclusão das atividades em Haji, os principais problemas de saúde observados pelas equipes, entre os 179 pacientes atendidos, foram diarreia, infecções do trato respiratório superior, anemia e infecções oculares e cutâneas.

Foto: MSF / Laura Mc Andrew – Julho 2020
 
4- Herat

Em Herat, as equipes de MSF observaram uma ligeira redução no número de pacientes atendidos no Centro de Tratamento para COVID-19 (CTC) e no Centro de Alimentação Terapêutica para Pacientes Internados (ITFC, em inglês), apoiado pela organização desde dezembro de 2019. Nos dias 15 e 16 de agosto, houve 200 consultas no CTC e 44 pacientes admitidos em estado grave e crítico. Atualmente, 60 pacientes estão internados em nosso ITFC, todos com desnutrição aguda grave e necessitando de cuidados médicos Entre os dias 9 e 15 deste mês, 47 crianças com menos de cinco anos de idade foram admitidas neste centro, 20% com idade inferior a 6 meses.

MSF também administra uma clínica para deslocados internos e para a população local em Herat desde dezembro de 2018. A instalação, que fica em Kahdestan, onde são oferecidos atendimento ambulatorial, tratamento para doenças não transmissíveis e cuidados de saúde sexual e reprodutiva, registrou um aumento no número de pacientes, já que outras instalações médicas da área suspenderam suas atividades. De 9 a 16 de agosto, 555 pacientes receberam consultas no local, incluindo mulheres grávidas e crianças. Antes, quando a insegurança estava maior na região, a clínica em Kahdestan passou por uma grande redução no número de pessoas que chegavam para serem atendidas.

Foto: Waseem Muhammadi/MSF – Janeiro 2021
 
5- Khost

As atividades de MSF continuam na maternidade em Khost e nos oito centros de saúde integral (CHCs, em inglês) apoiados. A maternidade foi aberta por MSF em 2012 para fornecer cuidados maternos e neonatais seguros, de alta qualidade e gratuitos a mulheres e seus bebês no Sudeste do país. Os serviços hospitalares compreendem um departamento de internação de 60 leitos, uma unidade de parto com 10 leitos, uma unidade de recém-nascidos com 28 leitos – incluindo uma unidade de terapia intensiva neonatal de 10 leitos e uma área de cuidados maternos – duas salas de cirurgia, vacinação para recém-nascidos, planejamento familiar e promoção da saúde. Em julho, ocorreram 1.450 partos nesta instalação e mais de 870 nos CHCs apoiados por MSF.

A maternidade em Khost geralmente se concentra em gestações complicadas ou de risco, mas quando a instabilidade eclodiu, tornando o acesso a outras instalações mais difícil, ampliamos nossos critérios de admissão para garantir cuidados para todas as mães e seus filhos recém-nascidos. De 15 a 17 de agosto, admitimos 100 mulheres grávidas e assistimos 77 partos. Apesar disso, as equipes chegaram a identificar uma redução no número de pacientes.

Foto: Pau Miranda/MSF – Março 2017

 

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