Deportações em massa e políticas de asilo fracassadas deixam dezenas de milhares de migrantes presos e em perigo ao longo das cidades fronteiriças do México

Cerca de 40 mil migrantes enfrentam situações deploráveis em Tapachula, no sul do país, sem acesso a moradia, serviços básicos ou oportunidades de emprego.

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Deportações em massa e políticas de asilo fracassadas deixam dezenas de milhares de migrantes presos e em perigo ao longo das cidades fronteiriças do México

Cidade do México, 8 de setembro de 2021 – Dezenas de milhares de migrantes estão presos em condições extremamente vulneráveis ao norte e ao sul do México devido a políticas de asilo ineficazes e deportações em massa dos Estados Unidos, alerta a organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), denunciando as condições de superlotação e a falta de acesso a serviços médicos e sociais para migrantes no México.

“Essas pessoas se encontram com poucas alternativas de abrigo, que estão superlotados, ou vivendo nas ruas em condições sanitárias precárias e sob risco de infecção por COVID-19”, disse Christoph Jankhöfer, coordenador do projeto sobre migração de MSF no México. “Estamos preocupados com a ansiedade, a depressão e a desesperança da população na ausência de uma resposta das autoridades”.

Intervenção de emergência no sul

Na semana passada, MSF enviou uma equipe de emergência para Tapachula, no sul do México, onde aproximadamente 40 mil migrantes estão amontoados, sem acesso à moradia, serviços básicos ou oportunidades de emprego. Em 4 de setembro, 500 desses migrantes se juntaram a uma caravana ao norte para protestar contra suas condições e abandono.

Uma primeira equipe de avaliação de MSF, que acompanhou a caravana durante parte da jornada, tratou pacientes com desidratação, dores de cabeça, dores musculares e pés feridos. Eles também trataram um caso de hipoglicemia.

Os migrantes em Tapachula vêm de Honduras, Guatemala, El Salvador, Venezuela, Haiti e Cuba. Um número significativo de pessoas no local é formado por mulheres e crianças. Eles estão no limbo há meses. Muitos cruzaram recentemente a fronteira com a Guatemala, enquanto outros foram deportados pelos Estados Unidos para a fronteira norte do México e depois transferidos para o sul pelas autoridades mexicanas.

Outro limbo no Norte

Mais de 2 mil pessoas vivem em situação semelhante na cidade de Reynosa, no Norte do país, a cerca de 200 metros da ponte internacional que liga esta cidade mexicana à Hidalgo, no Texas, Estados Unidos. Os migrantes na área, a maioria deles de El Salvador, Honduras e Guatemala, estão expostos ao calor severo, sem acesso adequado a serviços básicos e correndo sério risco de segurança.
Na Plaza de la Republica de Reynosa, há apenas 18 banheiros públicos disponíveis no acampamento, aproximadamente um para cada 110 pessoas. Quem quiser tomar banho ou lavar a roupa deve pagar 10 pesos mexicanos (cerca de 2,60 reais) para usar os chuveiros e as pias, por no máximo 10 minutos. Água potável (às vezes escassa), roupas, alimentos, colchões, barracas, remédios e consultas médicas estão sendo fornecidos por organizações da sociedade civil.

“As únicas opções que eles têm são permanecer no México e tentar sobreviver em condições deploráveis ou tentar cruzar para os Estados Unidos novamente”, disse Anayeli Flores, especialista em assuntos humanitários de MSF em Reynosa.

“Nem o governo mexicano nem o governo dos Estados Unidos estão dando o apoio adequado, apesar de ser a política dos Estados Unidos e a cooperação do México com essas políticas que mantêm essas pessoas em condições de vulnerabilidade, violando seu direito de pedir asilo”.

Doenças associadas à precariedade e aos transtornos psicológicos

Em Reynosa, MSF oferece consultas de saúde primária e mental, bem como serviços de aconselhamento por meio de uma equipe de assistentes sociais. A organização também está apoiando o fornecimento de água potável ao acampamento. Entre março e agosto desse ano, MSF realizou 902 consultas. As equipes estão tratando principalmente de problemas respiratórios, digestivos e dermatológicos, em grande parte devido à severa superlotação e aos obstáculos à higiene adequada a que são submetidos. Tendo percorrido longas distâncias no decorrer da rota, os migrantes também apresentam dores nos pés e dores musculares generalizadas.

A maioria das pessoas que MSF atende deixou seu país de origem devido à violência e foi vítima de violência ao longo da rota de migração para o norte. Além desses traumas, os migrantes estão lidando com os impactos na saúde mental vindos da natureza precária de suas condições de vida, do status de migração e da separação de seus familiares. Isso pode levar a distúrbios emocionais como ansiedade, estresse, medo excessivo, preocupação constante e, em casos graves, distúrbios psicológicos.

Políticas criminalizam migrantes

A maioria dos migrantes em Reynosa, incluindo mulheres, gestantes, crianças, idosos, pessoas da comunidade LGBTQ, indígenas e não falantes de espanhol, foi expulsa dos Estados Unidos por meio do Título 42, uma política de ordem de saúde pública dos EUA que constitui uma evidente violação do direito internacional. A política usa a pandemia da COVID-19 como pretexto para bloquear pessoas que buscam proteção nos EUA e deportá-las para cidades fronteiriças no México, com a aprovação do governo mexicano. Essas políticas colocaram os migrantes em perigo direto e geraram episódios preocupantes de violência.

“A situação dos migrantes no México é insustentável”, disse Gemma Domínguez, coordenadora-geral de MSF no México. “Políticas que criminalizam a migração, a falta de uma resposta humanitária adequada e a violência e perseguição repetidas contra migrantes são inaceitáveis e colocam em risco a vida de milhares de homens, mulheres e crianças”.

MSF pede urgentemente às autoridades mexicanas e norte-americanas que tomem medidas para lidar com a grave situação humanitária das populações migrantes em todo o país, principalmente nas regiões fronteiriças. Os governos dos Estados Unidos e do México devem trabalhar juntos para promover o acesso à proteção na região, em vez de coordenarem a interdição.

 

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