Dia Mundial do Refugiado 2016: não deixe que este seja o #ÚltimoDiaDoRefugiado

Fotos20 Junho, 2016Tempo de leitura: 2 minutos

Eles vêm de zonas de conflito e de lugares onde são perseguidos por seus pensamentos, sua religião, sua orientação sexual, suas opiniões políticas. A possibilidade de fugir nunca antes fora tão ameaçada por decisões políticas que têm, como seu maior objetivo, o propósito de deixá-los o mais longe de vista possível.

O acordo entre União Europeia e Turquia e outros acordos similares ainda em discussão enviam a mensagem de que cuidar de pessoas que foram forçadas a deixar suas casas é opcional e que os países podem se eximir de suas responsabilidades de conceder asilo. Isso está tornando o mundo um lugar cada vez mais perigoso para aqueles que fogem da guerra e da perseguição: se todos os países adotarem a mesma lógica, em breve, poderá não haver mais lugar para onde correr. Homens, mulheres e crianças poderiam ser encurralados em zonas de guerra e em áreas inseguras, incapazes de fugir para buscar segurança e salvar suas vidas.

Ao minar o princípio de asilo, o acordo entre UE e Turquia rasga promessas feitas para proteger as pessoas afetadas pela Segunda Guerra Mundial, como estabelecido na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, em uma época em que a proteção se faz muito necessária. A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está oferecendo assistência e cuidados médicos a refugiados pelo mundo e se vê confrontada com a possibilidade real de que estamos testemunhando o fim do Estatuto dos Refugiados. Será que o conceito de “refugiado” deixará de existir? Será este o último Dia Mundial do Refugiado? Diante das guerras e dos conflitos acontecendo em todo o planeta, acreditamos que não deva ser. Essas e milhões de outras pessoas no mundo precisam do nosso apoio e assistência. Não deixe que este seja o #ÚltimoDiaDoRefugiado!

Veja animação de Médicos Sem Fronteiras sobre o Dia Mundial dos Refugiados.

“Meu marido, meus seis filhos e eu fugimos do Burundi em 2012 para o acampamento de Tabila, e depois fomos repatriados para o nosso país. Meu marido foi morto por causa da violência. Então, eu e meus filhos tivemos de fugir novamente do Burundi. Eles estavam agredindo e matando pessoas no meio da rua. Tive de deixar tudo para trás; viemos com as roupas do corpo. Chegamos a Nyarugusu em 2015. A vida aqui não é boa. Dormimos no chão. Quando chove, é um problema. O teto não é forte o suficiente e temos medo do que acontecerá. Não temos tudo o que precisamos, queremos nos sentir mais seguros. Mas não podemos voltar ao Burundi porque temos medo. Estou cansada de fugir do meu país. Meu sonho é ter um emprego que pague bem para que eu possa cuidar dos meus filhos. Eu quero viver em um lugar que seja estável. Mas, por enquanto, não há futuro para os meus filhos.”

“Eu e minha família viajamos em uma canoa durante quatro dias para atravessar o lago e chegar ao Chade. Eu tive meu filho há dois dias sob uma tenda do campo de refugiados, com a ajuda de outras mulheres refugiadas.” Ela deu à luz seu sétimo filho do mesmo modo. “Estou com medo do futuro, porque não temos alimentos há cinco dias. No momento, eu consigo lidar com essa situação, com a ajuda de outros refugiados. Mas, se não distribuírem mais alimentos no acampamento, nós voltaremos à Nigéria, mesmo se o Boko Haram ainda for uma ameaça.”

“Eu pensei muito antes de deixar o Afeganistão. Me formei na escola e queria ingressar na universidade, mas não tive a oportunidade. Eu não podia nem sair depois das 19h00 em Kunduz. Minha família ainda vive em Gortepe, a alguns quilômetros de Kunduz, e está bem no centro do conflito. Não posso falar com eles regularmente, só quando eles conseguem viajar para Kunduz. A situação é muito difícil ali. Quando eu morava em Gortepe, o Talibã me chamou para fazer parte do grupo e continuar minha educação em uma escola religiosa. A maioria das escolas normais estavam fechadas. Pouco antes de ir embora, eu tinha muito medo de ir à rua e de me deparar com explosões. Deixei minha casa há um ano. Passei seis meses no Irã e cinco meses na Turquia. A parte mais difícil da jornada foi durante a travessia de uma montanha entre o Irã e a Turquia. [continuação...]

[...continuação] Passamos 15 horas andando na neve, sem água e sem comida. Estava muito frio. Na Turquia, comecei a trabalhar para juntar dinheiro para a viagem. Chegamos à Grécia de barco, saindo de Izmir. Cruzamos o mar Egeu e chegamos a Mytilini, em Lesbos. Embora eu estivesse na Europa, ainda não estava livre para viajar pelos Balcãs e chegar à Alemanha; você ainda precisa lidar com traficantes. Tive de pagar mais de $8 mil de Cabul até a Alemanha. Quando cheguei à Alemanha, fiquei abrigado por um mês em um acampamento em Munique, mas eles me disseram que era difícil obter a documentação necessária para permanecer ali. Um amigo me aconselhou a vir para a Itália. No começo, passei algumas noites ao relento, dormindo nas ruas. Era muito frio. Eu não tinha nada para comer. Estou aqui para solicitar asilo. Não posso voltar ao Afeganistão, não me sinto seguro lá.”

“Nós sofremos muito aqui. Por exemplo, nesse acampamento, há de 12 mil a 13 mil pessoas. Meus filhos estão ficando doentes. Eu sou um pai, tenho dois filhos, minha família está comigo. Estamos aqui há nove dias, isso não é vergonhoso? Nós exigimos que eles abram essa fronteira. Nós temos filhos, famílias, mulheres, bebês. A coisa mais difícil é lidar com nossos filhos doentes. Tenho um filho de um ano, e outro de dois anos e meio que não podem lidar com esse clima, essa chuva, esse sol. Eles estão abrigados em tendas pequenas de verão, não de inverno. Meus filhos não entendem por que a fronteira está fechada. Meu filho sempre me pergunta: ‘Pai, quando iremos para casa? Pai, quando iremos para casa?’ Claro! Fugimos da guerra como refugiados, não como turistas, ou de férias. Se não estivesse acontecendo nada na Síria, não teríamos saído de lá.”

Rosa tem 54 anos e é de El Salvador. Ela está em Tenosique, em Tabasco, no México. Rosa fugiu de El Salvador com dois de seus netos, de 14 e 16 anos. Gangues locais, conhecidas como Maras, ameaçaram levar os meninos e recrutá-los. Dois de seus netos foram assassinados, enquanto outro foi recrutado por esses grupos.