Ex-refugiados ajudando novos refugiados no Iraque

Jamal e Jalal usam sua experiência pessoal como deslocados para ajudar refugiados sírios

Ex-refugiados ajudando novos refugiados no Iraque

Jamal e Jalal são da cidade de Sinuni, no distrito de Sinjar, que abriga a comunidade yazidi, no noroeste do Iraque. Os dois correspondem ao perfil dos profissionais de saúde pré-identificados por MSF no Iraque, que são capazes de responder a uma emergência dentro de 48 horas.

Quando o campo de Bardarash foi aberto em 16 de outubro de 2019 para acolher refugiados vindos do nordeste da Síria após a operação turca na região, Jalal e Jamal faziam parte da primeira equipe médica de MSF enviada ao local. Mais de 11 mil pessoas que chegaram da Síria agora vivem neste campo, que foi originalmente construído em 2013 para acomodar deslocados internos iraquianos que fugiam dos combates em Mossul, Iraque.

Os dois profissionais de saúde são responsáveis por realizar uma avaliação das necessidades de saúde mental com os refugiados no campo, enquanto um serviço de consulta de saúde mental está sendo estabelecido. Eles começaram oferecendo apoio psicológico inicial aos residentes do campo.

“Isso envolve viajar pelo acampamento, ir de barraca em barraca, conhecer famílias e identificar sintomas que podem estar relacionados a trauma psicológico”, explica Jamal. “Como ex-refugiados, sabemos o que eles podem estar sentindo nesses momentos pelos quais já passamos. Além do mais, a língua que os curdos sírios falam é próxima do idioma da nossa região, o que facilita o entendimento mútuo e a criação de um vínculo estreito. ”

Jamal e Jalal tiveram a dolorosa experiência de serem deslocados quando sua região foi controlada pelo grupo Estado Islâmico (EI) em 2014.

“Fugimos para as montanhas”, diz Jalal. “Então, com alguns de meus parentes, cruzamos a fronteira síria antes de seguir para Dohuk, no Curdistão iraquiano. A partir daí, pude continuar meu ensino a distância na Universidade de Mossul enquanto a cidade estava sob ocupação. ”

Terminando como segundo melhor aluno em sua classe no fim de seus estudos, Jalal teve que fazer malabarismos com uma agenda cheia.

“Das 8 às 14 horas, eu estava na aula. Depois, eu ia aos campos de refugiados para ensinar inglês a crianças que não podiam frequentar a escola”, diz Jalal. “Passei meus fins de semana e férias nos acampamentos como voluntário. Conduzi treinamento de primeiros socorros e continuei minhas aulas de inglês lá.”

Em 2018, enquanto estava em Sinuni, no distrito de Sinjar, para renovar sua carteira de identidade, Jalal soube da abertura de um projeto de MSF sobre saúde mental e ingressou na equipe médica. Jalal e Jamal estão agora trabalhando como tradutor médico e agente comunitário de saúde, respectivamente, para responder ao trauma psicológico de pessoas abaladas pelo tempo passado sob o controle do grupo EI.

No calor do acampamento localizado em uma grande planície ensolarada, as centenas de tendas montadas em lajes de concreto abrigam famílias forçadas a fugir do conflito no nordeste da Síria.

“Estamos aqui para dizer a eles que eles têm um futuro aqui e em outros lugares, que organizações como a nossa os ajudarão em diferentes níveis e que estamos aqui para ouvi-los”, diz Jamal. “Aproveitamos a oportunidade para mostrar-lhes alguns exercícios de respiração e auto-massagem para aliviar momentos de estresse”.

No fim de cada entrevista as famílias recebem um pequeno panfleto que explica os sintomas do sofrimento psicológico para que as pessoas possam identificá-lo e procurar ajuda médica, se necessário.

“As pessoas têm tantas perguntas para nos fazer quanto nós temos, e isso é normal”, diz Jalal, sorrindo. “Mesmo que não tenhamos todas as respostas, o importante para eles é poder compartilhar suas histórias, medos e dúvidas. Isso nos ajuda a identificar pessoas que podem precisar de mais suporte. ”

Alguns dias depois, uma nova equipe veio para ajudar Jamal e Jalal, que agora podem retornar a Sinuni e retomar suas atividades regulares. Eles voltarão se necessário. Quanto à questão do cansaço e da alta carga de trabalho, Jalal descarta sistematicamente: “Não me canso de ajudar as pessoas”.
 

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