Fórum da ONU sobre alimentação em Madri pode perder foco

MSF e Ação Contra a Fome pedem que medidas concretas sejam implementadas para combater desnutrição infantil

Se o Fórum das Nações Unidas para a Alimentação não resultar na implementação concreta de um plano contra a desnutrição, 55 milhões de crianças com menos de cinco anos vão continuar a enfrentar a desnutrição severa, alertou nesta sexta-feira as organizaçãoes Médicos Sem Fronteiras (MSF) e Ação Contra a Fome Internacional (ACF).

Enquanto os preços globais dos alimentos caíram para os níveis de 2006, a desnutrição infantil – causada pela falta de alimentos ricos em nutrientes, vitaminas e minerais – continua a ceifar vidas de quase dez mil crianças por dia.

Hoje, a forma mais mortal da desnutrição severa pode ser tratada de maneira eficaz, mas apenas uma entre dez crianças afetadas recebe o tratamento recomendado pela ONU com alimentos terapêuticos ricos em nutrientes e prontos para o uso (RUF, na sigla em inglês). Como um primeiro passo, as duas ONGs pedem que o Fórum garanta que todas as crianças gravemente desnutridas sejam tratadas até 2012.

"Se Ban Ki-moon e José Luis Zapatero querem que esse Fórum seja mais do que apenas um local de discussões, eles devem insistir para que haja mudanças na ajuda alimentar e que um novo mecanismo seja criado para dar apoio aos 50 países mais afetados pela desnutrição, de modo a combatê-la", defende Stéphane Doyon, chefe da equipe de Nutrição de MSF.

Apesar dos avanços na Ciência Nutricional, a ajuda alimentar nacional e internacional em sua maioria ainda consiste em pouco mais do que cereais com mingau, de farinha ou de arroz, o que equivale a pão com água. A combinação não atende o mínimo nutricional necessário para crianças com entre seis meses e três anos de idade, que estão em um estágio crítico de desenvolvimento.

“Governos nacionais, doadores e a Organização Mundial de Saúde (OMS) precisam urgentemente por para funcionar novas políticas e financiamentos para implentar novos padrões de ajuda alimentar", afirma Olivier Longué, diretor da ACF na Espanha. "Não podemos continuar a oferecer ajuda alimentar que não daríamos a nossos próprios filhos".

Alimentos ricos em nutrientes para crianças vão fazer com que os programas de nutrição fiquem mais caros. MSF e a ACF estimam que três bilhões de euros são necessários imediatamente para combater, de maneira adequada, a desnutrição infantil em todo o mundo.

“Esse dinheiro será gasto corretamente. Se oferecermos a alimentação apropriada, nós podemos evitar que milhões de crianças venham a sofrer de desnutrição severa aguda", defende Olivier Longué. “

Sem um compromisso concreto de combater a desnutrição, as Metas de Desenvolvimento do Milênio 1 e 4, cujo objetivo é reduzir o número de pessoas afetadas pela fome e a mortalidade infantil, nunca serão alcançados. Combater a fome e a desnutrição são prioridades indiscutíveis para a Humanidade. A nutrição correta é um direto básico para a dignidade humana".

Apesar de as Nações Unidas terem criado um Plano de Ação Global em julho, ainda não existem mecanismos para dar apoio aos países que estão implementando programas de nutrição.

“Se um país quer combater HIV/Aids ou malária, eles sabem onde procurar apoio técnico e financeiro", conta Stéphane Doyon. “Para combater a desnutrição infantil, não existe um apoio deste tipo hoje".

Durante os anos de 2006 e 2007, MSF e ACF trataram mais de 380 mil crianças desnutridas.

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