Honduras: MSF lança resposta de emergência para combater epidemia de dengue e chikungunya

Médica da Unidade Médica Brasileira da organização acompanhou capacitação de profissionais para melhorar serviços médicos locais

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Honduras está vivendo a sua terceira epidemia de dengue em cinco anos. Desta vez, a doença divide espaço com a chikungunya, uma enfermidade transmitida pelo mesmo mosquito, e que, até então, era inédita no país. O atual surto já registrou 71.835 casos de chikungunya e 35.457 de dengue, com alta concentração de pacientes na capital, Tegucigalpa. Ali, equipes da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançaram uma resposta de emergência por meio do apoio ao Hospital Escuela de la Universidad Nacional Autonóma de Honduras (HE-UNAH), o maior do país, com mais de 1.200 leitos. A médica de referência em doenças emergentes de MSF, Lucia Brum, acompanhou a capacitação de profissionais locais e de MSF, a fim de melhorar a qualidade da atenção médica na região.

O treinamento foi dividido em três dias de atividades durante a última semana de julho, e beneficiou 590 profissionais de saúde –médicos, enfermeiros e laboratoristas. Seu objetivo foi oferecer as ferramentas técnicas adequadas para melhorar o atendimento dos pacientes, priorizando os casos de acordo com sua gravidade, assim como o diagnóstico diferencial e o tratamento de ambas enfermidades. Outro ponto importante foi o aprimoramento dos conhecimentos acerca da abordagem integral tanto no controle vetorial (redução ou eliminação do mosquito transmissor) como no manejo dos casos. Apesar de transmitidas pelo mesmo vetor – mosquito do gênero Aedes – e de compartilharem alguns dos sintomas, as dores articulares causadas pela chikungunya são mais intensas, podendo causar incapacidade física em até 15% dos infectados em um período de três anos, ainda que a dengue cause mais mortes.

Segundo Lucia Brum, os dados sobre a chikungunya eram mais desconhecidos, pois essa foi a primeira epidemia registrada em Honduras. “A introdução recente – no fim de 2014 – do vírus chikungunya no país contribui para a explosão do número de casos, pois praticamente 100% da população está suscetível a infecção, o que pode contribuir para o colapso do sistema de saúde, porque, dificilmente, no que diz respeito a metodologias de controle vetorial efetivas, nós vemos um impacto significativo a ponto de diminuir a transmissão”, explica.

Além do treinamento, MSF também ampliou a capacidade do HE-UNAH por meio da contratação de mais profissionais e da construção de uma sala com capacidade de 30 leitos de internação, possibilitando o alívio da sala de emergência pediátrica do hospital e contribuindo para um manejo mais adequado dos casos de dengue e de chikungunya em menores de 18 anos. “Havia um grande problema na etapa de triagem no hospital. A área de atendimento de emergência estava sempre lotada, porque os profissionais locais não davam conta da enorme demanda”, diz a médica. “Isso mudou drasticamente após a atuação de MSF, tanto por conta do treinamento oferecido quanto pela reorganização do fluxo de pacientes entre as salas de cuidados intermediários, intensivos e de observação do hospital.”

Essa é a terceira vez que a Unidade Médica Brasileira (Bramu) – da qual Lucia Brum faz parte – desenvolve atividades de apoio técnico em Honduras para conter uma epidemia dengue e a primeira vez em resposta à chikungunya. Em 2010, o país registrou a pior epidemia de dengue de sua história, registrando 66.814 casos, e em 2013, outro surto atingiu diversas regiões, somando 39.271 casos. “Infelizmente, a situação parece piorar a cada ano”, pontua ela. A instabilidade política, econômica e social vivida pelo país – um dos mais violentos do mundo, segundo o Relatório Mundial sobre a Prevenção da Violência 2014, produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime – contribui enormemente para o agravamento da situação de saúde em Honduras.

De acordo com Lucia Brum, a atuação de MSF teve um impacto muito positivo na formação dos profissionais. “Por meio da aplicação de um pré-teste, observamos uma taxa de 40% de reprovação dos profissionais. Ao fim da capacitação, houve apenas 5% de reprovação, o que denota um incremento qualitativo daqueles que participaram da formação”, diz. Além disso, as melhorias na estrutura do hospital também contribuíram para o alívio da sala de emergência pediátrica, possibilitando maior qualidade no atendimento global de casos tanto da dengue como de chikungunya. “É fundamental conhecer integralmente os aspectos preventivos, clínicos e epidemiológicos das doenças emergentes para, assim, desenvolver atividades de impacto durante uma epidemia, situação em que trabalhamos fundamentalmente para evitar mortes”, finaliza a médica.

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