Líbia: tiroteio em centro de detenção em Trípoli deixa um morto e dois feridos

As condições de vida são deploráveis e perigosas para as pessoas que são mantidas contra sua vontade em centros de detenção no país

Líbia: tiroteio em centro de detenção em Trípoli deixa um morto e dois feridos

Uma pessoa foi morta e duas ficaram feridas nas primeiras horas do dia 8 de abril, após um tiroteio em um centro de detenção em Trípoli, na Líbia, onde refugiados e migrantes são mantidos. Dois adolescentes de 17 e 18 anos baleados foram transferidos para receber atendimento médico de urgência por uma equipe da organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). As tensões estavam aumentando no superlotado Centro de Coleta e Retorno de Al-Mabani na noite do incidente, de acordo com relatórios recebidos por MSF, culminando em tiros disparados indiscriminadamente contra as celas onde estavam os detidos.

“Este tiroteio demonstra os graves riscos que as pessoas enfrentam enquanto estão presas nesses centros de detenção por um período indefinido”, disse Ellen van der Velden, coordenadora operacional de MSF para a Líbia. “Este último ato de violência é uma clara corroboração de que os centros de detenção são lugares perigosos para as pessoas.”

Nas últimas semanas, equipes médicas de MSF testemunharam tensões crescentes dentro de centros de detenção na Líbia, onde refugiados e migrantes – incluindo mulheres, crianças e menores desacompanhados – são mantidos contra sua vontade em condições deploráveis. Os centros estão cada vez mais superlotados desde o início de fevereiro, quando houve um aumento nas interceptações ativas de migrantes e refugiados que fogem da Líbia pelo mar por parte da Guarda Costeira da Líbia, financiada pela UE. Isso contribuiu para um aumento incontrolável do número de pessoas mantidas em centros de detenção em Trípoli – e em Al-Mabani, em particular – resultando em uma rápida deterioração das condições de vida.

Na primeira semana de fevereiro, o número de pessoas detidas em Al-Mabani aumentou de 300 para mil em poucos dias. O centro abriga atualmente cerca de 1.500 pessoas.

Como em muitos outros centros de detenção, as pessoas detidas em Al-Mabani têm iluminação e ventilação naturais mínimas, comida e água potável insuficientes e falta de instalações de higiene. A superlotação severa – com até três pessoas por metro quadrado – muitas vezes não deixa espaço nem para se deitar. Doenças infecciosas como sarna e tuberculose são comuns. O distanciamento físico em relação à COVID-19 é impossível.

Esta não é a primeira vez que refugiados e migrantes detidos são expostos à violência. Tiroteios e mortes foram relatados nos últimos meses, enquanto equipes de MSF testemunharam o uso de força física por guardas. Somente em fevereiro, médicos de MSF trataram 36 detidos com fraturas, traumas contundentes, escoriações, lesões oculares, ferimentos à bala e fraqueza nos membros em vários centros de detenção; 15 desses pacientes foram encaminhados por MSF para hospitais para tratamento adicional. Os ferimentos eram recentes, indicando que sofreram enquanto estavam dentro dos centros de detenção.
 
As autoridades de Al-Mabani teriam aberto uma investigação sobre o incidente. MSF pede às autoridades que compartilhem o resultado dessa investigação com a comunidade humanitária e responsabilizem os autores.

À luz deste evento, MSF reitera seus apelos pelo fim da prática de detenção arbitrária na Líbia, para a libertação imediata de todos os detidos e para o fornecimento de abrigos seguros e acesso a serviços básicos para refugiados e migrantes.

MSF trabalha em centros de detenção na Líbia desde 2016, fornecendo cuidados de saúde gerais e psicológicos e encaminhamentos de emergência para hospitais, para aliviar o sofrimento de refugiados, solicitantes de asilo e migrantes que são detidos arbitrariamente e para expor as condições desumanas de detenção.

 

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