México: mais um passo no combate à doença de Chagas

Médica brasileira participa de primeiro evento nacional promovido no país e fala sobre a necessidade de capacitação local

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A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), em colaboração com o Centro Nacional de Programas Preventivos y Control de Enfermedades (CENAPRECE), realizou, no dia 16 de julho, um importante treinamento em diagnóstico e tratamento específico para a doença de Chagas na Cidade do México. Mais de 180 profissionais de saúde, entre médicos, laboratoristas e representantes da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e do programa estatal de Chagas de 21 Estados mexicanos, estiveram presentes na ocasião.

Pela primeira vez, o governo do México desenvolveu um programa federal de ação específica para a prevenção e o controle da doença de Chagas, e essa foi a primeira capacitação nacional do programa. Lucia Brum, médica brasileira e consultora em doenças emergentes de MSF, não esconde o entusiasmo: “Estar aqui presente em um evento dessas proporções, ministrando um treinamento para referentes técnicos do programa nacional e contribuindo para a elaboração de um protocolo de manejo clínico de Chagas, é um importante avanço no combate à doença no país. Depois de dois anos trabalhando em parceria com o governo, começamos a colher os frutos de nossa influência na área técnica”. O objetivo da formação foi sensibilizar e capacitar os profissionais sobre a necessidade de diagnosticar e oferecer o tratamento específico para a doença na atenção primária de saúde, de forma a ampliar o acesso das pessoas afetadas. “A atividade conduzida pela Dra. Lucia Brum foi muito completa, exposta de maneira clara e prática, denotando um grande domínio do tema”, conta o Dr. Héctor Eduardo Ramírez Ortiz, encarregado do programa de Chagas no estado de Veracruz.

Em continuidade às atividades de apoio técnico e supervisão médica de programas e projetos de MSF desenvolvidas pela Unidade Médica Brasileira (BRAMU), Lucia Brum visitou pela terceira vez o município de Pochutla, estado de Oaxaca. Um dos objetivos da visita foi conhecer os novos centros de saúde incorporados pelo recente convênio assinado entre MSF e o Instituto Mexicano de Seguro Social (IMSS), que possibilitarão o acesso de populações vulneráveis que vivem em zonas rurais a diagnóstico e tratamento. Outra importante atividade desenvolvida durante a visita foi o apoio para a criação de um sistema de atenção médica para os pacientes com complicações crônicas graves, cuja previsão é estar disponível em dezembro deste ano.

Por meio de uma teleconferência realizada com centros de saúde e hospitais que trabalham com a telemedicina, mais um treinamento pôde ser ministrado no Estado de Oaxaca, onde mais de 300 unidades de saúde foram beneficiadas com informações sobre diagnóstico e tratamento da doença de Chagas: “Ainda choca a falta de conhecimento dos profissionais de saúde, mas o entusiasmo e a vontade de aprender dessas pessoas quando têm a oportunidade de serem treinadas são alentadores”, conta Lucia. Ela diz também que o tratamento para as complicações crônicas relacionadas com a doença de Chagas é complexo e demanda capacitação específica. Para isso, e para investir no desenvolvimento de capacidade local, MSF vai doar um ecocardiograma e facilitar o treinamento técnico intensivo em cardiopatia chagásica de uma profissional local em colaboração com o Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz, renomada instituição brasileira de investigação em saúde pública.

Durante os próximos meses, MSF vai auxiliar na estruturação de um sistema de referência e contra-referência no estado de Oaxaca, para garantir que os pacientes possam ter acesso a um diagnóstico adequado e recebam tratamento integral de acordo as suas necessidades. “O programa de Chagas proposto por MSF para o estado de Oaxaca é visionário e muito completo. É um exemplo a ser seguido pelos demais estados do nosso país”, avalia o Dr. Héctor Eduardo Ramírez Ortiz. 

MSF desenvolve projetos de diagnóstico e tratamento na atenção primária de saúde para pacientes com a doença de Chagas desde 1999, tendo atuado em diversos países, como Honduras, Nicarágua, Guatemala, Brasil, Colômbia, Paraguai, Itália e, atualmente, México e Bolívia. Nesses mais de 16 anos de atividades médicas em Chagas, MSF deu oportunidade de diagnóstico a mais de 114 mil pessoas, das quais mais de 11 mil apresentaram a infecção e mais de 8 mil completaram o tratamento satisfatoriamente. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2015, aproximadamente 6 milhões de pessoas estão infectadas no mundo, mas 99% delas não tiveram aceso a diagnóstico e tratamento devido ao ciclo de negligência que cerca a doença.

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