México: redes sociais facilitam o acesso de vítimas de violência sexual a serviços médicos

Em 2017, a campanha SIVIS de MSF tratou 190 sobreviventes de violência sexual na região

Redes sociais facilitam o acesso de vítimas de violência sexual a serviços médicos e psicológicos em Acapulco

Em Acapulco, México, Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou a campanha SIVIS (Serviço Médico Integral contra a Violência Sexual) para promover cuidados com sobreviventes de violência sexual em Acapulco. "SIVIS: é possível curar" é uma campanha realizada no Facebook e em outras mídias sociais, que encoraja as vítimas a procurarem ajuda, a fim de receber tratamento médico adequado. A campanha utilizou pela primeira vez as redes sociais para facilitar o acesso aos serviços, confidenciais e gratuitos, na cidade.

A campanha, lançada em novembro com a colaboração do Ministério da Saúde, consiste em mensagens publicitárias tradicionais exibidas em murais e cartazes nos pontos estratégicos da cidade, bem como nos ônibus e outdoors. Ela inclui anúncios de rádio, mensagens de texto via celular e plataformas de redes sociais como o Facebook – e, claro, no site para aumentar o quanto for possível o acesso das pessoas afetadas à assistência médica e psicológica. O site e o Facebook são www.sivis.mx e https://www.facebook.com/sivis.mx/.

"O objetivo desta campanha é que as vítimas de agressões sexuais saibam que, sim, a cura é possível e este é um serviço gratuito e confidencial que previne doenças e ajuda no alívio físico e emocional. Vocês não estão sozinhos, a cura é possível e nós estamos aqui para ajudar", diz Noelia Monge, coordenadora do projeto de MSF em Acapulco.

Um dos grupos que mais preocupa a organização médica são os mais jovens e, por isso, é dada a ênfase no uso de redes sociais mais populares como o Facebook.  "A informação é indispensável. Especialmente jovens, meninos e meninas que foram abusados sexualmente sentem muitas vezes desconfiança nos adultos. Nas instalações preparadas por MSF, eles aprendem a expressar seus sentimentos, compartilhar seus medos e dúvidas, e desenvolver a capacidade de pedir ajuda", afirma o coordenador.

Desde 2016, juntamente com o Ministério da Saúde, MSF fornece suporte e assistência médica e psicológica às vítimas de violência sexual em duas unidades hospitalares em Acapulco. Em 2017, através das autoridades municipais, as equipes de MSF trataram 190 casos de agressão sexual. Desses, 52% eram menores.

Paz*, uma jovem de 14 anos que vive com seu pai na cidade e engravidou depois de um estupro, largou a escola e se automutilava. Pouco depois, ela buscou os serviços de MSF: "Me ajudaram com a gravidez. Eles estavam comigo a todo momento e isso foi um grande apoio, tanto para mim quanto para o meu pai que não sabia o que fazer durante o parto. Eu também voltei a estudar. Sinto-me diferente e, ainda que haja pessoas que me deixam desconfortável, as que me ajudam estão em maior número. Estou bem. Estou feliz porque vou continuar estudando e consegui uma bolsa de estudos."

Além da atenção direta e tratamento integral (apoio médico, psicológico e social) para as vítimas, MSF fornece treinamento, palestras e workshops que visam sensibilizar os profissionais de saúde e o público em geral sobre os riscos físicos e psicológicos envolvidos em não receber ajuda imediata. Em muitos casos, esses pacientes são estigmatizados ou enfrentam situações de revitimização quando escolhem relatar ou ir aos centros de saúde. A campanha SIVIS visa diminuir a falta de conhecimento sobre os serviços disponíveis em Acapulco para enfrentar os efeitos da violência sexual.
"A colaboração de MSF tem reforçado os cuidados de saúde em casos de violência sexual, já que muitas vezes as vítimas não queriam ser cuidadas pela equipe médica de hospitais que negaram ajuda por medo ou desconhecimento do protocolo de atenção", acrescenta a psicóloga Mirta Abarca Olivero, responsável pelo programa contra violência em Acapulco da Secretaria de Saúde do estado de Guerrero. Ela aponta que "a campanha SIVIS é muito importante para divulgar que existe um lugar onde a população pode ir onde a assistência médica e psicológica é garantida."

"A violência sexual deve ser considerada uma emergência médica", enfatiza Noelia Monge. "A ajuda dentro das primeiras 72 horas é crucial para uma vítima de estupro. Pode-se reduzir o risco de infecção por HIV e prevenir outras infecções sexualmente transmissíveis, tétano, hepatite B e C e gravidez indesejada nos três primeiros dias. Por isso, quanto mais mídias usarmos, melhor será a luta contra essa emergência em Acapulco, que infelizmente, é corriqueira."

*Nome alterado

Em Acapulco, MSF ofereceu 2.304 consultas psicológicas para 1.224 pessoas, 645 sessões em grupo e 579 individuais em 2017. Foram formados 84 grupos comunitários e realizadas 54 atividades como oficinas de psicoeducação, gestão de emoções, sobre violência sexual e sobre o impacto da violência nas comunidades. Mais de 10 mil pessoas participaram dessas atividades.
 

Partilhar