A Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos.
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Cerca de 30 000 pessoas migrantes concentram-se diariamente em Tapachula, cidade do estado mexicano de Chiapas. São uma “população flutuante”, dado que há milhares de pessoas a ingressar todos os dias no Sul do México por este ponto de entrada e muitas outras a partir dali rumo à fronteira Norte do país
As pessoas migrantes não são difíceis de identificar, reunindo-se em praças e parques, em casas de câmbio ou na Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (COMAR) para obterem autorizações de circulação e continuarem a jornada para norte.
O psicólogo da Médicos Sem Fronteiras (MSF) Miguel Gil, que trabalha com pessoas migrantes há dez anos, descreve a situação na cidade de Tapachula e os desafios com que as equipas da organização médico-humanitária se deparam.
Inicialmente, a nossa equipa de saúde mental visitava abrigos e outros locais para identificar sobreviventes de violência extrema e de tortura que pudessem precisar do tratamento que providenciamos no centro da MSF na Cidade do México. Ao longo do último ano expandimos as nossas atividades e, para além daqueles cuidados, também providenciamos apoio psicológico a migrantes e cuidados para sobreviventes de violência sexual. Até à data já prestámos assistência a 173 pessoas. A nossa equipa é constituída por seis profissionais de psicologia, dois de medicina, dois de assistência social, e ainda uma pessoa dedicada a envolvimento comunitário psicossocial, uma na supervisão das atividades de saúde mental e uma responsável de equipa.
Este município não tem capacidade suficiente para providenciar apoio a esta população. Não existem espaços nem serviços básicos dedicados a isso. Há abrigos geridos por outras organizações, mas que não têm capacidade para atender tantas pessoas, e, no geral, existe uma falta de acesso a cuidados de saúde. Somos a única organização que providencia tratamento especializado a migrantes sobreviventes de violência ou de tortura.
Na cidade, há zonas específicas onde as pessoas permanecem de acordo com a sua nacionalidade. Há migrantes por todo o lado aqui, e vivem principalmente nas ruas. A maioria são haitianos e hondurenhos e, recentemente, o número de pessoas vindas da Venezuela aumentou significativamente. Geralmente, deslocam-se mais rapidamente em pequenas caravanas para evitarem detenções e deportações.
Pessoas que sofrem de violência extrema costumam ter sintomas muito críticos. Os principais sintomas que vemos são stress pós-traumático, depressão aguda e ansiedade. Alguns dos nossos pacientes não querem continuar a viver. Temos sobreviventes de violação, pacientes feridos com armas de fogo, alguns foram mutilados ou presenciaram o assassinato de familiares.
Para dar conta da gravidade destes sintomas, posso dizer que, seguramente, nunca tinha atendido tantas pessoas com pensamentos suicidas como aqui. Só no mês de agosto tivemos três casos.
Acresce que há outros fatores que agravam estes sintomas, como a falta de acesso a assistência humanitária, que também afeta as pessoas a nível emocional. Mudanças nas políticas de migração também têm impactos na saúde mental, assim como a incerteza e a rejeição.
O acesso a cuidados de saúde para pessoas migrantes não é algo garantido – ainda menos no que diz respeito a saúde mental. Ainda é um acesso muito restrito nos centros de saúde e os migrantes são por vezes discriminados. A verdade é que existem serviços ou medicamentos que são negados a pessoas em específico por serem migrantes.
Temos casos de pacientes psiquiátricos que estão em risco e que não têm acesso a serviços públicos de cuidados de saúde. A falta de cuidados especializados também se aplica aos habitantes locais. O único hospital psiquiátrico está em Tuxtla Gutiérrez, a mais de quatro horas de distância de Tapachula.
Há mulheres que necessitam de cuidados pré-natais e não têm acesso. Os hospitais também não se responsabilizam pelo equipamento para cirurgias. Documentámos casos de violência obstétrica. Muitas das pessoas a quem prestamos atendimento médico contaram-nos que lhes foram negados cuidados ou que não foram tratadas com respeito.
Os casos mais complexos são encaminhados para o Centro de Cuidados Integrais que temos na Cidade do México, onde a nossa equipa – constituída por pessoal médico, de saúde mental, fisioterapeutas e assistentes sociais – providencia tratamento multidisciplinar especializado a pessoas migrantes, refugiadas e mexicanas sobreviventes de violência extrema e de tortura.
Sinto que estou a fazer a minha parte. Faço a gestão dos casos para que os encaminhamentos sejam eficazes, para garantir que os pacientes têm acesso a cuidados de saúde; estas são as coisas mais importantes para mim – servir pessoas que foram esquecidas.
Acho que dos 30 000 migrantes de Tapachula, cinco por cento passou por situações de violência extrema. Na minha opinião, o que estas pessoas precisam de nós, como seres humanos, é empatia. O último paciente que observei com pensamentos suicidas disse-me: “Estou a contar-te isto porque te vejo como um pai.” Aquilo tocou-me mesmo.
Temos de educar as pessoas locais daqui e ajudá-las a compreender as histórias de quem já sofreu tanto. Muitos dos pais, avós ou bisavós de Tapachula também já foram migrantes, por isso, talvez consigam entender o seu sofrimento.
Infelizmente, as crises continuam, forçando as pessoas a partir de casa em busca de refúgio. A violência e a crueldade que vivem nos seus países e depois na jornada também continuam a existir. Ao longo dos anos, desde que temos este projeto de cuidados para migrantes no México, a situação não melhorou, só tem piorado. Os casos de pessoas sobreviventes de violência extrema e de tortura a quem prestamos assistência são apenas a ponta do icebergue.
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