Nova esperança para pessoas com tuberculose

No dia Mundial de Combate à Tuberculose, MSF destaca a relevância do uso dos dois novos medicamentos para o tratamento das cepas resistentes a medicamentos da doença na Suazilândia

MSF destaca a relevância do uso dos dois novos medicamentos para o tratamento das cepas resistentes a medicamentos da doença na Suazilândia

“Eu estou curada. Nem minhas pernas me incomodam mais. Agora, posso andar perfeitamente. Ando pelo hospital, saio para um pouco de ar fresco e volto quando estou pronta”, conta Tholakele, eufórica, enquanto caminha pela ala do hospital para demonstrar sua recuperação.

Tholakele, de 39 anos, tem tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR) e começou o tratamento em maio de 2016 no hospital de tuberculose Moneni National, apoiado pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), na região central da Suazilândia.

Com 9,4 milhões de novos casos e 1,8 milhão de mortes ao ano, a tuberculose (TB) é uma das maiores causas de mortalidade nos países em desenvolvimento; cerca de 85% desses casos ocorrem na Ásia e na África. A Suazilândia tem um dos índices mais altos de TB e de TB multirresistente a medicamentos (TB-MDR) do mundo. Além disso, cerca de 80% das pessoas que contraem TB no país vivem, também, com HIV.   

Tholakele vive em Lwandle, a cerca de 15 quilômetros de distância do hospital Moneni, no qual ela recebe tratamento. Atualmente, seu marido está na África do Sul, onde trabalha. Durante três meses, ela foi e voltou sozinha do hospital todos os dias para receber injeções, uma rotina que foi concluída em agosto de 2016. Apesar disso, ela ainda não está curada da TB e continua o tratamento em casa, tomando comprimidos diariamente.

Nesse sentido, Tholakele está aliviada. Era no momento das injeções que ela sofria com dores fortes nas pernas, o que eventualmente afetou sua capacidade de andar. Por viver sozinha e não ter ninguém para ajudá-la, em novembro de 2016, ela foi admitida por dois meses no hospital Moneni.

Para muitos pacientes de TB-DR, como Tholakele, o tratamento é uma jornada longa e difícil de dois anos, com de 15 a 25 comprimidos por dia, além de injeções diárias nos seis primeiros meses. Às vezes, em casos de pacientes que não respondem aos medicamentos, o tratamento pode durar ainda mais tempo. Os efeitos colaterais incluem sintomas como surdez, toxicidade no fígado ou nos rins e o mais extremo de todos: psicose. Esse sintoma frequentemente leva muitos pacientes a abandonarem seus empregos durante o tratamento e, em países como a Suazilândia, isso aumenta a possibilidade de sucumbirem não só à doença, mas também à pobreza.

Na tentativa de ajudar pacientes que ficaram parcialmente ou completamente surdos durante o tratamento, 11 pacientes de uma clínica de MSF em Matsapha e 30 profissionais da organização completaram, recentemente, um treinamento na língua de sinais.

“Nossos pacientes de TB-DR frequentemente enfrentam a surdez como efeito colateral da canamicina, um dos medicamentos para a cepa da doença. Por isso, eles podem se isolar de suas famílias e comunidades. Isso pode afetar facilmente sua vida social, se não houver o suporte adequado. Ao empoderarmos esses pacientes com essa nova habilidade para se comunicarem, esperamos reintegrá-los à sociedade’, diz Fundzile Msibi, coordenadora psicossocial de MSF.

Isso se provou verdade para Winile, uma paciente de TB extensivamente resistente a medicamentos (TB-XDR) que perdeu sua audição em 2013, após seis meses de tratamento. Hoje, ela aproveita os benefícios da língua de sinais. “Agora eu uso a língua de sinais para me comunicar com meus filhos. Sempre tento ensinar a eles o que aprendi, e assim podemos nos comunicar. Meus filhos ainda são pequenos e precisam de mim. Poder usar a língua de sinais me ajudará a continuar sendo parte de suas vidas”.

Paralelamente ao apoio recebido de MSF, a Suazilândia fez grandes progressos no alívio dos incômodos decorrentes do tratamento de TB, e, com isso, trouxe uma nova esperança para os pacientes.  

Desde janeiro de 2014, pacientes com TB-DR em Matsapha e Mankayane são tratados usando um tratamento mais curto, que dura entre 9 e 12 meses, diferentemente do tratamento antigo, cuja duração é de aproximadamente dois anos. Nesses novos tratamentos, os pacientes recebem injeções por um período de 4 a 7 meses e comprimidos que devem ser usados nos cinco meses restantes. No total, 135 pacientes iniciaram esse tratamento desde que ele começou a ser oferecido em 2014.  

Além de tratamentos mais curtos, equipes de MSF na Suazilândia também estão usando os dois mais novos medicamentos de TB em 50 anos: bedaquilina e delamanida. Essas substâncias são ministradas a pacientes com casos complicados de TB resistente a medicamentos, que antes não tinham alternativas para tratamento. Essas substâncias não causam os mesmos efeitos colaterais extremos dos tratamentos antigos, como a perda de audição.

A bedaquilina e a delamanida foram aprovadas separadamente por reguladores de medicamentos em 2012 e 2014, respectivamente. O uso desses medicamentos foi permitido à Suazilândia em 2014, e em 2015 MSF começou a fornecê-los s e a apoiar o Ministério da Saúde no tratamento de pacientes que usavam a substância em 4 instalações de referência para o tratamento de TB no país.  

Os resultados do uso da bedaquilina já são muito promissores. Até agora, mais de 90% dos pacientes com TB-DR tratados responderam bem ao tratamento e em seis meses a bactéria da TB não era mais detectável em seus pulmões ou saliva. Para os pacientes de TB, ter acesso a medicamentos novos e com menos efeitos colaterais, e ter períodos mais curtos de tratamento, não é apenas questão de ter melhores resultados médicos; é trazer alguma esperança a pessoas que já não a tinham.

MSF começou a trabalhar na Suazilândia em 2007. Estima-se que mais de 7 mil pessoas sejam diagnosticadas com TB por ano no país, e dessas, cerca de 900 tem a cepa multirresistente da doença. MSF trabalha em colaboração com o Ministério da Saúde para melhorar o diagnóstico e o tratamento da doença, especialmente da TB resistente a medicamentos, e atua em instalações de saúde como Mankayane, Matsapha, Shiselweni e Moneni, que são do governo. Para possibilitar que os pacientes continuem o tratamento apesar dos efeitos colaterais desafiadores, como perda da audição e náuseas, equipes de MSF vão além da oferta de serviços médicos. Os profissionais ajudam os pacientes com cuidados domiciliares, quando possível, e oferecem acompanhamento médico individual e consultas de adesão, terapia de grupo, auxílio para transporte e assistência para moradia. Isso se estende à distribuição de alimentos, terapia ocupacional e treinamentos voltados para a língua de sinais (para pacientes que perderam a audição como efeito colateral do tratamento).  

Além disso, equipes de MSF na Suazilândia vêm usando tratamentos mais curtos (9 meses em vez de dois anos) e, para determinados pacientes, os medicamentos mais novos para os sintomas mais difíceis. Esses dois medicamentos, a bedaquilina e a delamanida, são os mais novos em quase 50 anos, e por isso são uma nova esperança de cura para pacientes que antes estavam sem qualquer perspectiva. Além de serem mais eficazes, provocam menos efeitos colaterais em comparação aos tratamentos anteriores com medicações injetáveis – como o risco de surdez total ou parcial. Ao passo que esses medicamentos mostram resultados bastante promissores, o acesso a novos medicamentos para TB ainda é limitado. Em outubro de 2016, estimou-se que, em todo mundo, 5.738 pacientes tiveram acesso à bedaquilina e apenas 405 tiveram acesso à delamanida.

 

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