Pessoas ainda são privadas de melhores tratamentos para TB

MSF faz um apelo a governos para que ampliem o uso de novos medicamentos contra TB

Pessoas ainda são privadas de melhores tratamentos para TB

Pessoas com tuberculose multirresistente a medicamentos (TB-MDR) ainda não estão recebendo os dois medicamentos mais novos contra a doença, bedaquilina e delamanida, que já estão disponíveis há mais de quatro anos e que mostraram melhores índices de cura da doença, apontou hoje a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) na 48ª Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar em Guadalajara, no México, onde a comunidade global de TB está reunida.

A bedaquilina e a delamanida, que receberam autorização para serem comercializadas em 2012 e 2014, respectivamente, são os primeiros medicamentos para TB desenvolvidos em cerca de 50 anos. Eles representam uma potencial salvação para pessoas afetadas pelas formas de TB mais resistentes a medicamentos, que agora têm grandes chances de serem curadas. No entanto, MSF estima que menos de 5% das pessoas que poderiam se beneficiar das novas substâncias tiveram acesso a elas de fato em 2016. MSF se preocupa com a incorporação incrivelmente lenta desses novos medicamentos. Apenas 3.943 pessoas receberam as duas novas substâncias em programas de cuidados médicos de rotina durante a primeira metade de 2017 – um aumento escasso de 1.000 pessoas a mais tratadas em comparação ao mesmo período de 2016.

“A delamanida me deu uma segunda chance na vida. Quero que esses comprimidos sejam disponibilizados para as muitas pessoas que lutam contra a tuberculose resistente a medicamentos, porque há muita gente vomitando em decorrência do tratamento padrão atual, chorando com a dor das injeções ou até mesmo perdendo sua audição e deixando de ir à escola ou ao trabalho”, disse Sinethemba Kuse, que sofria de TB ultra resistente a medicamentos (TB-XDR) e foi tratada com delamanida no projeto de MSF em Kayelitsha, na África do Sul."

Em nível global, 30% das pessoas com TB-MDR poderiam se beneficiar desses novos medicamentos, de acordo com estimativas.* Ainda assim, até julho de 2017 apenas 10.164 pessoas com TB resistente a medicamentos no mundo inteiro haviam recebido a bedaquilina, e apenas 688 tiveram acesso à delamanida.

“Até cinco anos atrás, não tínhamos opções e éramos forçados a aceitar o risco de dar às pessoas um regime de tratamento com medicamentos contra a tuberculose que sabíamos ter poucas chances de curá-las; mas qual é a desculpa hoje para não usarmos esses novos medicamentos?”, questiona o dr. Isaac Chikwanha, conselheiro médico de HIV e TB da Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. “É inaceitável hoje continuarmos tratando pacientes com os velhos regimes medicamentosos, sabendo muito bem que poderíamos estar dando às pessoas uma chance muito maior de ficarem vivas usando os medicamentos novos.”

A tuberculose é a doença infecciosa mais letal do mundo, matando 1,8 milhão de pessoas a cada ano. O tratamento padrão atual para TB resistente a medicamentos requer que as pessoas tomem cerca de 15 mil pílulas em dois anos, causando efeitos colaterais graves e debilitantes e curando uma média de apenas 1 em 2 pessoas. Os dois novos e promissores medicamentos foram introduzidos no mercado com grandes esperanças de serem os pilares de um tratamento bastante aprimorado para a TB resistente a medicamentos.

MSF teve uma experiência muito positiva tratando pessoas com os dois novos medicamentos em seus programas, com resultados melhores durante o tratamento (a chamada “conversão de cultura”) e no final do tratamento. Os dados que MSF está apresentando na conferência em Guadalajara mostram preliminarmente a segurança e a eficácia da combinação de bedaquilina e delamanida para tratar a doença na Armênia, na Índia e na África do Sul, com 74% de 23 pessoas com TB resistente a medicamentos alcançando resultados negativos em cerca de seis meses de tratamento.

“O uso de bedaquilina e delamanida é limitado, atualmente, por diversas razões, entre elas o fato de alguns programas nacionais de TB serem muito conservadores”, disse o dr. Chikwanha. “A utilização ínfima dos novos medicamentos é injusta com pessoas que agora teriam uma chance de tratamento efetivo. Governos, doadores e a comunidade internacional de TB devem tomar urgentemente medidas para aumentar o acesso a esses novos e promissores medicamentos, a fim de salvar as vidas daqueles que vivem com TB resistente.”

MSF trata pessoas com TB há 30 anos. Em 2016, MSF tratou mais de 20 mil pessoas com TB, entre elas 2.700 pessoas com TB-MDR. Até junho de 2017, em parceria com ministérios da Saúde, MSF iniciou mais de 1.500 pacientes em 14 países em regimes de tratamento para TB resistente a medicamentos que incluem bedaquilina e/ou delamanida.  

* Essa estimativa inclui pessoas que atendem ao critério da Organização Mundial da Saúde (OMS): pessoas com TB ultrarresistente a medicamentos e pessoas com TB multirresistente a medicamentos que não conseguem tolerar tratamentos com outros medicamentos. De acordo com estimativas conservadoras do DR-TB Scale Up Treatment Action Team (STAT), 30% das pessoas com TB-MDR poderiam se beneficiar dos novos medicamentos. Com base na experiência de MSF, esse número pode aumentar para 70% em lugares com altos índices de pessoas com TB ultrarresistente com exposição a medicamentos de segunda linha.

Nota informativa: O artigo Four years and counting examina as atuais oportunidades existentes de otimizar tratamentos de TB-MDR e vencer os desafios persistentes de acesso que deixam o tratamento fora do alcance das pessoas que vivem com essa doença mortal. Disponível para download: https://www.msfaccess.org/MDR-TB-issue-brief-2017

Para saber mais sobre a presença de MSF na 48ª Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar, visite:
http://www.msf.org/en/article/msf-48th-union-conference-lung-health

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