Prevenção e tratamento da tuberculose na Papuásia-Nova Guiné

A Médicos Sem Fronteiras está a trabalhar com pacientes na Papuásia-Nova Guiné para reforçar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de uma das principais causas de morte no país

A Médicos Sem Fronteiras está a trabalhar com pacientes na Papuásia-Nova Guiné para reforçar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento da tuberculose.
© Leanne JORARI/MSF

A Papuásia-Nova Guiné (PNG) tem uma das maiores taxas de incidência de tuberculose (TB) no mundo, com 30 000 novos casos a serem reportados todos os anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A prevalência da doença é tão alta que o governo da PNG declarou o estado de emergência em várias províncias do país.

Apesar de ser uma das doenças que há mais tempo se conhece no mundo, e de ser possível prevenir e curá-la, a tuberculose é uma das principais causas de morte na Papuásia-Nova Guiné. É, também, a segunda doença infecciosa mais mortal a seguir à COVID-19 e estima-se que uma em cada três pessoas contagiadas globalmente não recebem o diagnóstico. A TB transmite-se através de aeróssois (gotículas aéreas), o que significa que se propaga facilmente em áreas sobrepopuladas. Os sintomas graves que os pacientes enfrentam muitas vezes afetam significativamente as suas vidas: tosse severa, dores no peito, enfraquecimento, perdas repentinas de peso e febre.

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) presta apoio no tratamento da tuberculose na PNG desde 2014. As equipas da organização médico-humanitária colaboram com o Ministério da Saúde para fornecer diagnósticos e tratamento a pessoas com TB em Port Moresby, distrito da capital do país – numa clínica no Hospital Geral de Gerehu e na recém-aberta Clínica das Seis Milhas. Para além disso, desenvolvem um programa de sensibilização em localidades em redor para prevenir a transmissão da doença.

Um longo caminho a percorrer

Nas zonas rurais, onde vive 80 por cento da população do país e o acesso a serviços de saúde é limitado, muitas pessoas têm de percorrer distâncias significativas, frequentemente a pé, para chegarem aos centros de saúde que lhes estão mais próximos e receber tratamento.

As baixas taxas de alfabetização nestas regiões são outro obstáculo. As causas da doença podem ser mal compreendidas, atribuídas a feitiçaria ou ao diabo, levando ao estigma e à discriminação das pessoas com tuberculose.

Estas barreiras contribuem para um dos maiores desafios da MSF – garantir que pacientes compreendem a doença e aderem ao tratamento contra a tuberculose.

“A tuberculose requere um acompanhamento médico longo e complicado. Para ser tratada eficazmente, os pacientes têm de receber as doses certas de medicação, nos momentos certos, e durante o período de tempo certo. Para muitas pessoas, isto significa tomar medicamentos todos os dias durante pelo menos seis meses”, explica a profissional da MSF Nelly Akai, responsável pela Extensão de Saúde e que trabalha com as comunidades. “É comum os pacientes deixarem de tomar a medicação quando se começam a sentir melhor, mas a doença pode não estar ainda totalmente curada nessa fase. Isto pode levar a uma resistência aos medicamentos e, potencialmente, ao surgimento de novas variantes de TB, que são mais difíceis de tratar.”

O incumprimento do programa completo de tratamento da doença ou dos regimes de tratamento provoca resistências aos medicamentos – uma situação que a MSF tenta evitar a todo o custo com os pacientes.

Desde que me foi diagnosticada TB no ano passado, a equipa aqui [na Clínica de Gerehu] e a abordagem adotada têm-me ajudado muito. Da medicação ao aconselhamento, fizeram com que aquele período de seis meses passasse tranquilamente e consegui curar a doença”, partilha Peter Wueh, paciente recuperado. “Foi bastante desgastante ao início, para mim e para a minha família, mas a equipa foi a minha casa, deu-nos aconselhamento e sensibilizou-nos, o que tornou tudo mais fácil para nós.”

Divulgação e sensibilização

Em Port Moresby, as equipas da MSF fazem visitas docmiciliárias a pacientes que têm dificuldades em aceder à clínica ou a aderir ao tratamento, de forma a reduzir a taxa elevada de pacientes que deixam de manter o acompanhamento. Também assinalam e visitam áreas da capital que consideram serem de alto-risco para casos de TB, em particular zonas onde os rendimentos são mais baixos, como alguns aglomerados urbanos que são sobrepopulados e têm falta de condições de saneamento – locais onde a doença se pode propagar mais rapidamente.

“Visitamos comunidades e promovemos conversas de saúde, sobre os sinais e sintomas da tuberculose, e como se transmite. Abordamos crenças falsas também. Falamos com os líderes das comunidades, tentando convencê-los a nos ajudarem a organizar projetos de Procura Ativa de Casos (PAC), em que procuramos encontrar pessoas com sinais e sintomas e encaminhá-las para clínicas. Se alguém tiver passado as últimas duas semanas a tossir, fornecemos copos de amostra para fazer o teste e se concluimos que a pessoa está positiva, providenciamos o tratamento imediatamente”, explica o promotor da MSF de serviços de saúde para as comunidades, Waru Biramo.

“O programa de PAC é especialmente importante, porque muitas pessoas evitam ir a clínicas e esperar numa fila para serem testadas, então nós próprios levamos os testes até elas.”

Inovações tecnológicas

A clínica especializada em tuberculose de Gerehu utiliza o aparelho revolucionário GeneXpert, que pode testar a presença de bactérias TB em menos de duas horas. Consegue também detetar amostras de TB resistentes à fluoroquinolona – um medicamento crucial para tratar a tuberculose – possibilitando o diagnóstico da doença com resistência a antibióticos. Outrora, as amostras tinham de ser enviadas para a Austrália, o que era mais demorado e dispendioso.

O GeneXpert reduz significativamente atrasos no diagnóstico e no tratamento, para que os pacientes possam iniciar o tratamento correto atempadamente.

“A tuberculose continua em mudança e veio para ficar no país. Precisamos de todo o apoio que conseguimos obter para diagnosticar e apoiar as pessoas a enfrentar esta doença e eu acredito que este aparelho tem-nos ajudado imenso”, frisa a supervisora de laboratório da Clínica de Gerehu, Naomi Lerori.

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