Psicóloga paulista começa seu Diário de Bordo hoje

Julia Bartsch conta sobre seu trabalho na capital de Honduras, Tegucigalpa

Honduras é uma país assolado pela violência urbana, desde o uso de drogas por pessoas mais humildes até a violência sexual contra mulheres. Por isso, há 10 anos atrás, Médicos Sem Fronteiras decidiu fazer um projeto no país, fortalecendo não só o acesso a cuidados da saúde física como também da mental para a população hondurenha.

É no atendimento psicossocial do projeto da cidade de Tegucigalpa , capital de Honduras, que a psicóloga paulistana Julia Bartsch começou a trabalhar em julho deste ano. Formada em administração, Julia decidiu ser psicóloga quando resolveu "unir minha formação a um tipo de trabalho que me encantava", conta. Em seu Diário de Bordo, Julia conta sua primeira experiência com MSF, em Honduras.

Considerando que MSF está no país há 10 anos, como os pacientes vêem a organização?

Os jovens identificam facilmente MSF, seja pelo logo, pelos carros e pelo pessoal. Mesmo os que ainda não vieram ao CTD (Centro de Terapêutico de Dia) nos cumprimentam nas ruas e há um reconhecimento e respeito pelo trabalho que fazemos. Em geral, os usuários respeitam as normas de conduta dentro do CTD e todos os que chegam com algum tipo de droga aceitam deixá-la na recepção.

Qual é a sua função?

Sou a psicóloga expatriada e tenho como função principal coordenar o trabalho em saúde mental e garantir que os resultados esperados sejam alcançados, supervisionando atividades e dando seguimento aos projetos propostos por meus antecessores. Também há a necessidade de observar pontos que possibilitem novos modelos de intervenção.

Como é trabalhar em um projeto de violência urbana, algo relativamente novo para MSF?

O desafio parece ser o de dar forma a um projeto que exige mais tempo de existir para que se vislumbre os resultados esperados. Focando a saúde física e mental de seus usuários, trabalhar em um projeto que considere as conseqüências de estar vulnerável à violência urbana e fazer parte desse momento histórico para MSF em que se tenta provar a importância desse tipo de ação é estimulante.

Quais são os problemas mais freqüentes encontrados nessa população?

O problema mais marcante é a toxicomania. Além da vulnerabilidade de viver em situação de rua, o uso de drogas debilita ainda mais a capacidade de defesa, raciocínio e avaliação das situações de exposição à violência física e sexual.

É possível ajudar alguém que vive em um ambiente de violência "crônica"? Como isso é feito?

Sempre acreditamos que é possível sim. Tanto é que essas pessoas nos reconhecem e nos buscam. A ajuda é feita a partir do contato com os usuários em potencial nas ruas feito pelos educadores e no acolhimento destes no CTD. É feito um trabalho de sensibilização com esses jovens para que percebam os riscos e se responsabilizem por modificar seus processos.

Ser brasileiro facilita o trabalho no exterior?

No caso desta missão, seguramente que sim! Ser latino-americana e conhecer a realidade dessa parte do mundo torna mais compreensível a complexidade que envolve o trabalho, em se tratando de dificudades sócio-econômicas, perfil político e a pouca estranheza que há com a existência de crianças e jovens vivendo nas ruas, como parte de um cenário urbano já conhecido. Além disso, há uma predisposição de acolhimento de maneira muito simpática aos brasileiros por parte de outros povos.

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