RCA: violência crescente ameaça civis e ajuda humanitária

Organizações humanitárias também são alvo de ataques no paí

A crescente violência na República Centro-Africana (RCA), principalmente no norte do país, está prejudicando a oferta de assistência humanitária vital para pessoas que sofrem com o acesso limitado à ajuda, alerta a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

A presença de grupos armados fugitivos e o caos crescente pelo país, inclusive na capital Bangui, levaram à escalada da insegurança, que deixou comunidades vulneráveis à violência extrema. Organizações humanitárias internacionais também têm sido submetidas a roubos e saques. As equipes de MSF nas cidades de Boguila, Kabo, Ndélé e no acampamento de M´Poko, no aeroporto internacional de Bangui, sofreram diversas invasões e roubos. Somente no último fim de semana, equipes de MSF enfrentaram quatro incidentes sérios. Por consequência, a organização se viu obrigada a reduzir suas atividades médicas em Kabo.

Repetidas vezes, MSF pediu que os países membros do Conselho de Segurança da ONU e financiadores garantissem a proteção dos civis na RCA e que intensificassem urgentemente a oferta de assistência humanitária.

“Estamos testemunhando as consequências da falta de proteção das pessoas na RCA; civis estão sendo caçados e assassinados e centenas de milhares de pessoas deslocadas e refugiadas estão sem assistência adequada”, afirma Sylvain Groulx, coordenador-geral de MSF na RCA. “Atacar organizações humanitárias e suas equipes é inaceitável e impede o suporte dado à população. A redução das atividades médicas de MSF em Kabo tem consequências desastrosas para mais de 50 mil pessoas, enquanto suas necessidades continuam enormes.”

MSF administra o hospital de Kabo desde 2006 e presta suporte a três postos de saúde em seus arredores, incluindo Moyenne Sido, para onde muitas pessoas haviam escapado da violência. Outras buscaram refúgio além da fronteira, no Chade. Em 2013, MSF realizou mais de 100 mil consultas no hospital de Kabo e nos postos de saúde da cidade. A malária continua sendo a principal causa de morte na RCA e, em Kabo, até 44% das consultas estiveram relacionadas à doença. A assistência médica oferecida pelas equipes de MSF aqui é essencial.

Mesmo antes da crise recente, a população da RCA sofria com as consequências da grave escassez de cuidados de saúde, com muitas instalações em más condições operacionais. A escalada da violência nas últimas semanas agravou o problema na medida em que quase 20% da população fugiu de suas casas, e os esforços despendidos pela ajuda internacional ainda são grosseiramente insuficientes.

Apesar dos ataques violentos e regulares que acontecem próximo e até dentro dos hospitais, as equipes de MSF puderam oferecer cuidados médicos razoáveis. Mas, atualmente, a impunidade com que agem os grupos armados e o ciclo incontrolável de violência estão colocando a população em risco e ameaçando a oferta de ajuda humanitária.

“Pedimos que grupos armados parem de atacar civis e que respeitem nossa missão médica, para que possamos continuar a oferecer cuidados médicos essenciais”, adiciona Sylvain Groulx. “Organizações humanitárias precisam conseguir trabalhar livremente, sem obstáculos.”

MSF atua na RCA desde 1996 e agora opera sete projetos regulares (Batangafo, Carnot, Kabo, Ndélé, Paoua, Bria e Zémio) e oito de emergência (Bangui, Berbérati, Bouar, Boguila, Bossangoa, Bouca, Bangassou e clínicas móveis no noroeste). A organização conta com mais de 240 profissionais internacionais e 2 mil locais trabalhando no país. Equipes adicionais de MSF estão prestando assistência a refugiados da RCA em Camarões, no Chade, na República Democrática do Congo e no Congo.

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