Requerentes de asilo enfrentam graves lacunas no acesso a cuidados de saúde na Ilha de Lesbos

Numa altura em que chegam cada vez mais pessoas a Lesbos de barco, a MSF denuncia barreiras significativas no acesso a cuidados de saúde essenciais na ilha

© MSF/Evgenia Chorou

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) expressa um profundo pesar pela perda de mais cinco pessoas em dois naufrágios recentes, em Lesbos e Samos.

Em julho de 2023, mais de 1 300 pessoas chegaram de barco à ilha de Lesbos. Nesse mês, as equipas da MSF assistiram 1 031 pessoas recém-chegadas, das quais 26 por cento eram crianças. Duas pessoas tiveram de ser encaminhadas para o hospital de ambulância.

A MSF providencia cuidados de emergência – primeiros socorros médicos e apoio psicológico – às pessoas que chegam de barco às ilhas de Lesbos e Samos, na Grécia. Quando são notificadas de que há pessoas a necessitar de cuidados médicos, as equipas da MSF, que trabalham conforme a legislação grega e em coordenação com as autoridades estatais, deslocam-se para um ponto de chegada. Recebem também alertas de fontes verificadas (entidades legais ou outros agentes humanitários, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) quando as pessoas na ilha necessitam de assistência humanitária.

As equipas da MSF providenciam cuidados médicos de primeiros socorros e apoio psicológico. Além disso, encaminham pessoas para o hospital através de ambulâncias e distribuem comida, água e roupas limpas.

Desde junho de 2022, a MSF forneceu assistência a 5 957 pessoas em busca de segurança. Em Samos, as equipas prestam cuidados de emergência desde agosto de 2021 e, até à data, assistiram 3 640 pessoas. Nos últimos tempos, a MSF tem observado um aumento acentuado do número de chegadas: só no passado mês de agosto, mais de 1 000 pessoas chegararam à ilha.

Lesbos, Grécia - apoio MSF
Uma pessoa da equipa da MSF senta-se com um grupo de recém-chegados a Lesbos, que descansam depois de terem sido assistidas pela MSF. © MSF/Evgenia Chorou, 2023

Devido ao elevado número de chegadas, especialmente durante os meses de verão, há agora quase 3 000 pessoas no Centro de Acesso Fechado e Controlado (CCAC, na sigla em inglês) de Mavrovouni, o que excede a capacidade do espaço.

Para além da sobrelotação, o processo de registo de cerca de 1 000 pessoas está atrasado. Estes atrasos no processo de registo no centro de Mavrovouni prejudicam o acesso das pessoas a apoio médico atempado, obrigando-as a procurar os cuidados de que necessitam fora da instalação.

Por exemplo, um paciente com um problema cardíaco crónico e um historial de ataque cardíaco, que perdeu a medicação durante a viagem, esteve quatro semanas no campo sem ser registado e, por isso, não teve o apoio de que necessitava. Para além disso, os pedidos de urgência feitos por médicos da MSF, em nome do paciente, não sortiram grandes resultados.

“As nossas equipas médicas observaram um aumento acentuado das entradas na clínica da MSF em 2023, com um crescimento constante entre os meses de abril e julho”, sublinha a coordenadora do projeto em Lesbos, Nihal Osman.

“Os pacientes chegam à clínica da MSF para cuidados de saúde primários, problemas crónicos e doenças infecciosas. Os casos de hepatite e VIH não são acompanhados devidamente e não são encaminhados para serviços onde possam aceder a tratamento. 35 por cento dos pedidos de encaminhamentos são para cuidados de medicina geral, ou especializados, mas, os profissionais no campo enfrentam limitações significativas naquilo que podem fazer”, explica.

“Estas lacunas tendem a agravar-se com o aumento do fluxo de chegadas a Lesbos e das pessoas apoiadas pela MSF durante as atividades de assistência médica de emergência, que atingiram um pico de 1031 pessoas só no mês de julho”.

Com um sistema de receção de migrantes disfuncional e um acesso muito limitado a cuidados como pano de fundo, a MSF decidiu cobrir temporariamente as necessidades dos pacientes que chegam à ilha, reforçando a capacidade dos serviços prestados pela clínica da organização: durante os meses de agosto e setembro, foram ativamente fornecidos cuidados de saúde primária na instalação. O objetivo deste programa temporário é garantir também uma cobertura alargada das necessidades médicas e de encaminhamentos no Centro de Acesso Fechado e Controlado.

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