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MSF oferece serviço de atendimento gratuito 24 horas por dia para sobreviventes de violência sexual em Nairóbi
Marie, nome fictício, tem 25 anos, feição assustada, olhar perdido e parece ter vergonha de conversar. A voz sai rouca, bem baixinha. É preciso prestar atenção para compreender o que ela diz. Tem medo de ficar sozinha e só vai acompanhada do marido à clínica da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Mathare, Eastlands, zona leste da capital queniana, Nairóbi. Ela e Marc, nome também fictício, são refugiados da República Democrática do Congo, mas suas vidas de sofrimento, violência e fuga se cruzaram no Quênia.
Ela era criança em Kisangani quando a irmã mais velha se casou e a levou para morar em outra casa. O cunhado de Marie era um empresário que se opunha ao grupo armado que tomou a região em 1996. Por isso, invadiram a casa onde moravam e o levaram. Ficou desparecido por dias. Tão logo ele voltou, o local foi invadido novamente. Desta vez, tomaram tudo que tinham, até mesmo a propriedade. Permanecer ali significava aliar-se ou morrer. Acabaram fugindo para Goma, onde o cunhado foi capturado mais uma vez e teve de pagar pela própria liberdade. Resolveram então fugir para Kampala, capital de Uganda. Depois para o Quênia, aonde chegaram no fim de 1999.
Marie descreve sua vida no país como “muito ruim”. Relata que, em 2002, por serem refugiados, não eram aceitos pelos vizinhos, que tratavam mal a família. “Um dia meu cunhado respondeu à vizinha que mais nos desejava coisas ruins”, lembra. “Três dias depois, homens armados entraram na casa e roubaram nosso rádio e outras coisas.” O cunhado registrou uma ocorrência e se mudaram dali. Homens armados invadiram também a nova casa, num dia em que ela, que tinha 12 anos, e a irmã, grávida de três meses, estavam sozinhas. Ambas foram violentadas.
Ela e Marc, um ano mais velho, se conheceram em 2012, dois anos depois de ele chegar ao Quênia. Marc é de Kinshasa, capital congolesa. Filho de comerciantes de madeira, também teve a casa invadida em 2009, quando a família toda foi assassinada. Sobreviveu porque se escondeu num cômodo, enquanto o local era revirado. Depois, passou meses em fuga. Testemunhou estupros. Apanhou. Cruzou a Tanzânia até chegar a Nairóbi.
Em 2013, ele a pediu em casamento, só que não puderam regularizar a situação porque não tinham documentos. O casamento se deu em casa, pelos ritos tradicionais congoleses. Foi então que ela deixou a casa da irmã para viver com Marc.
Neste ponto do depoimento, Marie para de falar. Chora. Tampa o rosto. Bebe água. Depois de aproximadamente um minuto, ainda em lágrimas, ela recomeça: “em 5 de março [2016], eu estava no centro da cidade. Por volta das cinco, cinco e meia da tarde, peguei um ônibus. Estava com pressa para ir ao mercado…” Marie fica ofegante, gagueja, parece confusa, respira fundo e retoma.
“Depois de comprar pão, por volta das sete horas, fiquei parada na rua esperando o ônibus. Dali a cinco minutos um carro parou na minha frente e as pessoas me chamavam pelo nome. Fiquei assustada porque eu não as conhecia e não sabia por que estavam falando meu nome. Havia três mulheres dentro do carro. Elas também falaram o nome do meu marido. Pensei: ‘Elas nos conhecem mesmo’. Ofereceram carona insistentemente. Resolvi aceitar. Alguns minutos depois, a mulher sentada atrás de mim apontou uma arma para a minha cabeça. Elas disseram que, se eu gritasse, morreria.”
Marie foi levada vendada para um cativeiro. Lá, ficou amarrada. As mulheres faziam perguntas sobre o marido, um amigo dele e crianças que os dois ajudaram a fugir da República Democrática do Congo e relatam ter entregue para a proteção de uma organização internacional. Como ela não respondia, apanhou. As mulheres foram embora e três homens passaram a fazer as mesmas perguntas. Eles a deixaram sozinha por uns dois dias. Marie começa a chorar de novo.
“Na segunda de manhã, por volta das 4h, os três homens voltaram. Achei que eles iam fazer aquelas perguntas de novo, mas arrancaram a minha roupa e entrei em choque.” Menstruada desde o dia do sequestro, achou que não fariam nada com ela. Estava enganada. “Tentei resistir. Tentei gritar por ajuda. Eles não estavam nem aí.”
Atordoada, como se revivesse a agressão, Marie conta que eles mandaram que se vestisse, a vendaram novamente e a levaram para uma rua, onde foi jogada sozinha, no escuro. Ficou um tempo ali, apavorada, tentando observar o movimento. Pediu indicação para chegar à polícia, de onde ligaram para o marido. Segundo Marie, a queixa foi registrada junto a autoridades nacionais e internacionais, que a encaminharam para a clínica de MSF.
Chorando muito, ela fica longos períodos em silêncio. Fala frases e cita pessoas de forma desconexa. Reclama que, apesar de ter os resultados dos exames feitos por MSF, as próprias autoridades não acreditam que ela foi violentada. “Temo pelas nossas vidas”, finaliza.
Marie, como os demais sobreviventes de violência sexual e de gênero que chegam à clínica de MSF em Mathare, Eastlands, recebem a oferta de uma gama de serviços. Desde que desejem, são examinadas e amostras são colhidas para exames, incluindo de HIV. As amostras de material vaginal são armazenadas por seis meses e ficam à disposição da polícia e da Justiça para exames de DNA, no caso de os sobreviventes desejarem processar os agressores. O coquetel pós-exposição ao HIV está disponível a todos que ali chegam em até 72 horas, assim como suporte psicossocial por três meses. Quando desejado, MSF contata outras organizações para que os sobreviventes recebam orientação jurídica, abrigo e proteção.
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