Ucrânia: MSF presta atendimento em clínicas móveis no metro de Kharkiv

As equipas da Médicos Sem Fronteiras estão a fornecer cuidados de saúde em várias estações da cidade

© Adrienne Surprenant/MYOP

Desde o início da guerra na Ucrânia, Kharkiv, a segunda maior cidade do país, tem sido gravemente afetada pela ofensiva russa. Enquanto muitas pessoas fugiram, as que ficaram refugiam-se agora nas estações de metro para se protegerem dos bombardeamentos incessantes. As equipas da Médicos Sem Fronteiras (MSF) fornecem cuidados primários de saúde em várias estações da cidade.

Antes da guerra, viviam 1,8 milhões de pessoas em Kharkiv, mas ao longo das últimas semanas muitas foram deixando a cidade. “Agora, a cidade parece deserta. Há poucas pessoas na rua e a maior parte das lojas estão fechadas”, conta o coordenador-geral da MSF na Ucrânia, Michel-Olivier Lacharité. “Ainda há algumas farmácias e mercados abertos para as pessoas conseguirem alimentos, mas o mercado principal de Kharkiv está fechado”, acrescenta.

Desde que o conflito começou os bombardeamentos têm sido constantes, especialmente na zona Norte da cidade. “As bombas caem o dia todo, com intervalos que parecem aleatórios. As sirenes vão alertando as pessoas, mas há também um sistema de aviso para smartphones. Estes sinais de alerta soam várias vezes ao dia. É algo que cria bastante ansiedade”, sublinha Lacharité.

Para as pessoas que ficaram na cidade – 350 000 de acordo com as autoridades – as estações subterrâneas do metro são o local mais seguro. “Há três linhas na cidade de Kharkiv”, explica Michel-Olivier Lacharité, “e a maior parte, se não todas as estações, estão a ser utilizadas.” Cada estação abriga cerca de cem pessoas durante o dia, um número que pode duplicar ou triplicar durante a noite. “A maioria dos que vivem no metro são idosos ou são pessoas muito vulneráveis. Estão lá abrigadas há mais de 40 dias, a dormir em tendas, num ambiente frio e húmido.”

A Médicos Sem Fronteiras instalou clínicas de saúde móveis em várias estações nas três linhas do metro de Kharkiv. Algumas consultas são realizadas à noite – apesar do recolher obrigatório na cidade, as equipas da MSF conseguem deslocar-se de estação para estação através dos túneis. Desde o início das atividades médicas já foram prestadas mais de 510 consultas, principalmente para tratar infeções respiratórias e casos de hipertensão, consequentes das condições de vida nesta estrutura subterrânea e também devido ao stress.

“Até mesmo no subterrâneo é possível ouvir as vibrações dos bombardeamentos à superfície”, frisa Michel-Olivier Lacharité.

Nina, que tem 83 anos, era apenas uma bebé durante a II Guerra Mundial. “Tenho muito medo de deixar a minha cidade, nunca estive no estrangeiro. Gosto demasiado de Kharkiv!”, exclama, com um sorriso tristonho. “Os parques, as praças… Mas as bombas vão, muito provavelmente, destruir tudo. Temo que não sobre nada a não ser ruínas.”

Além das consultas médicas, a Médicos Sem Fronteiras presta também apoio à saúde mental. Para as crianças e jovens adolescentes que vivem agora nas estruturas do metro, o medo de sair para a superfície é um fator comum de ansiedade.

“O potencial da ansiedade afetar o comportamento aumenta à medida que a guerra e a instabilidade continuam e a insegurança se torna numa constante da vida. Mesmo assim as crianças estão a lidar muito bem com a situação extrema, por ora”, explica o coordenador de atividades psicológicas da MSF, Devash Naidoo.

As equipas da organização estão também a distribuir provisões muito necessárias para a vida cotidiana: fornos-microondas para aquecer alimentos, produtos de limpeza e filtros de água para fornecer água potável durante a noite. “Há tendas e camas improvisadas em todo o sítio, o que significa que a situação sanitária nestas estações nem sempre é a ideal”, explica o médico MSF Guillaume Mongeau.

Apesar das condições de vida, para muitas pessoas ficar no metro é a única opção. “O frio, as insónias, nada se compara à guerra. Pelo menos aqui estamos seguros”, avança Ludmilla, que tem 40 anos. Permaneceu em casa com a família enquanto foi possível, até que uma explosão ocorreu perto de onde viviam. “Temi mesmo pelo meu filho, que abraçava o nosso gato contra o peito e dizia: ‘Mãe, eu não quero morrer’.”

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