Ao mestre, com carinho

Parte 2 – 8 de junho de 2011, República Democrática do Congo

Sua vida é ensinar. A cada manhã, em uma das escolas do vilarejo, ele está lá com seus alunos. Na sala de aula da escola, uma construção não concluída e por isso com grandes buracos na parede que fazem o papel de janela, nós podemos ver o professor fazendo seu trabalho.

Um dia, ele teve que fazer um trabalho diferente: o de carregador dos objetos roubados pelos rebeldes. Nosso professor foi sequestrado por um pequeno grupo identificado pela comunidade como membros de um grupo rebelde. Isso aconteceu durante o segundo ataque ao vilarejo daquela semana. O primeiro ataque havia acontecido em uma outra parte, um bairro de refugiados, de pessoas que já foram vítimas deste tipo de violência e que justamente por conta disso se mudaram para o vilarejo na tentativa de encontrar um lugar mais seguro para retomar suas vidas. O grupo que atacou o bairro da escola, dois dias depois do primeiro ataque, havia sequestrado então três pessoas.

Dez dias depois, eu volto ao vilarejo e junto de uma das conselheiras, eu vou às escolas para comunicar que durante o período necessário para avaliar a possibilidade de retomar as atividades de Saúde Mental nessas escolas, nós haviamos previsto a execução das intervenções para aqueles que tivessem necessidade no espaço que temos no hospital.

É graças à visita a uma dessas escolas que eu encontro o protagonista desta história real. A escola havia interrompido suas atividades, os alunos, exceto por nove ou dez, não foram às aulas por conta do medo que ainda fazia parte da atmosfera na região. Quando estávamos prestes a voltar, pois não haviamos encontrado ninguém, vimos o diretor da escola acompanhado de um homem vestido de maneira muito simples.

Eu tive dificuldades para identificá-lo como um dos professores da escola. É o diretor que o apresenta como uma das pessoas sequestradas pelos rebeldes. Sem saber que ele era professor, eu peço à conselheira que ajude na tradução do francês para o lingala. Neste momento, o homem me fala em francês e me conta suas dificuldades. Ele havia conseguido escapar depois de um dia detido, durante a total escuridão da noite, enfrentando os perigos da floresta. Ele não consegue explicar como ele teve a coragem de fazê-lo.

Pesadelos, dificuldades para dormir, já que ao menor ruído ele se coloca em estado de alerta, o medo. Tudo isso fica, apesar da mudança a um lugar diferente. Eu o convido para ir ao hospital e assim poder compartilhar conosco o que ele viveu em um lugar mais calmo e onde nós pudéssemos garantir a confidencialidade. No dia seguinte, nosso professor chegou à consulta, acompanhado de um aluno que havia também vivenciado os ataques. Nós o felicitamos, a região de onde ele partiu não é perto do hospital. O fato de poder ajudar a uma vítima dos eventos recentes dá também à equipe de Saúde Mental uma sensação de haver feito bem o trabalho. Ainda mais quando as duas conselheiras que fazem parte da equipe estão, elas mesmas, tocadas pelos eventos.

Nosso professor pode comprender melhor o que ele sente, ele pode falar e pode também conhecer sua própria capacidade de sair dessa. Felizmente, ele tinha recursos pessoais internos e tudo o que fizemos foi ajudá-lo a não esquecer disso.

A equipe de Saúde Mental deseja pois a este nobre e corajoso professor que ele tenha sempre a vontade e a força de ensinar aos seus alunos as lições precisas de matemática as lições imprecisas da vida. 

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