O sorriso que precede a cura

Este é meu segundo contrato com MSF. Após um ano na Ásia central, no Uzbequistão, me convidaram para trabalhar seis meses na Etiópia. País de imensa riqueza cultural, de lindas paisagens e povo acolhedor. Primeira pregunta que fizeram quando cheguei aqui: é sua primeira vez na África? Engraçado como a pergunta não é se essa é minha primeira vez no país, a primeira vez na cidade, mas a primeira vez na África. Apesar de várias diferenças, eles têm essa identidade: são africanos. Respondo à pergunta: sim, é minha primeira vez na África. Ah, você vai amar a Etiópia, me respondem com um sorriso no rosto.

Estou aqui há cerca de um mês e meio e meu trabalho é de flying pediatrician, ou seja, viajo dentro do país para os projetos que temos aqui para oferecer apoio técnico, treinamento para a equipe local e ajuda com relação aos problemas enfrentados para tratar “minhas” crianças. Nesse um mês e meio, já visitei três projetos, cada um com suas particularidades. E nesse período vi doenças que eu só tinha visto nos livros: tétano neonatal, difteria, kwashiorkor, raquitismo.

Mas hoje eu quero contar a história de Amina. Ela veio ao nosso centro de tratamento de desnutrição; estava fraca, desnutrida e ficava somente no colo de sua mãe. Amina não aceitava brincar com as pessoas da nossa equipe ou mesmo com outras crianças. Foi diagnosticada com tuberculose enquanto estava em tratamento para a desnutrição. Começamos também o tratamento para tuberculose e ela começou a apresentar melhora importante no quadro: ganhou peso, melhorou o apetite, parou de ter febre, começou a brincar. Hoje, quase um mês depois de dar entrada no hospital, Amina está indo para sua guriga (casa em somali) e, finalmente, aceitou vir para meu colo. Ela inclusive sorriu enquanto eu brincava com ela. Amina e muitas outras crianças que tratamos são a recompensa do nosso trabalho. Vê-los voltarem a brincar e a sorrir é o objetivo da nossa equipe.