Reestruturando uma maternidade no Afeganistão – Parte 1

Amélie Thouveny conta como cogitou pela primeira vez trabalhar em uma organização médica sendo arquiteta

Reestruturando uma maternidade no Afeganistão – Parte 1

Meu nome é Amélie, tenho 27 anos e acabei de voltar de 6 meses no Afeganistão, onde atuei como gerente de construção no projeto maravilhoso da maternidade de Khost.

“Você que é arquiteta, não está interessada em trabalhar em projetos de Médicos Sem Fronteiras?” Que frase estranha… Ouvindo mais a proposta, entendi que MSF não se trata só de emergência médica. Porque a emergência pode também estar no desenvolvimento de uma estrutura médica durável e estável, e não somente no surgimento de uma epidemia. E isso, poucas pessoas sabem. Tudo depende dos países, dos projetos. Em Khost, a emergência era a presença durável e de qualidade de uma estrutura que pudesse receber mulheres prontas para parir.

Situada no sudeste de Cabul, a uma centena de quilômetros da fronteira com o Paquistão, a cidade de Khost está no coração dos territórios “pashtun”, denominação do povo que vive dos dois lados da fronteira Afeganistão-Paquistão e tem uma cultura comunitária e familiar muito forte e presente. Essa cidade comporta uma população que se desenvolve a uma velocidade notável, tendo uma média de 2 mil nascimentos por mês há pelo menos um ano. Número que não para de aumentar.

Justamente por isso MSF propôs reestruturar a infraestrutura da maternidade, buscando um melhor atendimento na medida do possível, seguindo as regras de higiene e uma organização espacial eficiente para antecipar o suporte de casos graves. Reabilitando a maternidade, pensando na organização geral do complexo hospitalar, seguindo as necessidades médicas. Por isso a necessidade de arquitetos e engenheiros no projeto.

O destino jogou muito na minha decisão de ir, que realmente não foi fácil de tomar, mas que agora parece ter sido tão óbvia. Uma proposta dessas provoca muitos questionamentos na hora e pouco a pouco percebemos o quanto estamos cheios de preconceitos e medos (justificados ou absorvidos pelo que vemos na mídia). Eu fiquei com medo e com dúvidas profissionais, obviamente, mas com uma curiosidade maior que tudo. “Será que vou dar conta desse cargo?”. Eu não sabia o que realmente estava acontecendo lá, o cotidiano das pessoas, quais responsabilidade eu teria. Aceitei essas dúvidas e fui.

E que bom que eu fui, eu nunca pensei que eu encontraria pessoas tão dedicadas, tão competentes, tão convencidas do caminho que elas estão percorrendo no Afeganistão. Esse país de onde não sabemos muita coisa. Descobri um projeto de MSF que merece muitos elogios.

Lá, a questão toda para mim era profundamente baseada nas relações entre as pessoas. Eu tive a sorte, como mulher e arquiteta, de estar lá e trabalhar com os homens, podendo ao mesmo tempo visitar a maternidade quando precisava de informações, medidas, passar lá para cumprimentar as pessoas e ver a realidade das mulheres sem restrição (“áreas femininas” e “áreas masculinas” são delimitadas por razões religiosas e culturais).

Havia uma particularidade desse projeto nessa área: como é uma maternidade a maioria das profissionais eram mulheres, nas posições de logística e construção. Lá é muito raro ou quase impossível ter esse cargo como mulher.

 

LEIA AQUI a parte 2 deste diário de bordo.

 

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