Reestruturando uma maternidade no Afeganistão – Parte 2

A arquiteta Amélie Thouveny fala sobre gerenciar uma equipe de construção em meio a diferenças culturais

Reestruturando uma maternidade no Afeganistão

A parte de construção não envolve unicamente a maternidade principal de Khost. A estratégia toda inclui o que chamamos de « CHCs » (Centros Hospitalares Comunitários), que estão situados na periferia de Khost, para oferecer uma alternativa mais próxima para as pessoas que moram na periferia. Esses centros não pertencem diretamente a Médicos Sem Fronteiras (MSF). Nós os apoiamos para a melhoria do material e dos profissionais locais.

Eu rapidamente percebi o privilégio da minha situação, não somente pela proximidade que pude ter com as mulheres afegãs, mas sobretudo por realmente ter uma visão do estado de espírito dos dois lados.

Com a equipe de logística/construção, fomos nos ajustando pouco a pouco. Eles me testando, eu aprendendo as regras básicas de gerenciamento em uma cultura tão diferente, questão mais de atitude nesses países do que de técnica de gerenciamento clássicas. E descobri ao longo dos meses uma equipe muito eficiente, competente e cheia de humor. Apesar das dificuldade do contexto, um cotidiano o mais alegre possível para serem os mais eficientes. Eu nunca teria pensando conseguir trabalhar um dia no Afeganistão como eu sempre sonhei trabalhar: com muita cumplicidade, debates, troca de pontos de vista e de conhecimentos.

E sempre com bom humor porque, afinal, somos efêmeros lá. Vamos, mas sabendo que um dia acaba. Eles ficam. Eles, que nasceram lá, que escolheram trabalhar com MSF, vendo passar sempre mais nacionalidades, mais diferenças culturais. Eles que têm de se adaptar sempre a novas equipes. Nós vamos, trabalhamos, nos adaptamos e voltamos. Eles ficam. É muito importante saber que além da presença dos profissionais internacionais, a equipe nacional de Khost faz funcionar a maternidade de uma maneira notável e muito impressionante.

Agora, depois dessa experiência, me avisaram que a volta parece fácil, mas pode ser mais dura do que a própria ida. A gente entra num ritmo de trabalho sem nem pensar, vendo as coisas que tem para fazer e o impacto direto do nosso trabalho na vida das comunidades locais, não tem como ter horários fixos e a cabeça em um outro lugar. Na hora, é cansativo, mesmo que às vezes a gente nem sentia. Na volta, parece que a gente cai em um buraco, onde depois de tudo ter sido tão frenético e você tão útil, tudo parece fútil. É difícil lidar com isso, até achar um equilíbrio arrumando as ideias na cabeça, entendendo que isso foi parte de um momento e podem existir vários outros momentos assim. O balanço eterno, depois de um projeto humanitário forte e enriquecedor.

Demorei para conseguir escrever um diário de bordo, mesmo a escrita não sendo um problema durante o projeto. Escrever agora, no final, era a dificuldade. Tenho a impressão com esse texto de ter fechado um ciclo de vez, de estar me despedindo de pessoas de difícil acesso. Todas as emoções com as quais tenho que lidar tendo conhecido os rostos e os nomes das pessoas de lá, em um país tão incerto. E ter essa eterna impressão de que saí de lá cedo demais, antes mesmo de ter acabado o projeto. Tendo que voltar, mas querendo continuar a trabalhar por essa causa, essas famílias, essas mulheres, essas crianças. Dura realidade de um lugar que só tem a ganhar ao ser conhecido como algo para além de um contexto difícil, que tem um projeto de apoio local a mulheres incrivelmente fortes, com homens se dedicando a essas melhorias.

Dinâmica linda de se participar, ainda mais como mulher, arquiteta e europeia.
 

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