Os surtos podem propagar-se rapidamente em comunidades sobrepovoadas com uma densa estrutura habitacional, tais como campos para pessoas refugiadas e bairros em situação precária, quando o acesso a água limpa, a recolha de resíduos e a instalações sanitárias é inadequado. O facto de as pessoas estarem deslocadas, a destruição das infraestruturas, ou a falta de serviços públicos pode significar um risco grave de cólera no rescaldo de um desastre natural ou de um conflito. Tanto as secas como as cheias podem aumentar o risco de cólera. A seca reduz a quantidade de água limpa disponível, forçando as pessoas a usar água contaminada. As cheias podem espalhar bactérias e contaminar fontes de água.

A cólera é relativamente simples de tratar na maioria dos casos, recuperando as pessoas com casos ligeiros a moderados da doença, normalmente através de tratamento com fluidos e sais reidratantes, que são de fácil administração. As pessoas que estão gravemente desidratadas poderão precisar de fluidos intravenosos e de hospitalização. Nestes casos, devem ser admitidas num Centro de Tratamento de Cólera (CTC). Sem tratamento, o nível de mortalidade pode chegar aos 50 por cento. Com os cuidados médicos apropriados, é de cerca de 0,2 por cento.

A cólera ocorre em áreas com mau acesso a saneamento e com água imprópria para consumo – pelo que fornecer água potável limpa e instalações sanitárias adequadas às pessoas é vital para a prevenção e contenção de surtos. As equipas da MSF especializadas em água e saneamento fornecem saquetas para a purificação da água, entregam água limpa em camiões e instalam, consertam e limpam instalações sanitárias tais como casas de banho nas zonas afetadas. Informar as pessoas sobre boas práticas de higiene, como lavar as mãos, usar sanitários limpos, e utilizar apenas água limpa para beber ou para lavar comida também pode conter surtos da doença.

As vacinas contra a cólera são administradas por via oral, o que é prático para a vacinação em grande escala e não exige pessoal médico. Das duas vacinas utilizadas para a vacinação maciça, uma delas nem sequer precisa de cadeia de frio. Sabemos que uma dose de uma vacina garante proteção suficiente e pode reduzir ou prevenir a transmissão da doença, mas que a vacinação requer oficialmente duas vacinas. Contudo, em outubro de 2022, um grupo de vacinação e coordenação organizado pela OMS – do qual a MSF faz parte – aprovou a título excecional uma estratégia unidose devido à escassez de vacinas para a cólera e ao número elevado de surtos existentes no mundo.

Uma resposta rápida é vital para conter a propagação de um surto de cólera. A adoção célere de atividades de promoção da saúde – com a educação das pessoas sobre como contribuir para limitar a propagação – acrescida de atividades de água e saneamento, assim como do estabelecimento de centros de tratamento e a vacinação numa resposta de emergência pode ajudar a limitar o nível de propagação de uma epidemia e reduzir o número de pessoas que adoecem ou morrem.

A conceção do Centro de Tratamento de Cólera (CTC) pela MSF representou uma contribuição significativa para a resposta à epidemia da cólera. Um CTC é instalado no exterior de um hospital central para prevenir a propagação da doença, e é totalmente autónomo. Em locais a céu aberto com populações dispersas, o tratamento precisa de ser feito com a maior proximidade possível às populações afetadas. Os cuidados de saúde podem ser descentralizados para CTC de menor escala, conhecidos como unidades de tratamento de cólera, e para pontos de soluções de reidratação oral (SRO) apoiados por equipas móveis.