A maioria das mortes maternas ocorrem mesmo antes, durante ou depois do parto. O acesso atempado a profissionais qualificados pode ser uma questão de vida ou de morte para as mulheres que passam por complicações durante o parto. A MSF trabalha para remediar os “três atrasos” que as mulheres enfrentam ao receber cuidados durante o parto: o atraso na decisão de procurar cuidados de saúde; o atraso em chegar a uma unidade de saúde; e o atraso em receber tratamento adequado nessa mesma unidade. Para além dos serviços obstétricos de emergência e dos cuidados aos recém-nascidos, a MSF também presta cuidados pré e pós-natais, assim como serviços de contraceção.

Os surtos de doenças podem afetar de forma desproporcionada as grávidas, particularmente nas fases mais avançadas da gravidez. As grávidas são mais suscetíveis aos efeitos da infeção da malária, que pode levar à morte materna, ao aborto espontâneo ou ao nado-morto. Em alguns dos nossos projetos, até 50 por centro das mulheres em cuidados pré-natais podem testar positivo quanto à malária. A hepatite E tem uma taxa de mortalidade significativamente mais alta entre as grávidas, chegando a 25 por cento no caso de gravidezes no terceiro trimestre de gestação. Em alguns casos, a cólera pode levar a partos prematuros ou a complicações obstétricas.

Em 2022, as equipas da MSF forneceram cuidados médicos a mais de 39.900 sobreviventes de violência sexual; a maioria eram mulheres e raparigas, mas existe uma consciencialização crescente da violência sexual cometida contra homens e rapazes. Os cuidados que prestamos abrangem tratamento preventivo contra doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH, e vacinações para o tétano e para a hepatite B. A assistência médica é essencial, já que a prevenção do VIH tem de iniciar-se nas 72 horas após a agressão. O tratamento de ferimentos físicos, o apoio psicológico, e a prevenção e o controlo de gravidezes indesejadas também estão incluídos.

A paragem na progressão do trabalho de parto ou o seu prolongamento podem resultar numa fístula: uma abertura entre a vagina e a bexiga, a vagina e o recto, ou ambos. O resultado é a incontinência urinária e/ou fecal. As mulheres com fístulas vivem com vergonha e são frequentemente rejeitadas pelas famílias e comunidades. A operação para fechar a fístula requer competências cirúrgicas especializadas. A MSF organizou “campos para as fístulas” para fazer cirurgias às mulheres com fístulas. As fístulas podem ser facilmente prevenidas com o acesso a pessoal qualificado para dar assistência no parto e com uma gestão adequada do trabalho de parto obstruído, nomeadamente, a cesariana.

Mais de 90 por cento das crianças a viver com VIH estão infetadas devido às suas mães durante a gravidez, o parto, ou o aleitamento. A Prevenção da Transmissão de Mãe-para-Filho (PTMF) pode reduzir a probabilidade de transmissão para menos de dois por cento. A MSF integra a PTMF nos cuidados das mães e das crianças em locais com taxas de VIH médias a altas, onde é preciso apoiar outros esforços. Isto inclui a testagem e a disponibilização de medicação antirretroviral (ARV) para as grávidas que são VIH positivas, orientações sobre amamentação, aconselhamento e medicação ARV preventiva para recém-nascidos. Se, apesar dos esforços, o bebé é infetado, então será fornecido o tratamento necessário.

Os índices de cancro de colo do útero estão a subir a nível mundial, particularmente nos países de rendimentos baixos e médios, onde a doença é a principal causa de morte por cancro para as mulheres em muitos destes países. Em vários países, fazemos rastreios de cancro do colo do útero e tratamos pacientes nas fases iniciais da doença. A MSF faz um esforço acrescido em contextos de prevalência de VIH alta, já que as mulheres VIH positivas têm um risco muito superior de cancro do colo do útero, e são fornecidas as vacinas contra o vírus do papiloma humano (HPV), uma das primeiras causas de morte desta doença. Em 2019, vacinámos 13.000 raparigas no Zimbabwe contra o HPV.