5 relatos de refugiados rohingyas e profissionais de MSF em Bangladesh

Centenas de milhares de rohingyas vivem no maior campo de refugiados do mundo

5 relatos de refugiados rohingyas e profissionais de MSF em Bangladesh

Há três anos, em agosto de 2017, uma onda de violência dos militares de Mianmar contra a população rohingya no estado de Rakhine fez com que uma multidão fosse obrigada a fugir do país. O episódio de perseguição não foi o primeiro e hoje aproximadamente 900 mil refugiados rohingyas estão vivendo em campos superlotados em Bangladesh. Eles têm pouca esperança no futuro, possibilidades limitadas de trabalho e educação e estão sem solução à vista para retornar ao seu país de origem.

A pandemia de COVID-19 agravou ainda mais a situação. As restrições de movimento afetaram negativamente os que vivem de pequenos negócios e os refugiados que tentam uma saída em perigosas viagens pelo mar não recebem ajuda, com as autoridades usando o novo coranavírus como desculpa.

Confira abaixo, cinco relatos de refugiados e profissionais de MSF que estão no centro do problema em Bangladesh:

1.    Tarikul Islam, líder da equipe médica de MSF do hospital Balukhali

“Antes do influxo de refugiados em 2017, atendíamos em média 150 a 180 pacientes por dia, mas em um mês começamos a atender de 500 a 600 pacientes. Então, aumentamos nossa atividade médica. Em nossos hospitais e clínicas, a maioria dos pacientes que atendemos, crianças e adultos, tem infecções respiratórias e de pele ou doenças diarreicas. Há também um número significativo sofrendo de vários níveis de doenças psiquiátricas. Essas doenças graves entre os refugiados rohingyas estão principalmente relacionadas às suas péssimas condições de vida.”

2.    Jobaida, refugiada rohingya

“Eu e meu filho recém-nascido fomos testados para COVID-19. O teste deu positivo e fui transferida para a ala de isolamento com meu bebê. Passei 12 dias lá. Eu estava com medo porque há uma crença em nossa comunidade de que quem tiver COVID-19 morrerá. Os médicos e enfermeiras de MSF foram muito gentis, me apoiaram e me examinaram todos os dias. Eles não pareciam ter medo de se aproximar de mim, mesmo eu estando com a doença, o que me ajudou a me sentir melhor. Tive sorte porque não tive nenhum sintoma. Eu estava completamente bem o tempo todo.”

3.    Ferdyoli Porcel, pediatra de MSF

“Muitos refugiados rohingyas não estão acostumados a um sistema de saúde normal, pois já não podiam ir a hospitais em Mianmar. Temos que fazer muita promoção da saúde para convencê-los de que esse é um lugar seguro para se tratar.  Alguns pacientes chegam tarde, quando já estão gravemente enfermos. Muitos rohingyas são acostumados a viver em um quarto, sem as condições adequadas, o que significa que nossos pacientes, principalmente os mais novos, estão mais expostos a vários tipos de infecções.”

4.    Abu Siddik, refugiado rohingya

“Passar nossas vidas no campo é difícil. O espaço que temos é pequeno e os nossos abrigos são de plástico. Não há espaço para as crianças brincarem. Saí de Mianmar porque minha casa foi incendiada. Eles estavam matando e torturando todos e assediando nossas mulheres. Não era seguro. A viagem para Bangladesh durou três dias. Foi difícil porque a estrada também não era segura.

Estou pronto para voltar para Mianmar, desde que nossos direitos sejam garantidos e haja justiça e segurança. Pelo menos em Mianmar havia a possibilidade de uma educação para nossos filhos. Podíamos comprar roupas bonitas e morar em nossas próprias casas.”

5.    Teshome Tadesse, coordenador de logística de MSF

“Assim que recebemos nosso primeiro paciente com COVID-19 em Bangladesh, os desafios começaram rapidamente a se tornaram enormes em termos de recursos humanos, suprimentos e transporte. Enfrentamos dificuldades para trazer profissionais internacionais experientes para se juntar à resposta para a emergência. Um bloqueio de transporte foi decretado e tínhamos profissionais viajando diariamente de três a quatro horas para chegar ao trabalho.”

 

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