Ajuda em Mianmar ainda é insuficiente

Em artigo, a vice-diretora de operações de MSF no país, Juli Niebuhr, conta como a intervenção está sendo realizada e como vive a população

A maioria dos vilarejos a que temos acesso foi entre 80% a 90% destruído pela tempestade. Está uma grande confusão. No momento, nossa principal preocupação é oferecer os itens essenciais para as pessoas – as mais afetadas pelo ciclone – o mais rápido possível. Isso significa suprimentos médicos, materiais para abrigos, alimentos e água potável.

Nós temos 12 equipes médicas operando na área no momento. São equipes móveis, então eles vão a cada vilarejo para tentar encontrar as pessoas mais afetadas pelo fenômeno. A maioria dos pacientes que vemos tem ferimentos leves. Temos pacientes com ferimentos infectados, febre e diarréia. Outros com danos físicos devido à força das chuvas.

Outra grande preocupação é que as pessoas estão desabrigadas e, no momento, enfrentam falta de água, comida e saneamento básico. Há centenas de milhares de pessoas que estão se deslocando e que perderam suas casas. É necessária uma grande ajuda e, no momento, não há muita disponível na região.

Nossa grande vantagem é que trabalhamos nesse país por mais de dez anos, com uma equipe grande e qualificada. Por isso, pudemos enviar uma grande quantidade de pessoal médico especializado de maneira muito rápida para as regiões afetadas e que começaram a trabalhar imediatamente.

Nós usamos um caminhão para transportar nossos suprimentos até o ponto onde é possível. As estradas agora estão liberadas. A partir deste ponto, transportamos os suprimentos em um barco pequeno e, em alguns pontos, até mesmo com motos. Logisticamente, é muito complicado porque as pessoas estão espalhadas e não é fácil chegar até elas.

Nós temos transportado cerca de cem toneladas métricas de arroz, dezenas de milhares de lâminas de plástico também serão trazidas e temos suprimentos médicos que podemos enviar imediatamente, mas que eventualmente vão acabar. Então, estamos esperando que novos vôos com suprimentos possam chegar ao país. MSF espera que três aviões sejam enviados nos próximos dias, só estamos aguardando as autorizações.

Nas áreas que estivemos até agora, nossas equipes não viram nenhuma outra ajuda chegar. O que tem chegado às pessoas ainda é muito pouco. Nós temos atendido agora uma área onde vivem 50 mil pessoas e distribuímos arroz, peixe em lata, galões de água, lâminas de plástico para os que mais precisam.

Como não há água potável e grandes áreas do país foram inundadas, há um grande risco de doenças associadas à água contaminada.

A extensão da destruição provocada pelo ciclone é enorme e o número de pessoas feridas, mortas e desaparecidas está aumentando. A cada dia, os números oficiais aumentam. Uma área muito grande foi atingida e o impacto da tempestade foi enorme. Como eu disse, vilarejos inteiros foram destruídos e as áreas menos atingidas, pelo que vimos, foram entre 80% e 90% devastadas.

Milhares de pessoas em Yangon foram muito afetadas pelo ciclone também. Ainda não há eletricidade. A comunicação está péssima, as lojas estão fechadas. Não há comida suficiente e muitas pessoas ficaram sem suas casas, que foram muito danificadas. Por isso, estão morando em abrigos temporários.

Eu acho que muitas pessoas ainda estão em choque. Elas tentam lidar com isso com os poucos recursos que têm.

Todas as equipes de MSF estão trabalhando muito no momento. Nós enviamos 90 pessoas para o delta, que trabalham sem descanso. Deste total, metade são profissionais da área médica – 17 são médicos que estão montando novas clínicas, tentando chegar a novas áreas, buscando as pessoas mais afetadas pela situação e oferecendo assistência.

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