Como usar a tecnologia para salvar vidas?

Pete Masters, consultor de inovação médica de MSF escreve sobre os mais recentes projetos

Como usar a tecnologia para salvar vidas?

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está sempre procurando maneiras de melhorar o trabalho que realizamos, tratando pessoas em necessidade em crises humanitárias em todo o mundo. Como parte disso, criamos o “berçário de ideias” (Sapling Nursery, em inglês), um fundo que apoia nossas equipes em campo no desenvolvimento e teste de novas ideias.

Dois projetos inovadores acabaram de ser financiados. Mais de vinte propostas de projetos foram submetidas nesta rodada e decidir quais seriam financiados era, como sempre, uma decisão difícil.

Última Milha FriGo
O acesso a medicamentos modernos significa que as pessoas com HIV estão tendo uma vida longa e saudável. Mas o monitoramento regular da quantidade de HIV no sangue de um paciente (sua ‘carga viral’) é vital para garantir que os medicamentos específicos prescritos a um paciente estejam funcionando para ele. Se um medicamento não estiver funcionando e a carga viral de um paciente aumentar, ele pode desenvolver um quadro médico perigoso.

Em Zemio, na República Centro-Africana, onde MSF ajudou a estabelecer Grupos de Adesão Comunitária para pacientes que tomam medicamentos para HIV, esse tipo de monitoramento é incrivelmente desafiador. As amostras de carga viral devem ser transportadas mais de 1.000 km para o laboratório de testes na capital, Bangui. Para serem utilizáveis, elas devem ser mantidas frias durante toda a viagem, apesar do clima tropical do país.  

O processo de manter as coisas resfriadas no transporte é conhecido como “cadeia de frio”. A maneira mais simples de manter uma cadeia de frio é embalar as amostras com sacos de gelo. Mas Zemio não possui um suprimento confiável de pacotes de gelo e qualquer atraso na jornada pode fazer com que o gelo derreta no calor tropical, deixando as amostras inúteis.  

A equipe “Última Milha FriGo” tem como objetivo corrigir esse problema. Um médico de MSF e um designer do Royal College of Art, juntos, estão explorando a tecnologia disponível para desenvolver caixas de resfriamento ‘ativas’. Esses contêineres da cadeia de frio geram energia em movimento para manter ativamente temperaturas específicas, independentemente do clima. Isso seria uma mudança das caixas frias “passivas”, como aquelas que dependem de bolsas de gelo, que não podem ser controladas pela temperatura e não respondem ao clima externo.  

Se bem-sucedidas, as possibilidades de caixas de resfriamento ativas iriam muito além do transporte de amostras de carga viral. Somente na República Centro-Africana, as equipes de MSF precisam transportar medicamentos como a ocitocina para os centros de saúde entre 2 e 8 graus Celsius para evitar que as mulheres sofram de hemorragia após o parto; artesunato rectal para vilarejos remotos para uso no tratamento da malária grave; e medicamentos essenciais como diazepam, insulina, artesunato e cetamina, do armazenamento ao pronto-socorro em hospitais sem cadeia de frio ativa.  

E este são apenas alguns exemplos de como esses dispositivos podem levar medicamentos vitais para os pacientes que precisam deles. Em todo o mundo, existem muitos mais casos como esses.

Água mais inteligente para MSF
Em uma situação de crise como um desastre natural ou durante um surto de doença, a água limpa é vital para salvar vidas. As pessoas podem ser desalojadas de suas casas e forçadas a viver em ambientes lotados e informais, com infraestrutura muito limitada, como campos de refugiados. Surtos de doenças como a cólera, transmitida pela água suja, podem se espalhar rapidamente e levar a um grande número de mortes.  
Mas garantir um suprimento pronto de água limpa não é uma tarefa fácil.

Muitos dos locais onde MSF trabalha são geograficamente remotos. O clima pode ser muito seco, dificultando a localização de pontos de água, ou propenso a monções e inundações, o que significa que a água é facilmente contaminada. Poços, reservatórios e rios podem ser inadequados, poluídos ou simplesmente inexistentes.
Tudo isso faz com que encontrar, armazenar e distribuir água limpa seja um elemento de vital importância em nosso trabalho, com pouco espaço para erros.

Essa equipe, de vários projetos de MSF em vários países, está desenvolvendo um sistema que consiste em uma rede de dispositivos conectados que adquirem informações como profundidade da água, pressão, vazão e qualidade em tempo real.  

Esses dispositivos podem ser instalados onde quer que a água de MSF seja obtida, tratada, armazenada ou transportada, seja em poços subterrâneos, tanques ou sistemas de tratamento.
Esses dados dos dispositivos serão enviados por meio de um gateway (uma espécie de roteador) local para um painel onde serão exibidos pelos especialistas em água e saneamento de MSF e poderão gerar alarmes para ação imediata em casos críticos. Nossas equipes poderão monitorar, manter e desenvolver melhor esses sistemas vitais de água.  

O fornecimento de água é algo que MSF faz em grande escala e é parte essencial e vital de qualquer resposta humanitária. No ano passado,  apenas para os refugiados rohingyas em Bangladesh, milhões de litros de água foram fornecidos. Se essa equipe puder otimizar e melhorar o desempenho do sistema de água, o impacto poderá ser realmente alto. Isso significa ajudar-nos a alcançar mais pessoas com água limpa e segura, liberando tempo da equipe para trabalhar na próxima tarefa vital e economizando dinheiro dos doadores que poderia ser gasto em trabalhos que salvam vidas em outros lugares.
 

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