MSF amplia resposta a surto de cólera no Sudão do Sul

Organização está em meio à construção de seu quinto Centro de Tratamento de Cólera (CTC)

Na medida em que o surto de cólera entra em sua quarta semana na cidade de Juba, capital do Sudão do Sul, 29 pessoas perderam suas vidas e 1.306 foram tratadas.

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está administrando três Centros de Tratamento de Cólera (CTCs) e três pontos de reidratação oral (ORPs, na sigla em inglês) nas principais regiões da cidade. As equipes médicas já trataram 282 pessoas com cólera e estão em meio à construção de dois CTCs adicionais e outros pontos de reidratação.

MSF também continua a prover assistência técnica ao Ministério da Saúde para reduzir a demanda no Hospital-Escola de Juba. Na última semana, MSF enviou quatro profissionais adicionais para lá para ajudar a higienizar os calçados de todos os pacientes e cuidadores com água especialmente clorada que mata a bactéria da cólera. MSF planeja ampliar ainda mais o suporte referente à água e saneamento ao hospital, para ajudar a aumentar o controle da infecção.
 
Nesta entrevista, Brian P. Moller, coordenador-geral de MSF no Sudão do Sul, detalha as principais preocupações da organização e as atividades que estão sendo desenvolvidas:
 
“Esse surto de cólera é uma emergência que surge em meio a múltiplas emergências que acometem uma população extremamente vulnerável. Chega em um momento em que um milhão de pessoas estão deslocadas e equipes de MSF estão, também, observando níveis preocupantes de desnutrição em diversos localidades que já enfrentam picos de malária, além de estarem lidando com surtos de outras doenças, como o calazar.
 
Ao menos não houve aumento significativo no surto de cólera nas últimas semanas. Embora o número de pacientes esteja aumentando, o padrão atual parece envolver um aumento estável por algum tempo, seguido de dias nos quais o número de pessoas buscando tratamento começa a cair. No momento, parece que estamos no mais ameno dos estágios. Quando o surto entra em uma fase como essa, as pessoas começam a relaxar. No entanto, o pico após cada fase amena é um pouco maior do que o pico anterior. Portanto, não há como ser complacente, na medida em que o número de pacientes pode aumentar novamente.
 
Os esforços para prevenir a proliferação da doença precisam ter continuidade, e isso envolve atividades de promoção de saúde e conscientização das comunidades. Essas iniciativas precisam estar acompanhadas de uma ampliação persistente da oferta de instalações de tratamento em regiões onde os pacientes não têm acesso a cuidados especializados rapidamente. Na medida em que a cólera causa desidratação severa e mesmo a morte em questão de horas, é essencial que as pessoas tenham acesso a tratamento gratuito e de qualidade no menor intervalo de tempo possível. Além disso, as instalações de tratamento precisam estar abertas 24 horas por dia, já que a cólera não deixa de se espalhar quando o sol se põe.
 
Em uma cidade onde muitas pessoas não têm dinheiro para o transporte, é preocupante quando cuidados essenciais não estão perto delas no caso de um surto de cólera. O Ministério da Saúde organizou um esquema de telefonemas gratuitos para que as pessoas possam chamar ambulâncias que encaminharão pacientes, gratuitamente, para o Hospital-Escola de Juba, que é uma iniciativa importante. No entanto, o risco de que algumas pessoas não cheguem ao hospital a tempo existe. As famílias mais pobres, por exemplo, não têm telefones celulares para fazer essa chamada essencial. Além disso, leva algum tempo até que o número gratuito seja de conhecimento de toda a comunidade. Finalmente, as ambulâncias estão tentando cobrir uma cidade grande, com vias bastante congestionadas. Todos esses fatores podem resultar em atrasos preocupantes para se obter tratamento.
 
MSF está inaugurando dois CTCs adicionais nas próximas semanas no leste e no sul de Juba para garantir que mais pessoas tenham acesso a instalações de tratamento. O primeiro será uma instalação de 20 leitos no leste da região de Gumbo, separada do restante da cidade por uma ponte que se estende sobe o Rio Nilo. MSF já tratou 48 pacientes em seu ponto de reidratação localizado nessa área. Quando as pessoas chegam, nós provemos sais de reidratação orais para substituição dos fluidos perdidos por meio de diarreia ou vômitos. Nós, então, encaminhamos os casos mais graves para um CTC, para que possam receber fluidos via venosa. Acertos finais acerca da localização exata do quinto CTC de MSF na região de Hai Jabel foram concluídos recentemente, para que a construção pudesse ser iniciada na última semana.
 
O fato de a cólera ainda não ter invadido a rede de suprimento de água de Juba é um grande alívio. Se a fonte de água for contaminada, isso pode gerar um grave pico no número de pessoas demandando tratamento urgente. Na medida em que a estação chuvosa se intensifica, vai ser essencial nos mantermos atentos.
 
Estamos concentrando nossas atenções em regiões densamente povoadas, onde a doença pode se espalhar rapidamente. Um possível surto em dois acampamentos para pessoas deslocadas já foi antecipado. A população do acampamento foi vacinada contra a cólera há algum tempo, como precaução. Além de oferecer tratamento nos CTCs de MSF em cada um dos acampamentos, nossas equipes estão também conduzindo uma mobilização intensiva da comunidade e realizando atividades de promoção da saúde em todas as localidades.
 
Se surtos de cólera surgissem em outras partes do país, seria muito ruim. No início da semana passada, ficamos muito preocupados quando soubemos de casos de cólera em Yei, província vizinha de Juba. Imediatamente, MSF doou dez leitos de cólera para oficiais de saúde da região. Esta semana, uma equipe de três profissionais de MSF vai começar a avaliar Yei para ver se podemos contribuir com assistência. No entanto, parece que a situação está, atualmente, sob controle, que não houve um aumento do número de casos suspeitos nos últimos dias, o que é encorajador.
 
Em outras regiões do país, nossas equipes trataram um número pequeno de casos suspeitos em unidades especiais de cólera que foram construídas em projetos já existentes de MSF. Até o momento, não houve motivo para alarde nessas regiões. Teremos apenas que esperar e observar como as coisas se desenvolvem nesse surto nas próximas semanas. Como é difícil prever, as equipes de MSF vão continuar sendo pró-ativas e estando prontas para responder à doença.”

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