MSF lança estudo de caso sobre atendimento humanitário aos rohingyas

Estudo aborda os dilemas vividos pela organização nas atividades desenvolvidas entre 1992 e 2014

MSF lança estudo de caso sobre atendimento humanitário aos rohingyas

Por Nancy Barrett, gerente de projeto de Estudos de Caso sobre Posicionamento Público de MSF

Médicos Sem Fronteiras (MSF) lança mais um relatório da série “Speaking Out Cases Studies (SOCS)” – Estudos de Caso sobre Posicionamento Público. O estudo de caso “MSF e os rohingyas, 1992-2014” apresenta as duas primeiras décadas de atividades de seu atendimento humanitário ao povo rohingya e explora os dilemas que a organização enfrentou em torno do “falar publicamente”.

O documento faz parte da série de estudos de caso Speaking Out de MSF que analisa as ações da organização e os processos de tomada de decisão durante atividades humanitárias complexas.

Os rohingyas são uma minoria muçulmana que vive no norte do estado de Rakhine, em Mianmar, um país de maioria budista. Desde 1960, os rohingyas têm enfrentado perseguição e violência sistemáticas por parte dos militares, o que levou a deslocamentos em massa para o vizinho Bangladesh.

O novo SOCS examina as dificuldades que as equipes de campo e do centro operacional encontraram em torno dos desafios para MSF falar publicamente sobre a situação dos rohingyas, que enfrentam perseguições e violência em Mianmar e Bangladesh.

Falar publicamente colocaria as operações em perigo?

Durante o período que este estudo de caso cobre [1992-2014], MSF trabalhou principalmente por meio de canais diplomáticos ‘a portas fechadas’ para defender a situação de rohingyas junto a diplomatas estrangeiros ou agências da ONU. Christos Christou, presidente internacional de MSF, explica: “O silêncio de MSF na esfera pública foi desencadeado pelo medo de perder o acesso a seus pacientes, incluindo o grande grupo de pacientes com HIV/Aids em Mianmar¹. Isso criou intensos debates em MSF quando o dilema principal foi colocado: assumir uma posição pública colocaria em risco as operações em Mianmar e Bangladesh e levaria ao abandono os pacientes cujas vidas dependiam de MSF?”

A “defesa silenciosa” dos rohingyas foi fortalecida ao longo dos anos e vários relatórios de MSF foram escritos e amplamente divulgados para as partes interessadas locais e internacionais, mas não divulgados publicamente.

Essa “defesa silenciosa” foi desafiada dentro de MSF, pois várias pessoas na organização sentiram que MSF estava abandonando uma população perseguida por meio de seu silêncio na esfera pública. O fato de MSF não ter contatado nenhuma outra testemunha, apesar de termos mantido uma presença operacional, não foi visto como uma opção eticamente justificável para uma organização humanitária independente e imparcial como MSF.

Baseado em fatos, o estudo de caso reconstrói debates internos em torno de dilemas

O estudo de caso ilumina a dinâmica, dilemas e divergências internas subjacentes à resposta humanitária de MSF aos rohingyas em Mianmar e Bangladesh de 1992 a 2014.

“MSF tem uma forte tradição de debates. Ao enfrentar situações humanitárias complexas, baseamos nossas escolhas nas discussões internas de análises, opiniões e ideias. O SOCS foca em crises nas quais falar publicamente representa um dilema para MSF e, portanto, fala sobre as inevitáveis divergências internas que aconteceram ao decidir a melhor maneira de superá-las. Em um espírito de transparência, os Estudos de Caso sobre Posicionamento Público de MSF são disponibilizados. Acredito que que esse estudo de caso será uma leitura interessante e útil para a equipe de MSF, bem como para outros profissionais da área humanitária, e espero que os ajude a construir uma compreensão e um compromisso mais fortes com o ato de falar publicamente, o que em MSF consideramos essencial”, conclui Christos Christou.

A construção de cada Estudo de Caso segue uma metodologia rígida, que visa estabelecer os fatos históricos. Uma compilação de extratos de documentos de fonte primária e entrevistas apresenta um relato cronológico dos eventos e posições adotadas na época.

Laurence Binet, autora do MSF SOCS explica: “Esta abordagem baseada em fatos permite a reconstrução de debates e dilemas sem pré-julgar a qualidade da decisão tomada”. Binet acrescenta: “Entrevistamos os principais protagonistas da época da crise. Além de apuração de fatos, esses relatos fornecem uma perspectiva humana sobre os eventos e informações sobre a análise dos principais participantes.”

MSF disponibiliza todos os 13 SOCS para download em seu site internacional. Todos os 13 estudos de caso estão disponíveis para download em inglês e francês em https://www.msf.org/speakingout.

Assine o boletim eletrônico SOCS em https://mailchi.mp/66926b8db8fc/socsenewsletter.

 

¹ Em Mianmar, MSF foi autorizado a abrir programas de malária no estado de Rakhine e, a partir do final da década de 1990, passou a fornecer tratamentos anti-retrovirais (TARV) para pacientes com HIV/Aids em várias regiões, incluindo Rakhine. Em 2008, MSF forneceu cerca de 80% de todos os tratamentos de TARV disponíveis gratuitamente no país.

 

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