O que você precisa saber sobre a situação migratória na América Central

O que você precisa saber sobre a situação migratória na América Central

Os enormes riscos pelos quais a população solicitante de asilo e refúgio é exposta diariamente:

1) Sequestro

Nossos pacientes comumente descreveram situações de sequestros em grupo, nas quais foram colocados nos chamados “esconderijos”, onde sofreram altos níveis de violência. Alguns pacientes também relataram ter sido sequestrados por períodos longos, ter sido submetidos a trabalhos forçados, além de sofrerem exploração sexual e outros tipos de violência.

2) Detenção

O aumento das detenções sem um plano adequado do governo mexicano para lidar com os números levou a uma deterioração drástica das condições nos centros de detenção. Em alguns casos, o número de internações ultrapassa o dobro da capacidade. As instalações de detenção estão superlotadas, e as pessoas têm acesso limitado a água, alimentos e cuidados de saúde. Os serviços básicos não estão sendo entregues, informações sobre o status dos casos individuais não são fornecidas, e abusos, discriminação e maus tratos estão em ascensão.

3) Extorsão

Das pessoas entrevistadas, 35,8% foram ameaçados por extorsão. Essas práticas são levadas a cabo na maioria das vezes por gangues e grupos não estatais que exigem pagamentos exorbitantes e ilícitos (comumente chamados de “aluguéis” ou “impostos de guerra”) de famílias, pequenas empresas, provedores de transporte e outras entidades que operam em suas áreas de controle. Os empresários que não pagam os aluguéis, juntamente com suas famílias, são vistos como resistentes e são aterrorizados com ameaças de morte e violência.

4) Agressão

O que surpreende os migrantes e solicitantes de asilo é a violência que eles experimentam no México. O que normalmente é dito a eles antes da viagem não é nada comparado com o que eles sofrem ao longo do caminho. Dos entrevistados, 45,8% mencionaram pelo menos um evento envolvendo exposição a situações violentas como motivo chave para decidir migrar.

5) Violência Sexual

Nossos pacientes estão expostos a um alto risco de violência sexual tanto em seu país quanto na rota migratória. Esses casos são difíceis de identificar e muitas vezes passam despercebidos, em parte por causa do estigma relacionado à violência sexual, bem como pelo medo das vítimas de relatar casos devido à presença e ameaças dos agressores. A falha na identificação e tratamento da violência sexual deixa cicatrizes em homens e mulheres de todas as idades, assim como em um grande número de crianças.

6) Recrutamento por gangues

Organizações não estatais e gangues mantêm forte controle social em grande parte de Honduras, El Salvador e Guatemala, onde a pobreza e a violência estão ligadas à falta de serviços públicos e ao abandono pelo Estado. Grande parte da população que vive nessas regiões está exposta a ataques, ameaças e extorsão pelas gangues, tendo a liberdade limitada e vivendo com medo constante.

7) Deslocamentos

O deslocamento interno no Triângulo Norte da América Central continua a ser em grande parte invisível. Famílias ameaçadas abandonam suas casas e escapam sem ser notadas, encontrando lugares para se esconder. Às vezes elas se alocam nas casas de outros parentes, na esperança de evitar a detecção das gangues. Isso torna a identificação e ajuda às pessoas deslocadas que precisam de proteção muito mais difícil. Muitas vezes o deslocamento interno não é suficiente para permitir que as pessoas evitem a exposição à violência, seja porque as famílias acabam sendo rastreadas pelos grupos que as ameaçaram, ou porque os grupos armados que controlam o território em seu local de refúgio os submetem a novas ameaças. Nesses casos, fugir do país é considerada a única opção para escapar da violência.

8) Depressão e Ansiedade

Durante as visitas e consultas que MSF realizou em centros de detenção de migrantes no México em 2019, vimos, em comparação com outros postos de atendimento de MSF na rota, mais que o dobro do número de casos com sintomas agudos e dor emocional intensa. 35,5% dos nossos pacientes em El Salvador apresentaram sintomas relacionados à ansiedade, enquanto 19,5% apresentavam sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e 17,5% apresentavam sintomas relacionados à depressão.

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