Papua Nova Guiné: O sistema de saúde do país está à beira do colapso com a chegada da COVID-19 ao país

Nosso coordenador-geral interino, Ghulam Nabi, responde a três perguntas sobre o preocupante surto da doença e a atuação de MSF no país

Tratamento árduo e demorado da tuberculose

Até março de 2021, Papua-Nova Guiné havia sido amplamente poupada de qualquer grande surto de COVID-19. Em poucas semanas, porém, os casos confirmados triplicaram e um número cada vez maior de profissionais de saúde está testando positivo para a doença, o que os coloca em quarentena domiciliar. O sistema de saúde em Papua-Nova Guiné está em risco de colapso, pois as unidades de saúde que gerenciam os casos da COVID-19 estão próximas de atingir seu limite e quase sem capacidade de fornecer cuidados de saúde primários regulares.
Ghulam Nabi é o coordenador-geral interino de Médicos Sem Fronteiras em Port Moresby, Papua Nova Guiné, e descreve a difícil situação que a nação do Pacífico enfrenta atualmente.

Como está a situação em Port Moresby atualmente?

As unidades de saúde estão enfrentando dificuldades para lidar com o surto. Existem restrições significativas porque um número substancial de profissionais de saúde recentemente testou positivo para COVID-19. Eles têm que se isolar e não podem ir trabalhar. Vários serviços médicos foram restringidos e o restante das equipes está preocupado, já que esperam uma grande interrupção nos serviços de saúde.
O hospital Rita Flynn é um dos dois principais hospitais de Port Moresby e vimos que os pacientes que visitam as instalações são testados, às vezes depois de horas esperando na fila. Quase 40 por cento das pessoas que são testadas no local têm resultado positivo para a COVID-19. Esperamos casos cada vez mais graves nos próximos dias e semanas, com capacidade limitada de teste e de isolamento de pacientes com sintomas graves.
Em geral, as mensagens de saúde pública precisam ser reforçadas. A ameaça atual precisa ser melhor compreendida entre as pessoas. O governo impôs o uso de máscara, mas a maioria das pessoas não está seguindo as instruções. Existem alguns rumores e descrença geral sobre a pandemia. As pessoas só ficam assustadas quando recebem um resultado de teste positivo. Isso também leva à estigmatização de suas famílias e comunidades.

O que é necessário para melhorar a situação?

Um dos gargalos é a capacidade de testagem no país. Quase não restam cartuchos, necessários para testar amostras de PCR, e não há profissionais de saúde suficientes para realizar os exames. Equipamentos de proteção individual adicionais, capacidade de teste e recursos humanos precisam ser obtidos rapidamente para fornecer apoio ao sistema de saúde já sobrecarregado. MSF está pedindo às organizações da região que ajam rapidamente e se mobilizem para aumentar seu apoio a Papua Nova Guiné.
O atual surto da COVID-19 no país chama atenção à urgente necessidade de uma equidade na vacinação global. As vacinas precisam ser disponibilizadas rapidamente para a equipe de saúde da linha de frente e grupos de alto risco, conforme recomendado pela OMS. Embora seja tarde demais para conter o surto atual, precisamos de vacinas o mais rápido possível em Papua Nova Guiné para mitigar o impacto do surto no sistema de saúde e prevenir ou pelo menos limitar novos surtos.

Como MSF está respondendo ao surto de COVID-19 no país?

Nossa capacidade de resposta é limitada. Testamos todos os funcionários que trabalham em nossos projetos regulares de tuberculose nos últimos dias, e quase um terço do pessoal local testou positivo. Eles estão em quarentena domiciliar e estamos monitorando sua saúde.
Em outubro do ano passado, começamos a apoiar o hospital Rita Flynn em Port Moresby com um técnico de laboratório e cartuchos para analisar amostras de testes de PCR para infecções por COVID-19. Só nos restam cartuchos de teste suficientes para duas semanas, por isso estamos buscando cartuchos de um fornecedor internacional. Também estamos nos preparando para uma parceria com o Hospital Rita Flynn para gerenciar uma instalação improvisada de tratamento da COVID-19 com 43 leitos, onde trataremos casos moderados e graves a partir do início de abril

Partilhar