Pessoas deslocadas pela guerra no Sudão enfrentam agora crise humanitária no Sudão do Sul

Em Renk e Bulukat, Sudão do Sul, há imensas famílias que fugiram da guerra no Sudão e estão agora expostas ao risco da fome e da desnutrição

Sudão do Sul
©️ Gale Julius Dada/MSF

Milhares de pessoas que fugiram do conflito no Sudão estão a enfrentar uma grave falta de água potável, alimentos, abrigo e cuidados de saúde nos centros de trânsito em Renk e Bulukat, duas localidades no vizinho Sudão do Sul, onde os refugiados e regressados vivem em condições precárias de sobrelotação, aumentando o risco de surtos de doenças.

Desde que a guerra eclodiu em abril de 2023, mais de meio milhão de pessoas fugiu para o Sudão do Sul, das quais 80 por cento são sul-sudaneses regressados ao país de origem. Muitas dessas pessoas não têm um destino em mente e passam semanas, ou meses até, nos centros de trânsito sob duras condições de vida.

“Estamos muito preocupados com o que se está a passar nos centros de trânsito, especialmente numa altura em que são esperadas ainda mais pessoas, devido ao agravamento dos combates no Sudão”, avança o coordenador do projeto da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Sudão do Sul, Zakaria Mwatia.

Precisamos de uma resposta humanitária reforçada, porque a guerra está a ter um impacto cada vez maior nas necessidades humanitárias das pessoas no Sudão do Sul”, sublinha Zakaria. “Apelamos a outras organizações internacionais e às autoridades para aumentarem a assistência humanitária, de modo a minorar o sofrimento das pessoas afetadas pela crise.”

 

Precisamos de uma resposta humanitária reforçada, porque a guerra está a ter um impacto cada vez maior nas necessidades humanitárias das pessoas no Sudão do Sul.”

– Zakaria Mwatia, coordenador do projeto da MSF

 

Em Renk, há dois centros de trânsito excessivamente sobrelotados. Estão agora a viver quase 30 000 pessoas, numa área da região que era suposto receber apenas 12 000. O centro de trânsito em Bulukat é ainda mais pequeno e tem alojado de forma consistente cerca de 5 000 pessoas desde julho, porém, as condições de habitabilidade das pessoas são igualmente difíceis.

Nas duas localidades, há imensas famílias que deixaram tudo para trás, e estão agora expostas ao risco da fome, desnutrição e de várias doenças; um risco que é exacerbado pela falta de abrigos adequados, de água potável e de infraestruturas de saneamento.

Sudão do Sul - Conflito
Chuol Hoth, profissional médico da MSF, observa uma criança na clínica móvel da MSF em Bulukat. ©️ Gale Julius Dada/MSF, 2023

Desde maio de 2023, as equipas da MSF têm trabalhado através de duas clínicas móveis em Renk e, desde julho do ano passado, através de uma em Bulukat, de modo a fornecer cuidados de saúde primários aos regressados e refugiados, bem como à comunidade anfitriã. A um ritmo de 150 pacientes por dia, a clínica móvel em Bulukat já forneceu 28 000 consultas em regime de ambulatório. As nossas equipas estão também a prestar apoio na ala pediátrica e unidade de internamento para crianças desnutridas no Hospital Civil de Renk.

Em 2023, a MSF respondeu a um surto de sarampo e providenciou tratamento a números alarmantes de crianças desnutridas. No mesmo ano, respondeu também a um aumento de casos de malária entre pessoas abrigadas nos centros de trânsito. Durante a temporada chuvosa, o número de casos positivos dessa doença alcançou os 70 por cento, pois a maioria das pessoas deslocadas não tem acesso a redes mosquiteiras ou a tratamento preventivo. Nesse contexto, as nossas equipas distribuíram também 44 730 redes mosquiteiras a recém-chegados nos centros de trânsito entre novembro de 2023 e janeiro de 2024.

“Há muitas pessoas a viver fora dos centros de trânsito, porque não há espaço suficiente dentro deles”, explica a gestora de atividades de promoção de saúde da MSF em Renk, Mpumi Zokufa. “Algumas vivem em campos a céu aberto e não têm cobertores nem sítio para dormir. Os únicos materiais que têm para se cobrir são as redes mosquiteiras providenciadas por nós.”

A escassez de água é crítica nos dois centros de trânsito em Renk. Cada pessoa consome, no máximo, 11 litros de água por dia, quando a quantidade adequada recomendada em emergências é de 20 litros por dia. Muitas recorrem à água do rio, expondo-se a doenças transmitidas pela água.

Nos próximos meses, as equipas da MSF estarão em alerta para responder a possíveis surtos de sarampo e de doenças transmitidas pela água e estabeleceram duas alas de isolamento para sarampo e cólera em Renk.

“A falta de água, saneamento e as lacunas nas rotinas de higiene representam uma séria ameaça à saúde pública”, frisa Zakaria Mwatia, coordenador do projeto. “Têm de ser reforçadas medidas de higiene e saneamento e implementadas campanhas de vacinação nas fronteiras do Sudão do Sul, bem como nos centros de Renk e Bulukat, para evitar possíveis surtos de doenças. Simultaneamente, o transporte rápido de pessoas é imperativo para evitar estadas prolongadas nos centros de trânsito.”

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