Serra Leoa: corrida contra o tempo para controlar o surto de Ebola

A demora para encontrar e acompanhar pessoas que tiveram em contato com pessoas doentes facilita a propagação do vírus.

Nas últimas duas semanas, Médicos Sem Fronteiras (MSF) tratou mais de 70 pacientes com sintomas de Ebola no centro de tratamento de Kailahun, no leste de Serra Leoa. MSF está preocupada com a possibilidade de um aumento no número de pacientes, já que as equipes começaram a trabalhar para encontrar pessoas com o vírus.

“Para acomodar o crescente número de pacientes, MSF expandiu a capacidade do centro de tratamento de 32 para 65 leitos”, diz a coordenadora de emergência Anja Wolz.

Além de tratamento médico, para controlar o surto será necessário um grande número de pessoas para capacitar os profissionais de saúde em medidas de controle da infecção; acompanhar e rastrear as pessoas infectadas e seus contatos; criar uma rede de vigilância epidemiológica e disseminar mensagens de saúde pública.

Por conta de recursos humanos limitados, MSF está concentrando seus esforços no tratamento de pacientes e na educação das comunidades sobre a doença. No momento, mais de 150 profissionais nacionais e internacionais estão trabalhando no controle do surto em Serra Leoa.

MSF está preocupada com casos escondidos

MSF está correndo contra o tempo para impedir a propagação da doença. “Estamos enfrentando uma pressão imensa: quanto mais se demora para encontrar e acompanhar as pessoas que tiveram em contato com as pessoas doentes, mais difícil será controlar a doença”, diz Wolz.

O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estão começando a reforçar as equipes para o contato de rastreamento. De fato, os pacientes ainda precisam ser identificados – cerca de 40 foram registrados em apenas uma vila em Ngolahun (na Província do Leste, em Serra Leoa). “Ainda não temos ideia de quantas vilas foram afetadas. Tenho receio de que estejamos vendo apenas a ponta do iceberg”, acrescenta Wolz.

Instalações de tratamento especializado

Ao montar centros de tratamento e unidades de trânsito próximos aos vilarejos afetados, MSF pode tratar pacientes rapidamente e reduzir o risco de infecção nos hospitais locais e nas comunidades. Nas unidades de trânsito em Koindu e Daru, pacientes que apresentam os sintomas são isolados enquanto esperam os resultados dos exames.

A cepa Zaire do vírus Ebola pode matar até 90% dos pacientes, mas os pacientes que receberam tratamento aos primeiros sinais da doença têm mais chances de sobreviver.

Educação é indispensável

O Ebola gera medo dentro das comunidades e as pessoas com a doença são, frequentemente, estigmatizadas. “Famílias podem ser expulsas de suas cidades e as pessoas doentes podem ser deixadas para morrerem sozinhas”, diz Wolz. Apoio psicológico é oferecido aos pacientes e suas famílias. As equipes de MSF organizam atividades participativas de promoção de saúde com pacientes curados. Para reduzir o temor, também estão realizando campanhas de sensibilização para informar as pessoas sobre como o vírus se propaga. Assim como estão encorajando as pessoas a relatar casos de febre hemorrágica, evitar contato com pessoas infectadas com o vírus e a não tocar em cadáveres de alguém que contraiu Ebola.

O surto de Ebola que atualmente se espalha pela África Ocidental está alcançando níveis sem precedentes em termos de disseminação geográfica, número de casos e de vítimas. Segundo a OMS, foram registrados 848 casos de Ebola e 518 mortes na Guiné, Serra Leoa e Libéria desde o início do surto.

Nos dias 2 e 3 de julho de 2014, 11 ministros da Saúde da região, OMS e organizações internacionais se reuniram em Acra (Gana) para avaliar a situação e tomar medidas para frear o surto.

MSF pediu a todas as partes presentes para que transformem suas promessas em ações de campo imediatas – em outras palavras, para que disponibilizem médicos qualificados, que organizem sessões de treinamento sobre como tratar Ebola, que melhorem o rastreamento de contatos e ampliem as atividades de sensibilização.

MSF também pediu que líderes e pessoas influentes nos países afetados divulguem mensagens de saúde pública nas comunidades afetadas, já que essa é a única forma de reduzir o medo e o estigma.

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