Sudão do Sul: MSF encerra projeto em Melut

A organização concluiu suas atividades após três anos oferecendo cuidados de saúde na região

Sudão do Sul: MSF encerra projeto em Melut

No fim de janeiro de 2017, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) fechou as portas de seu centro de saúde de emergência em Melut, no Sudão do Sul. A atuação de MSF no nordeste do país foi um sucesso e ajudou a preencher grandes lacunas dos serviços de saúde de regiões afetadas por confrontos desde o fim de 2013. Agora que as necessidades da população local mudaram, MSF está buscando apoiar outras comunidades afetadas pelo conflito na região.  

Antes de 2013, Melut já havia escapado do pior momento de violência da luta do Sudão do Sul por independência. Há três anos, porém, isso tudo mudou: a região, rica em petróleo, foi palco da eclosão do conflito entre o governo e as forças de oposição, o que levou muitos a fugirem para os acampamentos de pessoas internamente deslocadas próximo a Melut. MSF foi uma das primeiras ONGs internacionais a chegar no local para apoiar a população.    

Agora, em 2017, há menos confrontos nos arredores de Melut, e as necessidades da população deslocada são outras. Das 19.500 pessoas que chegaram à região inicialmente, cerca de 5 mil foram partindo gradualmente. Além disso, agentes médicos locais têm uma capacidade maior de oferecer cuidados de saúde ali, deixando MSF livre para ir até lugares onde as necessidades sejam maiores.

“O papel de MSF como agente de resposta inicial foi crucial no começo da emergência. Pudemos cuidar das pessoas deslocadas assim que elas começaram a chegar, no início de 2014”, diz Marta Cazorla, coordenadora de projeto de MSF para Melut. “Muitos chegaram aqui exaustos e cansados após uma longa jornada, e com pouquíssimo alimento. Na época, pudemos prestar cuidados básicos de saúde, oferecer vacinação para todas as crianças a fim de evitar surtos de doenças e distribuir alguns itens básicos e necessários para que essas pessoas pudessem recomeçar suas vidas”.

Monyjok Dau John Akim, residente de um dos acampamentos que posteriormente começou a trabalhar para MSF, descreve as terríveis condições do local: “No início de 2014, a situação do acampamento era péssima. Não tínhamos abrigo, apenas alguns pedaços de lona plástica para nos cobrirmos. Não tínhamos alimento e estávamos usando a água do rio para tudo, até para beber. Foi assim até MSF começar a nos oferecer água própria para consumo”.

“Depois da pressa para tratar os primeiros que chegaram, concentramos nossos esforços e começamos a oferecer mais serviços especializados com o objetivo de reduzir os altos níveis de desnutrição no local e fornecer cuidados para os que sofrem com doenças endêmicas nessa região pantanosa, como tuberculose, calazar, HIV e hanseníase”, explica Marta Cazorla.

Ao longo de nossa atuação, o número de consultas diminuiu consideravelmente. No início de 2014, quando o projeto começou, MSF tratou cerca de 21 mil pacientes ambulatoriais. Em 2016, esse número caiu para 5.700, já que a situação médica havia se estabilizado.

Apesar das dificuldades de trabalhar em uma região propensa a conflitos, MSF continua comprometida com a região do Grande Upper Nile. Em 2016, um hospital foi especialmente construído no complexo de Proteção aos Civis próximo à cidade de Malakal. MSF também mantém uma clínica na parte oeste do Nilo, próximo da saída da cidade de Wau Shilluk.

“Como uma organização de emergência, somos guiados pelo princípio de intervir em uma crise de saúde, seja ela natural ou antrópica”, explica Marta Cazorla. “Em Melut, as necessidades da população deslocada mudaram, e temos trabalhado para preparar outros atores de saúde, que são mais habilitados para oferecer esse tipo de cuidados. Estamos prontos para atuar em outra emergência, caso as necessidades aumentem novamente.”

 

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