Troca de medicamento para tratamento de malária na África pode salvar 200 mil vidas por ano

Conclusão é de relatório de Médicos Sem Fronteiras, lançado para marcar o Dia Mundial contra Malária, comemorado no dia 25 de abril

No novo relatório, “Fazendo a mudança” (“Making the switch”, no original em inglês), a organização médico-humanitária Médicos Sem Fronteiras afirma que a substituição de Quinina por Artesunato no tratamento de crianças com malária grave pode evitar quase 200 mil mortes na África anualmente. MSF pede aos governos de países africanos para que sigam as novas diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgadas ontem.  A organização também pede à OMS e aos agentes financiadores que apóiem os governos para realizar essa transição rapidamente.

“Quando as crianças chegam à clínica, com malária grave, elas freqüentemente têm convulsões, estão vomitando ou correm o risco de entrarem em choque, e tudo que queremos é dar a elas um tratamento rápido e eficaz”, disse Veronique De Clerck, coordenadora médica de MSF em Uganda. “A quinina tem sido usada por décadas para tratar a malária grave, mas o seu uso pode ser difícil e perigoso. É hora de acabar com a sua utilização. Com o artesunato, agora temos um remédio para salvar mais vidas, que é mais seguro, mais fácil e mais eficaz do que a quinina”.

A quinina deve ser administrada três vezes por dia, em um gotejamento intravenoso que leva quatro horas, um tratamento que é um fardo tanto para os pacientes quanto para as equipes médicas. O artesunato, por sua vez, pode ser administrado em apenas quatro minutos, pois o paciente recebe o medicamento através de uma injeção intravenosa ou intramuscular.

Um ensaio clínico realizado no final de 2010 concluiu que o uso do artesunato para tratar crianças com malária grave reduz o risco de morte em quatro vezes. O estudo, realizado em nove países africanos, concluiu que para cada 41 crianças que receberam artesunato em vez de quinina, uma vida a mais foi salva. Devido à complexidade de administrar a quinina, as crianças da pesquisa que foram designadas a receber esse medicamento eram quase quatro vezes mais suscetíveis a morrer antes mesmo de receber tratamento.

MSF participou do ensaio por meio de sua parceira de pesquisa Epicentre. A pesquisa foi realizada em Uganda. Desde então, MSF mudou seus protocolos de tratamento e agora planeja trabalhar com as autoridades de saúde nacionais para implementar o artesunato em seus projetos, nos próximos meses.

As evidências são impressionantes, mas o relatório de MSF enfatiza que a mudança não ocorrerá por conta própria. Apesar de a OMS ter divulgado ontem novas diretrizes recomendando o artesunato para o tratamento de malária grave em crianças da África, ela também precisa desenvolver um plano para ajudar os países a fazer esta mudança. Os governos africanos devem mudar com urgência seus protocolos de tratamento, e os financiadores devem mandar um sinal claro para os países que apóiam de que irão cobrir os custos adicionais necessários. O artesunato é três vezes mais caro, mas a diferença de custo de 31 milhões de dólares por ano para uma mudança global é muito pequena se comparada com as quase 200 mil vidas que podem ser salvas, segundo pesquisadores.

“Isso já aconteceu antes, quando a OMS mudou sua recomendação de tratamento para casos de malária simples em 2001. Alguns países levaram anos para fazer a mudança, e, surpreendentemente, dez anos depois, ainda há lugares em que os remédios antigos são utilizados”, disse o Dr. Martin De Smet, que coordena os trabalhos de malária de MSF. “No caso da malária grave, a OMS precisa garantir que a mudança seja feita rapidamente, de modo que muitas vidas possam ser salvas imediatamente. Não há nenhuma desculpa para não fazer a mudança agora”.

MSF ofereceu tratamento de malária para aproximadamente 1 milhão de pessoas em 2010. A doença, em seu estado grave, mata mais de 600 mil crianças africanas com menos de cinco anos de idade por ano. A cada ano, cerca de 8 milhões de casos de malária simples evoluem para o quadro grave, quando os pacientes começam a mostrar sinais de danos nos órgãos, que podem envolver o cérebro, pulmões, rins ou vasos sangüíneos.

“Making the switch”, o novo relatório de MSF que pedia uma mudança protocolar no tratamento de casos graves de malária em crianças pode ser acessado em www.msfaccess.org.

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