Uma manhã com um agente de saúde de MSF no Curdistão iraquiano

Shihab, 30 anos, está trabalhando como agente de saúde comunitária com MSF no campo de Kawargosk. Ele próprio é um refugiado sírio curdo e está no acampamento desde sua inauguração, em agosto de 2013. Originalmente de Derek, ele trabalhou como jornalista e diretor de teatro em Damasco antes de deixar a Síria.
O campo de Kawargosk, na província de Erbil, no Curdistão iraquiano, atualmente abriga mais de 13 mil refugiados sírios. O papel desempenhado por agentes de saúde comunitária é disseminar mensagens sobre saúde e higiene às pessoas do acampamento, bem como informações sobre os serviços que MSF oferece ali.
Após receber informações sobre o dia de trabalho, Shihab se junta a outra agente de saúde, Aala, com o objetivo de visitarem dez tendas no decorrer de um dia. “Hoje, nossa tarefa é visitar uma série de pacientes com doenças crônicas, como diabetes e pressão alta, para agendarmos um encontro no centro de saúde de MSF na próxima semana com a propósito de sensibilizá-los sobre a importância de exercícios. Vamos ver como vai ser a reação das pessoas, já que é a primeira vez que tentamos algo assim”, conta.
Durante a caminhada, um dos pacientes com diabetes na lista de Shihab se aproxima. Eles conversam por dez minutos sobre a importância de uma dieta balanceada e a prática regular de exercícios. O paciente demonstra interesse em participar do encontro no centro de saúde.
Shihab e Aala procuram a próxima tenda da lista. O sistema de numeração pode ser bastante confuso. No fim das contas, um dos pacientes que eles estavam procurando havia retornado à Síria.
Esgoto não tratado corre pelo acampamento. “As crianças brincam no esgoto. Uma de nossas responsabilidades é falar às pessoas sobre a importância da higiene e que elas devem proteger as crianças. Brincar no esgoto pode causar doenças. Mas realmente precisamos de um melhor sistema de saneamento no acampamento”, diz Shihab.
Na próxima tenda, Shihab fala novamente sobre dieta e exercícios. A tenda é compartilhada por nove membros de uma família. O pai está fora, trabalhando como eletricista na cidade de Erbil, a 30 km do acampamento.
Shihab: “A distribuição de alimentos no acampamento inclui massa, arroz, bulgur de trigo, sal, açúcar e tomate concentrado. Mas o arroz e a massa não são de boa qualidade. O arroz não fica propriamente cozido nem depois de duas horas na panela, enquanto a massa fica pastosa e, em seguida, volta ao seu estado original depois de cozida. Muitas pessoas vendem a massa a habitantes da região que a usam para alimentar animais”.
Na tenda seguinte, Shihab e Aala bebem chá na presença de representantes de três gerações de uma mesma família, enquanto discutem a importância da dieta e da prática de exercícios com Fatima, uma refugiada síria de 60 anos.
Fatima conta que seu vilarejo na região rural de Qamishli foi vítima de ataques aéreos. Ela diz que o maior desafio aqui no acampamento são os banheiros. Até dez tendas compartilham o mesmo banheiro e essa é uma questão para ela, principalmente por ser diabética.
A tenda seguinte abriga uma família de oito pessoas. A região deles, ao sul de Qamishli, foi bombardeada enquanto eles estavam acordados, fazendo a refeição antes do amanhecer, durante o Ramadan. Eles tiveram que escapar deixando suas terras e tudo o que tinham para trás. As quatro filhas da família têm diplomas universitários. Uma é enfermeira qualificada com 15 anos de experiência. Outra estudou direitos humanos.
Dos cinco pacientes da lista visitados antes do almoço, quatro disseram que certamente participarão do evento no centro de saúde a ser realizado na próxima semana; um disse “talvez”.
O turno da manhã está acabado. Cinco outras visitas serão feitas depois do almoço.
Shihab vive em Kawargosk desde que o campo foi aberto. Ele divide sua tenda com sua esposa, suas filhas gêmeas Silav, cujo nome que significa cachoeira, e Lilav, que quer dizer água gelada, e o recém-nascido Silar, que significa cascata de fogo.
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O acampamento de Kawargosk, no Curdistão iraquiano, hoje abriga mais de 13 mil refugiados sírios. Ali, um banheiro é compartilhado por membros de até dez tendas e o esgoto corre sem tratamento algum a céu aberto. Shihab é agente de saúde comunitária de Médicos Sem Fronteiras e refugiado suas atividades incluem a conscientização das pessoas sobre a importância de cuidados com a higiene e da prática de exercícios. Confira as imagens de uma manhã de seu trabalho no acampamento. (Fotos: Karem Issa/MSF)

A reunião no centro de saúde, que fora realizada na semana seguinte, contou com a participação de 100 refugiados. A importância da prática de exercícios foi discutida e eles foram encorajados a fazê-lo regularmente.

Atualmente, há mais de 200 mil refugiados sírios no Curdistão iraquiano, sendo que mais de 90 mil estão na província de Erbil. MSF inaugurou projetos no campo de Kawargosk em setembro de 2013 e no campo de Darashakron em março de 2014, oferecendo cuidados de saúde primária e serviços voltados para a saúde mental. Mais de 70 mil consultas de saúde primária foram realizadas, bem como mais de 600 sessões de saúde mental. Em outubro de 2014, MSF repassou suas atividades de saúde primária em Darashakran e está em meio ao processo de repasse das atividades de saúde primária em Kawargosk. A organização vai continuar oferecendo serviços de saúde mental em ambos os acampamentos.

MSF também atua na província de Dohuk oferecendo cuidados de saúde primária, saúde mental, partos e serviços de saúde materna no campo de Domeez.
 
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