Atendendo refugiados no campo de Leitchuor, na Etiópia

“A campanha de vacinação está dando uma chance a essas crianças. A chance de superar o absurdo que é morrer por uma doença que é evitável e tratável”

Deitada em uma cama na ala dedicada à desnutrição do hospital, Nyamal está lutando por sua vida. Ela é uma de nossas pacientes com pneumonia (infecção do trato respiratório baixo), e cada respiração é trabalhosa e difícil para ela. Seu pequeno peito se comprime para dentro de suas costelas – é preciso todos os seus músculos precisam ser usados para sugar o precioso ar –, as palmas das mãos estão pálidas e seus lábios azulados, revelando sinais de baixo oxigênio no sangue. Ela está febril e inconsciente. Enquanto coloco a máscara de oxigênio em seu rosto e começo a dar para Nyamal os antibióticos de que ela precisa desesperadamente para ajudá-la a lutar contra a infecção, noto sua mãe segurando suas mãos o mais forte que pode. Ela já perdeu um bebê assim antes, e não pode se dar ao luxo de perder outro, diz ela.

Nyamal é uma das muitas pacientes internadas no hospital em que trabalho como médica em Leitchuor, um campo de refugiados na Etiópia. Nosso hospital daquelas de onde vieram – vivendo em tendas superlotadas e mal ventiladas, em meio a terríveis atende mais de 40 mil refugiados sul-sudaneses. Fugindo da guerra e da fome no Sudão do Sul, essas pessoas atravessam a fronteira para descobrir que as condições no acampamento não são muito diferentes condições de higiene, é fácil para as doenças se propagarem. A pneumonia é responsável por um grande número de admissões em nosso hospital, perdendo apenas para a malária – e muitos pacientes chegam em estado grave. A doença afeta, principalmente, os mais vulneráveis – crianças com menos de cinco anos. Seus sistemas imunológicos ainda não estão maduros o suficiente para lutar contra infecções, e ficam especialmente fracos quando elas estão gravemente desnutridas, como é o caso de muitas crianças no acampamento. Um resfriado rapidamente se transforma em pneumonia, e, ao menos que os pais busquem ajuda, muitas morrem devido à doença.

A boa notícia é que há uma vacina que favorece o sistema imunológico das crianças contra os tipos mais comuns e letais da bactéria pneumocócica e do vírus Haemophilus, que causam a pneumonia, o que facilita para seus corpos o combate à doença. Como é cara, a maioria dos países pobres não tem a vacina disponível em seus sistemas de saúde. Ciente do peso da pneumonia na mortalidade infantil na crise de refugiados na Etiópia, MSF organizou uma enorme campanha de vacinação nos acampamentos para refugiados, oferecendo proteção para todas as crianças. Durante a campanha, mais de seis mil crianças foram vacinadas contra o vírus Haemophilus e mais de 23 mil contra a bactéria pneumocócica.

Observando através da porta do hospital uma multidão de crianças passando por ali no colo de suas mães segurando os cartões de vacinação laranjas que elas recebem quando são vacinadas, eu e a equipe médica ficamos esperançosos. A campanha de vacinação está dando uma chance a essas crianças; a chance de superar o absurdo que é morrer por conta de uma doença que é evitável e tratável. Como se vê, não é só a mãe de Nyamal que não se pode dar ao luxo de perder mais um filho.

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