Paquistão: primeira vez no terreno

A farmacêutica Nathalia Peixoto de Oliveira conta sua primeira visita a uma clínica de MSF

Paquistão: primeira vez no terreno

Podemos começar por aprofundar um pouco o que eu faço aqui: sou farmacêutica de suporte baseada no escritório da coordenação de MSF no Paquistão – localizado em Islamabad, a capital. Eu trabalho em estreita colaboração com a Coordenadora da Equipe Médica, chefe das atividades médicas no país, e a Gerente de Farmácia da missão, que é responsável por todo o lado farmacêutico do trabalho de MSF no Paquistão.

Minhas principais funções enquanto trabalho no escritório são: projetar procedimentos operacionais padrão relacionados à farmácia com base nas diretrizes de MSF; acompanhar e atualizar protocolos clínicos – especialmente quando eles são relacionados a medicamentos; planejar e implementar uma estratégia de estoque, inclusive para cenários de emergência, como inundações, terremotos ou ondas de calor (todos comuns no Paquistão); e ser uma substituta para a Gerente de Farmácia no país sempre que e onde for necessário. E esta é a melhor parte do meu cargo, porque envolve visitas constantes aos projetos.

Recentemente, voltei da minha primeira visita ao terreno. Passei duas semanas em Karachi, a maior cidade do Paquistão (e 6a maior do mundo). Lá, MSF tem uma clínica localizada dentro da Colônia de Machar – uma área densamente povoada com pessoas de diferentes etnias, incluindo bengalis: imigrantes de Bangladesh que vieram para o Paquistão décadas atrás. Um grande número deles ainda têm acesso muito limitado aos cuidados públicos de saúde.

Na clínica, em parceria com uma organização local (não governamental), temos vários departamentos que prestam cuidados básicos de saúde, incluindo consultas ambulatoriais, estabilização e encaminhamentos para emergências, unidade de maternidade, atividades de promoção de saúde e saúde mental e um projeto de hepatite C – parte extremamente importante das atividades nesse projeto.

O Paquistão é o país com a segunda maior prevalência de hepatite C no mundo, ficando atrás apenas do Egito. A prevalência de hepatite C em Karachi foi estimada entre 5% e 10% da população. E Karachi, tendo um número tão grande de habitantes – e outros fatores de uma cidade grande que contribuem para uma maior disseminação do vírus – foi o ponto de entrada perfeito para um projeto focado nessa doença.

Embora eu tenha acompanhado muitas campanhas de conscientização sobre os medicamentos contra a hepatite C, esse projeto foi a minha primeira vez trabalhando com esses tipos de tratamentos, que são relativamente novos. Durante a minha visita, uma das minhas principais tarefas foi discutir o protocolo recentemente implementado para o tratamento de hepatite C com a médica responsável pelo departamento. MSF agora oferece os medicamentos de "primeira linha", recomendados pelos estudos mais recentes, e para um número maior de pacientes – nossa taxa de cura no projeto está chegando a cerca de 94%.

Garantir que cada paciente obtenha todos os medicamentos necessários durante todo o tratamento é da responsabilidade do departamento de farmácia. Enquanto eu estava na Colônia de Machar, juntamente com o Supervisor de Farmácia, recalculei nossos estoques de medicamentos de hepatite C, treinei-o para os novos protocolos e a nova ferramenta para estimar as necessidades que teremos no projeto agora em 2018, tentando garantir que toda a cadeia de suprimentos da farmácia esteja funcionando em sincronia.

Depois de duas semanas no projeto, voltei para Islamabad, não só com mais conhecimento sobre a hepatite C, sobre nosso projeto na Colônia de Machar e as atividades farmacêuticas locais, mas também extremamente tocada pela chance de trabalhar em algo que afeta a vida das pessoas de forma tão positiva.  Essa, com certeza, é a principal razão pela qual ingressei em MSF. Trabalhar de longe é parte do meu papel, mas nada supera a experiência de estar no terreno. E agora eu só tenho mais uma semana antes de visitar outro projeto: Timergara. Mal posso esperar por isso!
 

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