Rep. Democrática do Congo: primeiras impressões

Um (não tão…) novo caminho

Rep. Democrática do Congo: primeiras impressões

20/05/2016 – Depois de um longo percurso (e alguns imprevistos) de 13 dias em direção a Lulimba, na região de Kivu do Sul, na República Democrática do Congo, eu cheguei!

Sou Ananda, brasileira, 35 anos. Minha especialidade é desenvolvimento comunitário, tema com o qual venho trabalhando há cerca de 13 anos e pelo qual sou apaixonada. Desta vez, estou voltando para a área de ajuda humanitária e é nela que pretendo seguir desenvolvendo minha carreira. Também já trabalhei com educação, pesquisa acadêmica, comunicação social e licenciamento socioambiental.

Já estive em outros países africanos (Guiné e Angola) e esta é a minha 7a vez no continente, sempre a trabalho. Comecei há um mês a minha terceira participação de quatro meses em um projeto com Médicos Sem Fronteiras em Kivu do Sul. Também realizei um estudo para MSF no Brasil em 2013.

Fui muito bem recebida por aqui pelos colegas, nacionais e internacionais.

Sou consultora de Informação, Educação e Comunicação (IEC) de dois projetos, entretanto, estou focada apenas em um deles por enquanto. Aqui, MSF apoia um hospital desde 2011 (em Lulimba) e três centros de saúde na região (em Lulimba, Misisi e Lubondja), além de nove postos de atendimento (os centre de soins), que estão mais concentrados na luta contra a malária. Todas essas estruturas estão sob a responsabilidade do Escritório Central do Ministério da Saúde da RDC.

Comecei o projeto passando pouco mais de uma semana em Bukavu, a capital da região de Kivu do Sul. Lá tive diversas reuniões, de transferência de informações de meu cargo e da contextualização sobre o projeto.

As necessidades em relação à minha área aqui são muitas e se traduzem em promover a saúde junto à população. As carências em relação ao HIV/Aids são significativas e o projeto atribui uma atenção especial ao tema. Em Msisi, a maior cidade da região, MSF realiza um trabalho mais profundo com pacientes portadores de HIV e tuberculose dando apoio ao centro de saúde. Em paralelo, uma clínica chamada Jamaa Letu (‘nossa família’, em suaíli) com foco na saúde da mulher foi estabelecida em 2014 também com o apoio de MSF em Misisi, uma necessidade importante na região. Misisi é conhecida pela atividade minerária, o que reforça a circulação de população e, por consequência, o número de casos de HIV junto a grupos mais vulneráveis (mineiros, profissionais do sexo, dentre outros). Há também uma recorrência importante de casos de violência sexual e a dificuldade de abordar o tema junto à população.

Também estou desenvolvendo o plano de comunicação do projeto, que inclui o reforço das mensagens em relação à transferência da gestão do hospital em Lulimba de MSF para o Ministério da Saúde. Depois de quase cinco anos, a hora de realizar este repasse chegou, e nunca é fácil responder às perguntas da população sobre essa mudança de estratégia. Após a transferência da gestão do hospital, MSF continuará a apoiar essa estrutura de forma limitada e com foco especial nos pacientes mais vulneráveis. Os centros de saúde e os postos de atendimento seguem também com nosso apoio, inclusive com algumas previsões de expansão. É  importantíssimo que a comunicação em torno deste processo seja feita com cuidado e que envolva todas as esferas da população local, para que exista também a compreensão da natureza do trabalho humanitário, que volta as ações de MSF para contextos de maior urgência. A equipe IEC tem realizado uma série de reuniões, encontros e apresentações teatrais com diferentes grupos sociais, comunitários e também com as autoridades locais para reforçar este momento, esclarecer dúvidas e manter a comunicação aberta. A reputação de uma instituição, seja ela humanitária ou não, repousa em sua história e em sua postura junto à população local, nos momentos bons e de desafios.

Em um mês de projeto, posso dizer que a perspectiva de tempo é super intensa e que tenho, mais uma vez, a impressão de uma imersão. Entretanto, vivenciar esta segunda experiência de campo com Médicos Sem Fronteiras faz uma grande diferença em como lidar com este contexto todo novo: tem sido mais doce me adaptar culturalmente, entender o tempo do outro, morar e viver com os colegas de trabalho, respeitar os desafios de um novo contexto social e saber divertir-se também. Sempre podemos crescer com plenitude… É um aprendizado e, em seguida, uma escolha de cada um de nós.

Partilhar