SECA

As secas trazem desnutrição. Secas prolongadas levam a que não haja água suficiente para as pessoas e para os animais, nem irrigação suficiente dos campos de cultivo, pelo que os solos secam e as colheitas são menores.

A Nigéria, por exemplo, está extremamente vulnerável à crise climática, que agravou a insegurança alimentar através de secas, altas temperaturas e mudanças nos padrões das chuvas. A crise nutricional no Norte da Nigéria demonstra como conflito, pobreza e deslocações populacionais amplificam os impactos da crise climática na saúde e, por sua vez, como as alterações climáticas levam a maior escassez de alimentos e de recursos, com potencial para precipitar violência.

Já no Níger, as alterações climáticas agravaram a seca e reduziram as colheitas, ao mesmo tempo que o aumento populacional e de urbanização exerce pressão nas terras agrícolas, levando muitas pessoas a insegurança alimentar. Ao mesmo tempo, as mudanças nos padrões das chuvas causam alterações na transmissão da malária, que, combinada com a desnutrição, cria mais altas taxas de doença.

As vagas de calor resultaram em 2020 em que mais de 98 milhões de pessoas enfrentaram moderada a grave insegurança alimentar no mundo.

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SUBIDA DAS TEMPERATURAS

Temperaturas mais quentes e mudanças nos padrões das chuvas trazem mosquitos e, com eles, doenças. Insetos que transmitem doenças como a malária e dengue reproduzem-se mais rápido e sobrevivem em novos locais expondo mais pessoas ao contágio. E os períodos de contágio das doenças são mais prolongados.

Em Moçambique, hoje em dia, em algumas partes do país, como na província de Nampula, há risco de contrair malária durante todo o ano e não apenas durante a época das chuvas. Frequentemente assolado por ciclones, Moçambique enfrenta a destruição de casas e cultivos provocada pelos eventos climáticos extremos, e cheias e águas estagnadas que criam as condições para a reprodução dos mosquitos que transmitem a malária.

Nas Honduras os casos de dengue atingiram um pico substancial em 2022. Apesar de as epidemias de dengue serem comuns neste país, o aumento verificado está ligado à falta de controlo dos vectores durante a pandemia de COVID-19 e aos impactos das alterações climáticas na transmissão da doença.

Estima-se que as alterações climáticas causarão aproximadamente mais 15 milhões de casos de malária por ano, e que nas próximas décadas mais mil milhões de pessoas estarão exposta a dengue.

EVENTOS EXTREMOS 

Os eventos climáticos extremos deixam enormes rastos de destruição. Chuvas intensas, cheias e ciclones podem tornar-se mais frequentes e intensos, como aconteceu com o ciclone Freddy, que durou mais de cinco semanas, em fevereiro e março de 2023, e atravessou todo o oceano Índico Sul.

Em Madagáscar, atingiu uma área onde a população ainda está a sofrer os impactos dos ciclones de anos anteriores, com a destruição de 80 por cento dos cultivos, deixando as pessoas sem rendimentos. A região regista alarmantes taxas de desnutrição.

Em Moçambique, o Freddy assolou Quelimane, na província da Zambézia, tendo sido declarado um surto de cólera dias depois, afetando milhares de pessoas. A cólera propaga-se através da água e pode surgir ou agravar-se com eventos climáticos extremos.

No Sul do Malawi, a destruição foi vasta, com o Freddy a ser um dos eventos mais mortíferos da história climática do país. Deslizamentos de terras e cheias repentinas arrastaram casas, estradas e pontes, e milhares de pessoas ficaram sem acesso a estruturas de saúde.

Peritos em alterações climáticas alertam que os eventos extremos vão ser mais frequentes nesta região à medida que o planeta continua a aquecer.

PERDA DOS MEIOS DE  SUBSISTÊNCIA

A perda dos meios de subsistência força as pessoas a fugir. Por vezes, comunidades inteiras não têm outra escolha que não a de partir de casa e deixar para trás o pouco que lhes resta, devido a secas, cheias repentinas e a conflito prolongado.

A Somália, por exemplo, vive assolada por um ciclo de cheias, seca – a pior em 40 anos – a que se soma conflito e insegurança contínua. A população não tem sequer tempo para recuperar de uma crise para outra, forçando as pessoas a deslocarem-se em busca de ajuda: só a Baidoa, entre janeiro e agosto de 2022, chegaram mais de 200 000 pessoas deslocadas, juntando-se às 600 000 que já ali viviam. É agora a segunda maior população de deslocados na Somália, seguindo-se apenas a Mogadíscio.

Já no arquipélago de Kiribati, no Pacífico, a pressão das alterações climáticas sobre os meios de subsistência vem de todos os lados: subida do nível das águas do mar, a terra firme em erosão, aumento da salinização do solo e das fontes de água subterrâneas, assim como das temperaturas. Os impactos na agricultura são profundos, e, devido à sobrepopulação e ao clima, as atividades de pesca costeira deixarão em breve de satisfazer as necessidades alimentares da população.

A emergência climática agravará ainda mais as necessidades de saúde:

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