Cólera se espalha em diversas cidades da República Democrática do Congo

Mais de 1.700 casos da doença foram registrados por MSF em Lubumbashi, Bukama e Likasi, na província de Katanga

Desde o início de janeiro, Médicos Sem Fronteiras registrou mais de 1.700 casos de cólera nas cidades de Lubumbashi, Bukama e Likasi. Todas essas pessoas vieram de áreas mais pobres, onde precárias condições de higiene combinadas com alta densidade populacional contribuíram para a disseminação da doença altamente contagiosa.

"O que nós observamos em Lubumbashi se repetiu em Likasi", contou Bertrand Perrochet, coordenador da equipe de emergência de MSF. "As autoridades sanitárias não tomaram as medidas adequadas para evitar o surto. Em poucos dias, os principais hospitais de referência no distrito do Quênia em Lubumbashi e na cidade de Likasi estavam superlotados. Não havia camas suficientes, nem desinfecção contínua do edifício. Uma situação alarmante para uma doença contagiosa que mata 50% dos pacientes foi deixada sem tratamento".

A cólera é uma doença causada por uma bactéria que contamina a água, também podendo ser transmitida através das fezes e do vômito. Ela causa diarréia severa, ânsia de vômito e fraqueza generalizada. Se não for tratada, pode matar o paciente rapidamente de desidratação. O tratamento consiste em reidratação através de perfusão e soluções orais, contendo sais minerais e glicose.

A equipe de logística de MSF aperfeiçoou o centro de tratamento em Lubumbashi e simultâneamente construiu um novo em uma cidade vizinha de 1,3 milhões de pessoas.

"Graças à abertura desse segundo centro de tratamento, o número de pacientes tornou-se tratável nos dois lados", disse Perrochet. "Nesses últimos dias, 25 pacientes em média chegam aqui para serem tratados em cada centro de saúde".

Situação similar em Likasi

Em Likasi, uma cidade com mais de 300 mil pessoas, a segunda equipe de emergência enfrentou uma situação similar: um grande número de pacientes tratados precariamente e um hospital sem a infra-estrutura para atender as pessoas corretamente.

"Nas últimas três semanas, mais de 400 pacientes pediram para ser tratados no único centro de saúde que está funcionando em Likasi", acrescentou Perrochet.

"Quando nós chegamos, mais de 60 novos pacientes nos procuravam todos os dias em um centro cuja capacidade normal de atendimento era de 35 pessoas. Não havia espaço ou camas o suficiente. Água e as soluções de reidratação também estavam em falta. As condições de higiene eram catastróficas."

MSF ergueu uma estrutura temporária para tratar os pacientes e reduzir a pressão do hospital Likasi. As condições de higiene e o suprimento de água foram aprimorados consideravelmente. Desde quinta-feira, dia 24 de janeiro, a equipe de MSF tratou 170 pacientes.

A equipe de emergência de MSF na RDC responde quase durante todo o ano a surtos de cólera em Katanga. O fato que "essa doença de pobre" possa chegar ao coração da capital econômica do país, Lubumbashi, e a uma das maiores cidades da província, Likasi, ilustra, com ironia, a situação de emergência sanitária diária enfrentada pela RDC. Equipes de MSF continuam em alerta e prontos para adaptar a ação de intervenção em outros focos de cólera que venham a aparecer.

Quinze profissionais da equipe de emergência de MSF no Congo trabalham em Lubumbashi e Likasi. O grupo inclui médicos, enfermeiros, logísticos, agentes comunitários de saúde. Nas duas primeiras semanas de janeiro, MSF tratou pacientes com cólera em Bukama (a 400 km ao norte de Lubumbashi). O surto está sob controle e MSF passou suas atividades para o Ministério da Saúde.

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