Mianmar: após 26 anos, MSF transfere pacientes para o Programa Nacional de Aids

Por quase três décadas, MSF foi a principal provedora de tratamento para pacientes com HIV em Yangon

Mianmar: após 26 anos, MSF transfere pacientes para o Programa Nacional de Aids

Depois de 26 anos como um dos principais provedores de tratamento a pacientes com HIV em Mianmar, MSF agora entregou totalmente seu projeto em Yangon para o Programa Nacional de Aids (NAP), sob supervisão do Ministério da Saúde e Esportes (MoHS).

MSF continuará trabalhando com o NAP para padronizar modelos aprimorados de tratamento à medida que aumenta o atendimento descentralizado ao HIV. Os projetos de MSF em outras partes do país (estados de Shan, Kachin e Rakhine, bem como na região de Naga e Thaninthariyi) continuam suas operações normais e estão no processo de transferência de seus grupos de pacientes com HIV para o NAP. A descentralização está prevista para ser concluída em 2023.

MSF trabalha em Mianmar desde 1992 e foi a primeira organização humanitária no país. Em 1994, MSF começou a oferecer cuidados sobre HIV/Aids e educação sobre saúde em Yangon, bem como serviços de triagem e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis. Em 2002, MSF se tornou o primeiro provedor de tratamento ARV (antirretroviral) no país e, em um estágio, administrou o maior programa de tratamento de HIV de Mianmar. Juntas, as clínicas de MSF Insein e Thaketa trataram mais de 17 mil pacientes, muitos dos quais viajaram de outras partes do país para obter atendimento. Como parte do processo de transferência escalonada, a clínica Insein foi fechada em junho de 2019 e a clínica Thaketa, um ano depois.

A transferência foi possível porque o NAP de Mianmar está agora em posição de fornecer tratamento ARV para pessoas que vivem com HIV. MSF fez uma contribuição significativa para o processo de descentralização, com uma equipe dedicada continuando a apoiar esse processo. Conforme melhora na capacidade do NAP e do Programa Nacional de Tuberculose nos últimos anos, MSF transferiu pacientes aos cuidados do NAP para tratamento em clínicas mais próximas de suas casas. Esses modelos descentralizados de atendimento são vitais para garantir que os pacientes possam acessar – e aderir – a seu tratamento.

“Antes de MSF chegar e começar a oferecer tratamento para pacientes HIV-positivos, a vida era difícil”, diz Zarni Aung, que trabalhou no ‘grupo de pares’ na clínica Thaketa. “Pessoas vivendo com HIV não eram tratadas como membros da sociedade. As famílias nos rejeitavam e você não podia compartilhar comida na mesma mesa ou ir a uma casa de chá sem ser assediado e às vezes até atacado. Nas clínicas, não recebíamos apenas medicamentos, mas dignidade como ser humano”.

Para Soe Yadanar, que trabalhou como gerente de clínica dos projetos de HIV de MSF por 20 anos, a abordagem centrada na pessoa realizada por MSF foi o que tornou as clínicas tão especiais. “Pacientes que estavam muito doentes para pegar seus medicamentos eram incluídos em nosso modelo de atenção domiciliar e recebiam em casa remédios e outros itens de apoio, como artigos de higiene e alimentos”, afirma ela.

Os pacientes com HIV também receberam na mesma clínica tratamento para infecções oportunistas, como tuberculose (TB), TB multirresistente, pneumonia, hepatite C e meningite. Esse cuidado integrado tornou mais fácil para que mantivessem o tratamento, ajudando a prevenir a propagação do HIV e de outras doenças. MSF continua pressionando pela adoção de cuidados integrados por outros provedores de serviços relacionados ao HIV.

MSF também foi a primeira organização em Mianmar a incorporar atividades psicossociais ao tratamento do HIV e defendeu a integração dos serviços psicossociais ao modelo de atenção do NAP. Os pacientes receberam serviços de aconselhamento individual e em grupo nas fases pré e pós-diagnóstico, enquanto as reuniões de ‘grupos de pares’ proporcionaram espaços seguros para os pacientes com HIV / TB se conectarem, apoiarem e se relacionarem com outros pacientes. “Assim que fui diagnosticado, tudo que eu queria era morrer. Apenas o incentivo da equipe mudou minha mente e eu senti um verdadeiro carinho”, disse U Tint Tun, que foi paciente com HIV de MSF por mais de 15 anos.

Embora as clínicas de MSF em Yangon já tenham sido fechadas, os ‘grupos de pares’ tiveram tanto sucesso que os próprios pacientes começaram grupos independentes. “As atividades psicossociais ajudaram muitos pacientes a recuperar a força mental e a acreditar em si mesmos, a apoiar uns aos outros e a se tornarem membros ativos e orgulhosos de suas respectivas comunidades”, avalia Zarni Aung.
Ko Kyaw Soe Oo foi o último paciente a receber tratamento na clínica Thaketa. Motorista de táxi, é paciente de MSF desde 2011. “Todos os funcionários da clínica são como minha família, a começar pela recepcionista. Eles são os salvadores da minha vida e serei eternamente grato.”

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