Nigéria: distribuição de alimentos, uma atividade pouco usual para MSF

A quantidade de pessoas internamente deslocadas e fatores climáticos agravaram a crise nutricional na cidade de Maiduguri em 2016

Nigéria: distribuição de alimentos, uma atividade pouco usual para MSF

Nos últimos três meses, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) distribuiu 810 toneladas de alimentos em Maiduguri, capital do estado de Borno, no nordeste da Nigéria. A quantidade foi suficiente para alimentar 26 mil famílias por duas semanas.

“Como organização médica, oferecer alimento não costuma ser a função de MSF”, diz Phillippe Le Vaillant, coordenador-geral de MSF. “Mas há milhares de pessoas sofrendo com grandes necessidades. As demais organizações não tinham tomado nenhuma atitude até então, então fomos obrigados a preencher essa lacuna.”

Cerca de um milhão de pessoas que fugiram da violência e da insegurança no estado de Borno, relacionadas ao conflito entre grupos armados e o exército, vivem agora em Maiduguri, maior cidade do nordeste da Nigéria.

Apesar do aumento de ações de assistência humanitária nos últimos meses, milhares de pessoas que vivem na cidade seguem precisando de alimentos, água e cuidados médicos.

Frequentemente, os mais vulneráveis são os que vivem em acampamentos informais. Esses locais não são reconhecidos pelas autoridades e acabam recebendo pouca ou nenhuma assistência, apesar de milhares de pessoas viverem ali.

“Muitas pessoas chegaram a Maiduguri sem nada além das roupas que carregam nas costas”, diz Phillippe Le Vaillant. “Eles não têm quase nenhum meio de fazer dinheiro, em 12 meses o custo dos alimentos mais que dobrou, e os anos de violência e insegurança levaram a capacidade de sobrevivência da população ao seu limite.”

Além de manter duas grandes instalações de saúde e dois centros de nutrição terapêutica com regime de internação para crianças gravemente desnutridas, MSF tem distribuído entre 80 mil e 100 mil litros de água por dia em Maiduguri. Essa é uma medida de emergência para oferecer à população água potável até que alguma solução de longo prazo seja posta em prática. MSF também está construindo latrinas e restaurando poços em campos de refugiados no centro da cidade.

A necessidade de ajuda alimentar deve aumentar a partir de março, quando o estoque da parca colheita obtida em 2016 começa a acabar, marcando o início do período anual de escassez. Além de aliviar a fome, a nutrição adequada oferece às pessoas mais chances de combater infecções como malária e diarreia, que são mais prevalecentes durante a estação chuvosa, que começa em junho.

“Há uma ligação mortal entre a escassez e a estação chuvosa”, diz o dr. Javed Baba Ali, médico de MSF. “Conforme a imunidade das pessoas se compromete devido à baixa de nutrientes no organismo, o número de infecções aumenta. Isso é especialmente difícil para as crianças e pode deixá-las muito vulneráveis a desenvolver complicações sérias em decorrência da desnutrição.”

De junho a outubro de 2016, esse círculo vicioso teve consequências mortais para centenas de pacientes de MSF somente na cidade de Maiduguri. Em agosto, 75 das 369 crianças admitidas no centro de nutrição terapêutica morreram. Em novembro, as chuvas diminuíram e as condições médicas dos pacientes se tornaram menos complicadas: 21 das 250 crianças admitidas no mesmo centro vieram a óbito. 

“Durante o verão, estávamos sobrecarregados pelo número de crianças desnutridas com complicações graves que precisavam de tratamento”, diz o dr. Javed. “Ainda que os fatores sazonais tenham nos dado um descanso agora, isso não significa que a emergência acabou. Sem um aumento significativo de organizações locais e internacionais de assistência, a situação pode estar até pior dentro de um ano, já que milhões de pessoas continuam deslocadas em decorrência do conflito.”

No estado de Borno, MSF mantém 11 instalações médicas permanentes, e suas equipes médicas fazem visitas regulares a outras cinco centros de saúde. MSF está profundamente preocupada com as centenas de milhares de pessoas que podem estar vivendo em regiões às quais agências de assistência humanitária não têm acesso garantido, sem alimento, água ou qualquer cuidado de saúde.

Leia mais sobre o trabalho de MSF na Nigéria aqui.

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