Nigéria: Intoxicação por chumbo coloca crianças em risco de vida

MSF trata pacientes vulneráveis nos dois vilarejos mais afetados e planeja expandir atividades

No início deste ano, casos de envenenamento por chumbo de crianças e adultos foram confirmados em aldeias no estado de Zamfara, noroeste da Nigéria. Desde o início de junho, Médicos Sem Fronteiras, em colaboração com o Ministério da Saúde, tem providenciado tratamento de emergência para crianças abaixo de cinco anos, pois elas são mais vulneráveis ao envenenamento.

Os casos são consequência da prática de extração de ouro em pequena escala por moradores locais e suas famílias, realizada em minérios que contém chumbo. O processamento dos minérios envolve a trituração e secagem, muitas vezes realizadas dentro de barracas onde vivem as famílias, o que resulta na contaminação do solo nas casas da aldeia, expondo as crianças aos riscos de envenenamento por chumbo.

Com base nas investigações realizadas até agora pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), pelo Ministério da Saúde, pela OMS e por MSF é estimado que toda a população de sete vilas contaminadas possa estar sendo afetada agora: aproximadamente 10 mil pessoas, dentre as quais 2 mil crianças abaixo de cinco anos, que correm risco de morte ou de doenças graves. Um nível elevado de intoxicação por chumbo é fatal para crianças pequenas e também pode matar adolescentes e adultos. O envenenamento pode causar ainda danos cerebrais, infertilidade, insuficiência renal, aborto e outras complicações de saúde.

Atualmente MSF está oferecendo terapia para os pacientes mais vulneráveis das duas vilas mais afetadas. Cem crianças e 28 mães em fase de amamentação estão recebendo tratamento em duas unidades especialmente estabelecidas dentro dos hospitais de Bukkuyum e Anka, na província de Zamfara. Além disso, mais de 40 crianças já foram tratadas e receberam alta desses centros. Os resultados iniciais dessa primeira rodada de tratamento são encorajadores, mas muito trabalho ainda precisa ser feito.

“Tratamento médico é só uma parte da solução que MSF pode providenciar”, explica o chefe de Missão de MSF Gautam Chatteriee, “A perda dos meios de subsistência dessas famílias também deve ser reconsiderada pelas autoridades, caso contrário, as pessoas vão continuar a arriscar a saúde de suas famílias a fim de ganhar a vida.”

Pacientes com alta hospitalar devem retornar a um ambiente familiar que esteja livre de contaminação ou eles podem apresentar o mesmo quadro novamente. Por esse motivo, a limpeza de qualquer terreno infectado é fundamental para as atividades de tratamento. A organização ambiental Terra-Graphics/Blacksmith foundation está trabalhando com autoridades estaduais e locais para “descontaminar” as vilas de Yargalma e Dareta, desse modo a terapia oferecida aos pacientes se torna mais significativa e as pessoas não adoecem de novo logo em seguida.

Um elemento importante para garantir que as crianças recebam tratamento é a mobilização social e atividades de conscientização. Todos os membros da comunidade precisam estar informados sobre a contaminação e sobre modos de tratar e medicar, inclusive modos de evitar a re-contaminação. MSF tem trabalhado com as autoridades locais e lideres comunitários em esforços de divulgação para encorajar famílias a levarem seus filhos para serem tratados.

Diante de uma crise tão grave, MSF planeja expandir o tratamento para incluir crianças abaixo de cinco anos, que vivem nas outras cinco vilas também contaminadas. Entretanto, isso só será possível se a limpeza e a remediação também forem realizadas nesses locais.

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