Progresso no tratamento da AIDS ainda é frágil, diz relatório da organização Médicos Sem Fronteiras

Principais países doadores se posicionam contra acordos com metas ambiciosas para o tratamento da Aids na Cúpula das Nações Unidas

Um relatório divulgado hoje pela organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) revelou que muitos dos países que mais sofrem com a epidemia de Aids estão melhorando o tratamento de HIV para reduzir os índices de mortes e doenças – mas a falta de financiamento impede que muitos realizem importantes mudanças. Esse frágil progresso necessita de apoio constante, mas os dois principais financiadores de ações relacionadas à Aids, os Estados Unidos e o Reino Unido, estão se opondo a metas críticas para o tratamento do HIV às vésperas da Cúpula de Aids, que será realizada  em Nova York no mês que vem. O encontro acontece no momento em que evidências cada vez maiores provam que o tratamento da Aids também pode prevenir novas infecções.

“Nosso relatório mostra que há uma clara mobilização de vários países para dar uma resposta ambiciosa à Aids, que já mudaram as políticas vigentes para colocar as pessoas em tratamento mais cedo e com medicamentos melhores”, disse o Dr. Tido Von Schoen-Angerer, diretor executivo da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais (CAME) de MSF. “Mas, devido a restrições de financiamento, alguns deles não são capazes de colocar essas novas políticas em prática, o que mostra a fragilidade deste progresso”.

O novo relatório de MSF, “Um passo à frente: Lições para os próximos dez anos de resposta à Aids, apresenta um retrato da resposta à epidemia hoje, observando as diretrizes utilizadas em 16 países que, juntos, representam 52% do total de pacientes infectados com o HIV. Entre os 16 países, 12 mudaram seus protocolos para oferecer tratamento para os pacientes a um estágio menos avançado da doença, e 14 passaram a oferecer medicamentos melhor tolerados que os usados anteriormente. Ambas as políticas fazem parte das últimas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Muitos países, como o Malaui e o Zimbábue, por exemplo, planejaram a implementação de protocolos de tratamento melhores, mas não foram capazes de realizar a mudança devido a restrição de financiamento. Isto significa que os pacientes continuam recebendo medicamentos inferiores, ou que essas pessoas só serão tratadas depois que seus sistemas imunológicos já estiverem enfraquecidos.

No começo de junho, os governos vão se encontrar nas Nações Unidas para definir um programa de resposta à Aids para os próximos dez anos. O Secretário-Geral Ban Ki-Moon pediu que os países apóiem a meta de tratar pelo menos 13 milhões de pessoas até o ano de 2015 –estima-se até que poderiam ser mais de 15 milhões. Mas em reuniões fechadas, os Estados Unidos e alguns governos europeus, como o Reino Unido, manifestaram sua oposição em se comprometer com essa meta. O comprometimento de todos os países com uma meta de tratamento é fundamental para a organização de uma resposta global que impeça o avanço da epidemia.

“Hoje, dez milhões de pessoas precisam de tratamento urgente”, disse o Dr. Von Schoen-Angerer. “Nós aprendemos muito na última década sobre como levar tratamento ao maior número possível de pessoas o mais rápido possível, Com as políticas certas, poderemos triplicar o número de pessoas que estão sendo tratadas sem ter que triplicar os custos. Mas se importantes governos financiadores não apoiarem uma meta de tratamento, eles estão mandando uma mensagem clara de que não estão comprometidos a enfrentar esta pandemia”.

Evidências científicas recentes também dão suporte à proposta de aumentar a oferta de tratamento mais cedo, já que isso ajuda a diminuir a propagação do vírus, pois diminui a carga viral no sangue das pessoas precocemente. As pessoas cuja carga viral foi reduzida a níveis indetectáveis têm 92% menos chance de transmitir o vírus.
“Nós sabemos que o tratamento de HIV salva vidas, reduz a incidência de doenças e reduz dramaticamente o risco de transmissão do vírus”, disse a Dra. Marcella Tomassi, que trabalha com MSF na Suazilândia, país com 26% da população com HIV. “Agora, mais do que nunca, os governos precisam renovar seu desejo de lutar contra a epidemia e tratar as pessoas”.

MSF começou a oferecer tratamento anti-retroviral (ART) a pessoas que vivem com HIV/Aids em 2000, e hoje trata mais de 170 mil pessoas com ART em 19 países na África e na Ásia.

Partilhar