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Por Sabrina Rubli, coordenadora de promoção de saúde de MSF em Goma, na República Democrática do Congo
“O novo coronavírus é só mais uma maneira de o governo nos matar, já que o Ebola não funcionou.”
“Todas as pessoas brancas estão infectadas com o novo coronavírus.”
“É mais uma forma de as ONGs e o governo ganharem dinheiro”.
“Não podemos lavar as mãos. Nós não temos água. Nós não temos sabão. Como vamos nos proteger?”
“Posso pegar o novo coronavírus andando de moto?”
“O vírus não afeta africanos, apenas europeus”.
Escrevo todas as perguntas e os pensamentos das pessoas no meu caderno e tento responder da melhor forma possível às suas preocupações e perguntas. Quando não sei responder, lhes prometo que vou encontrar uma resposta e retornar em breve.
Estou trabalhando em Goma como coordenadora de promoção de saúde e minha equipe e eu estamos realizando uma sessão informativa para um grupo de agentes comunitários de saúde voluntários. Estamos sentados em uma sala de aula vazia, nos distanciando o máximo possível. Estamos em meados de março e a COVID-19 já chegou à República Democrática do Congo (RDC). As pessoas estão cheias de perguntas e preocupações e, como equipe de promoção de saúde, é nosso trabalho dialogar com a comunidade, fornecer informações precisas e, o mais importante, ouvi-las, escutar suas preocupações.
A chegada da COVID-19 à RDC ocorreu no momento em que a epidemia de Ebola, que matou 2.200 pessoas desde 2018, estava prestes a ter seu fim declarado. Mas mais casos surgiram no país no dia 10 de abril. Para muitos congoleses, particularmente aqueles que vivem nas áreas afetadas pelo Ebola, o momento é suspeito – seria a COVID-19 mais uma doença criada para matá-los? É uma tática política? “É mais um jeito de as ONGs e o governo ganharem dinheiro?”
É compreensível que as pessoas sejam sensíveis aos boatos ou desconfiem. O termo “negócios do Ebola” tornou-se comum depois que as pessoas viram enormes quantias de dinheiro e recursos fluindo para sua região exclusivamente para a resposta ao Ebola. No entanto, o Ebola era apenas uma entre muitas emergências: o país também lida com o pior surto de sarampo do mundo, malária, conflitos e deslocamentos em andamento. Isso levou a uma percepção entre muitas pessoas de que o Ebola era um negócio para ganhar dinheiro, enquanto outras necessidades urgentes da população eram ignoradas.
Administrar esses boatos e suspeitas se tornou uma parte importante do meu trabalho. A disseminação de informações falsas é perigosa para congoleses e ONGs. Subestimar a gravidade e a realidade da COVID-19, levando à percepção de que se trata de uma tática política criada pelo homem, fará com que as pessoas não sigam as medidas de prevenção estabelecidas pelas autoridades, levando a uma maior mortalidade e potencial reação e violência.
Ao abordar esses boatos é preciso um equilíbrio cuidadoso entre ouvir opiniões e respeitar crenças e gentilmente corrigir imprecisões. Por meio dessas conversas com a comunidade, aprendemos que as principais preocupações têm menos a ver com contrair o vírus e mais com a ameaça de um bloqueio imposto pelo governo e a falta de capacidade do sistema de saúde em lidar com a emergência.
“Muitas pessoas estão morrendo na Itália, onde tem bons hospitais. Como vamos lidar com isso aqui se não há hospitais?”
“Não podemos ficar em casa, vamos morrer de fome.”
Seus medos são válidos – a realidade que os congoleses estão enfrentando é grave e com possíveis consequências mortais que vão além do vírus.
Nossos diálogos com os membros da comunidade também nos conscientizaram do crescente medo dos centros de saúde – as pessoas evitam ir até eles porque têm medo de pegar a COVID-19 e, do outro lado, os profissionais de saúde têm medo de tratar os pacientes que chegam.
“Ainda posso ir ao hospital se tiver malária?”
“Serei infectado com o novo coronavírus se for ao hospital onde há um caso confirmado?”
“É seguro tocar nos corpos de pessoas que morreram de COVID-19?”
Quando entendemos do que a população tem medo e quais são os boatos disseminados, podemos desenvolver uma estratégia de conscientização que aborda as nuances e realidades de cada área em que MSF está trabalhando. É por isso que as discussões e as sessões informativas são tão importantes, especialmente durante a atual pandemia.
A COVID-19 é uma crise complexa no mundo todo, mas em países como a RDC os desafios são exacerbados pela extrema pobreza, instabilidade, conflito e um sistema de saúde disfuncional. É um país onde boatos se espalham com facilidade, com conflitos armados e populações em constante deslocamento para escapar das últimas ondas de violência de grupos armados.
“Como podemos nos proteger quando chegam novos deslocados internos constantemente? Como sabemos de onde eles vêm?”
“Não posso mais comprar comida o suficiente para a minha família, já que o preço subiu.”
Muitas pessoas em Goma estão assustadas. Pessoas de todos os lugares estão assustadas. Ninguém sabe o que os próximos meses podem trazer. É também por isso que a promoção de saúde é tão importante durante esse período – as pessoas precisam de respostas para suas perguntas de uma fonte em que confiam. As pessoas precisam que seus medos sejam ouvidos e acalmados. As pessoas precisam ter acesso a informações precisas. Durante tempos tão incertos como esse, a promoção de saúde se torna uma atividade fundamental. É como nos conectamos e nos engajamos com as pessoas, como sabemos sobre seus medos, crenças e necessidades. O envolvimento da comunidade informa o tipo de resposta necessária e ajuda MSF a desenvolver atividades eficazes e apropriadas para apoiar a população.
E, assim, nossas equipes de promoção de saúde continuarão indo até as comunidades, contanto que a situação permita, escute, faça perguntas e dê voz à comunidade e garanta que a população que servimos esteja no centro da resposta de MSF.
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