Um passo em frente para a inclusão da noma na lista da OMS de doenças tropicais negligenciadas

A MSF tem vindo a prestar apoio ao Ministério da Saúde da Nigéria no Hospital de Noma em Sokoto, desde 2014, providenciado cirurgias reconstrutivas, acompanhamento nutricional e de saúde mental e atividades de divulgação e sensibilização.
© Claire Jeantet-Fabrice Caterini/INEDIZ

A noma, uma doença pouco conhecida mas que coloca a vida em risco, está um passo mais perto de ser reconhecida como doença tropical negligenciada (DTN) depois de a organização médico-internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) ter apoiado o pedido feito pela Nigéria à Organização Mundial de Saúde (OMS) para a adicionar à lista de DTN.

Ao fim de três anos de uma campanha internacional de advogacia e comunicação, um representante do Ministério Federal da Saúde da Nigéria partilhou um dossier sobre a noma com os escritórios da OMS em Abuja (na Nigéria), Brazzaville (no Congo) e Genebra (na Suíça), em janeiro de 2023. A MSF apoiou a Nigéria na finalização deste dossier e na interação com os copatrocinadores, em que se incluem 30 países de cinco regiões da Organização Mundial de Saúde.

A noma é uma doença evitável e curável que afeta pessoas a viver em pobreza, especialmente crianças, e está associada a desnutrição e a condições de vida pouco higiénicas. Afeta maioritariamente pessoas em comunidades isoladas que têm dificuldades de acesso a cuidados de saúde e a vacinação.

Esta doença começa a manifestar-se com uma inflamação nas gengivas, mas espalha-se rapidamente, destruindo os tecidos e os ossos faciais. Se não forem tratadas, até 90 por cento das pessoas afetadas irá morrer, geralmente em pouco tempo. Quem sobrevive fica com graves desfigurações faciais que podem fazer com que seja difícil comer, falar, ver ou respirar. As pessoas sobreviventes muitas vezes enfrentam estigma devido ao desfiguramento.

“Não existe outra doença infeciosa que mate tantas pessoas, tão rápido,” refere o conselheiro médico da MSF para a Nigéria, Mark Sherlock. “As pessoas morrem de noma por causa do conhecimento limitado acerca da doença e de como detetá-la. São precisos mais esforços para detetar os casos cedo e identificar sobreviventes.”

O pedido de inclusão da noma na lista da Organização Mundial de Saúde está em linha com a resolução de saúde oral adotada em 2021 na 74.ª Assembleia Mundial da Saúde, na qual é recomendado que “a noma deveria ser considerada para inclusão no portfólio de doenças tropicais negligenciadas, assim que a lista for revista em 2023.”

O Grupo Consultivo Estratégico e Técnico da OMS para as Doenças Tropicais Negligenciadas define uma doença tropical negligenciada como uma doença que afeta desproporcionalmente populações a viver em pobreza, causando morbilidade e mortalidade significativas, no que se inclui o estigma e a discriminação, e justificando uma resposta global; que afeta principalmente populações que vivem em áreas tropicais e subtropicais; que é imediatamente passível de um amplo controlo, eliminação ou erradicação através da aplicação de uma ou mais das cinco estratégias de saúde pública adotadas pelo Departamento para o Controlo de Doenças Tropicais Negligenciadas; que é relativamente negligenciada pela investigação.

A Organização Mundial de Saúde vai tomar a decisão final acerca de adicionar ou não a noma à sua lista de doenças tropicais negligenciadas durante um dos encontros bianuais em 2023.

A inclusão da noma na lista chamaria à atenção para a mais negligenciada das doenças negligenciadas, facilitando a integração das atividades de tratamento e prevenção desta doença nos programas de saúde pública já existentes e a alocaçao de recursos que são muito necessários,” frisa Mark Sherlock. “Queremos que as crianças sejam rastreadas nos países onde a noma é endémica ao primeiro sinal de sintomas, quando ainda é possível salvar vidas. A noma é uma doença que já não devia existir.”

 

A MSF tem vindo a prestar apoio ao Ministério da Saúde da Nigéria no Hospital de Noma em Sokoto, desde 2014, providenciado cirurgias reconstrutivas, acompanhamento nutricional e de saúde mental e atividades de divulgação e sensibilização. Desde 2014, as equipas de cirurgia da MSF fizeram 1 066 cirurgias em 717 pacientes.Todos os serviços no Hospital de Noma em Sokoto são providenciados gratuitamente.

 

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