Desafiar o estigma social a tempo inteiro em Moçambique: as histórias de Olga e Valério

Olga, segurança, e Valério, auxiliar de limpeza, são profissionais da MSF que desafiam a tempo inteiro o estigma social associado aos papéis de género

© MSF/Lourino Pelembe

Diversidade, equidade e inclusão: três pilares dos projetos da Médicos Sem Fronteiras (MSF), para fornecer apoio a todas as pessoas, independentemente de quem são e de onde vêm. Olga Sabonete e Valério Matos são dois profissionais da MSF que viram nestes princípios uma oportunidade para desafiar o estigma social associado aos papéis de género.

 

Olga Sabonete

Natural da província de Nampula, no Norte de Moçambique, Olga trabalha com a MSF desde o início de 2022 no projeto de Saúde Planetária na sua província natal. É a única segurança no projeto, uma função que é maioritariamente desempenhada por homens – lembra que dos 14 candidatos pré selecionados para a vaga de segurança, apenas dois eram mulheres. “Quando me ligaram a informar que tinha sido selecionada para a posição, saltei de felicidade e satisfação, porque era o que mais queria. Não era fácil”, recorda Olga.

Moçambique - DEI
Olga no portão do armazém da MSF em Nampula, onde anota cuidadosamente todos os artigos que entram e saem do espaço. © MSF/Lourino Pelembe

Olga, uma mãe determinada, quer provar [e prova] que as mulheres também podem trabalhar como seguranças ou vigilantes. No dia a dia, é responsável pela implementação das normas de segurança para profissionais e equipamentos e anota todas as entradas e saídas dos escritórios e armazéns da instalação, tanto de pessoas como de artigos.

“Estou muito feliz por trabalhar com a MSF, porque tenho tido a oportunidade de aprender imensas coisas e interagir com diferentes pessoas de todas as partes do mundo, cada uma com culturas diferentes, sempre dispostas a partilhar um pouco do seu passado”, sublinha. “Uma das coisas que mais me impressiona é o respeito mútuo dentro da equipa, que é uma marca do ambiente de trabalho no projeto”, acrescenta.

Olga diz que, através da disciplina e do esforço que concentra no trabalho, ganhou o respeito e admiração dos colegas.

 

Quando me ligaram a informar que tinha sido selecionada para a posição, saltei de felicidade e satisfação, porque era o que mais queria. Não era fácil” – Olga Sabonete, segurança no projeto da MSF

 

É a mais velha de sete irmãos e a família dependia de uma pequena quinta e da venda dos excedentes das colheitas. Os constragimentos financeiros que Olga enfrentou durante a infância impediram-na de realizar o sonho de tornar-se enfermeira, por isso teve de alterar os planos: está agora a apoiar o sonho do filho mais velho, que está atualmente a licenciar-se em medicina geral em Moçambique.

 

Valério Matos

Moçambique - DEI - Valério
Valério na cozinha do escritório da MSF em Nampula. © MSF/Lourino Pelembe

Valério também trabalha no projeto de Saúde Planetária em Nampula. É auxiliar de limpeza e diz que desenvolveu uma paixão pelo trabalho que desempenha, apesar de poder ser visto como uma função invisível. “Gosto do meu trabalho, porque, através dele, consigo criar um ambiente acolhedor e limpo para todos poderem desempenhar as tarefas que têm”, sublinha.

Ao mesmo tempo, Valério desafia o estigma social e os papéis de género associados às tarefas de limpeza, que são geralmente desempenhadas por mulheres na cidade onde vive, o que leva a um subestimação daquilo que os homens também conseguem fazer nesta área.

“Normalmente, sou o primeiro a chegar ao escritório. Assim que chego, a minha tarefa é preparar as condições necessárias para as equipas irem para o terreno, garantindo que tomam, no mínimo, o seu café.”

Ao crescer com oito irmãos e uma irmã, Valério enfrentou imensas dificuldades financeiras, devido à morte do pai quando tinha apenas 17 anos. “Por causa disso, tive de começar a trabalhar só para conseguir comer na escola, e muitas vezes chegava tarde às aulas, devido a esses trabalhos”, recorda.

Estes constrangimentos financeiros adiaram temporariamente o sonho de se licenciar em engenharia civil. “O meu sonho não morreu; estou só à espera de uma oportunidade”, conclui Valério.

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